Cardeal Orani Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27)
Celebramos neste domingo o vigésimo terceiro do Tempo Comum e, pouco a pouco, vamos nos aproximando do final do ano litúrgico. O Tempo Comum se encerra no trigésimo quarto domingo e hoje estamos no vigésimo terceiro. Estamos no Tempo da Criação desde 1º de setembro até o dia 4 de outubro com o tema: “Sementes de Paz e Esperança. Este é também um mês especial para a Igreja: o Mês da Bíblia com o tema da Carta dos Romanos e o lema: “A esperança não decepciona”. Que ao longo deste tempo possamos meditar a Palavra de Deus todos os dias. Não a deixemos apenas para a missa dominical; transmitamos o que ela contém aos demais, lancemos a semente para que produza frutos.
No dia 30 de setembro celebramos São Jerônimo, tradutor da Bíblia do grego e do hebraico para o latim. Que, por sua intercessão e iluminados pelo Espírito Santo como ele o foi, possamos interpretar as Sagradas Escrituras. Sejamos discípulos e missionários de Jesus, anunciando a Palavra de Deus em todos os cantos desta terra.
Meus irmãos, neste domingo, dia 7 de setembro, celebramos a Independência do Brasil. Rezemos pela nossa pátria, para que todos os cidadãos sejam tratados com dignidade e tenham direito à educação, saúde, emprego e moradia. Que o Brasil seja uma terra boa para todos, onde cada um queira viver. Rezemos ainda pelo fim da violência em nosso país, para que tenhamos paz e segurança, e para que o choro e a dor deem lugar à alegria e ao sorriso.
Neste final de semana temos também em nossa Arquidiocese a antiga tradição das Assembleias dos Círculos Bíblicos por vicariato. Tempo de aprofundamento do tema do mês e animação para multiplicar ainda mais essa presença capilar da igreja em nosso território arquidiocesano através das paróquias com os círculos bíblicos ou grupos de reflexão.
Neste domingo Jesus nos convida a tomar a cruz de cada dia e segui-lo. Uma das formas de carregar essa cruz é meditando a Palavra de Deus, que nos dá força e sabedoria para enfrentarmos as dificuldades cotidianas. Ela também nos direciona no seguimento de Jesus. Sejamos, portanto, discípulos e missionários, amantes da Palavra de Deus.
A primeira leitura deste domingo é do Livro da Sabedoria (Sb 9, 13-18). Esse trecho nos mostra que o ser humano não é capaz de conhecer, por si só, os desígnios de Deus, pois seus pensamentos são frágeis e incertos. Já é difícil desvendar o que está na terra; muito mais difícil é conhecer o que está no céu. Apenas pelo dom do Espírito Santo concedido por Deus àqueles que Ele escolhe é possível penetrar em seus mistérios.
Muitas vezes queremos saber mais do que Deus, exigimos respostas imediatas ou nos perguntamos por que certas coisas acontecem conosco. É preciso nos colocar em oração, pedir luz ao Espírito Santo e confiar na graça de Deus. No tempo certo Ele age em nossa vida — nunca para o mal, pois sempre quer o nosso bem. Sustentados pela Palavra, torna-se mais fácil compreender os desígnios divinos.
O salmo responsorial é o 89 (90), cujo refrão proclama: “Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós”. Ele responde à primeira leitura, reafirmando que o Senhor é nosso abrigo e nada acontece sem sua vontade. Sempre foi auxílio em nossas aflições; por isso, confiemos no Senhor.
A segunda leitura, da Carta de São Paulo a Filêmon (Fm 9-10.12-17), mostra o apóstolo já idoso e preso, escrevendo para interceder por Onésimo, seu filho espiritual gerado na prisão. Paulo pede que Filêmon o acolha como ao próprio apóstolo, para que Onésimo não volte a ser escravo, mas viva como irmão na fé.
O Evangelho (Lc 14, 25-33) mostra que, embora muitos seguissem Jesus, nem todos o faziam por amor a Ele, mas por causa dos milagres que realizava. Por isso, Jesus ensina que segui-lo exige decisão radical: não se pode dizer que é seu discípulo e ter outras prioridades. Ele deve estar sempre em primeiro lugar.
O mesmo vale para nós hoje. Especialmente aos domingos, precisamos colocar Deus em primeiro lugar. O domingo é dia consagrado ao Senhor: primeiro participemos da Santa Missa, depois descansemos.
Jesus também nos pede que carreguemos nossa cruz e caminhemos atrás dele, o Mestre. Quem não o faz, não pode ser seu discípulo. Isso retoma o sentido da primeira leitura: muitas vezes queremos resolver as coisas à nossa maneira, mas é Jesus quem deve ir à frente, conduzindo-nos à melhor solução.
Neste Mês da Bíblia, apeguemo-nos à Palavra de Deus e peçamos a luz do Espírito Santo para discernir nossos caminhos. Deixemos Jesus ir à frente e nos conduzir. Meditemos sobre o que colocamos como prioridade em nossa vida, e façamos com que Ele seja sempre a nossa maior prioridade.
