Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

No aspecto religioso, podemos citar a distância entre Lázaro e o homem rico do Evangelho (cf. Lc 16, 19ss). O primeiro, tem nome e o segundo, anônimo e sem identidade, querendo ficar distante de Lázaro, um pobre e excluído do contexto social. Entre os dois, por causa da posição vivida na sociedade, era quase impossível tramar relações de convivência, que proporcionasse vida fraterna.

As diferenças são muito saudáveis, porque revelam o valor da diversidade cultural entre as pessoas, evidenciando os dons que cada um tem. Deixam de ser totalmente saudáveis quando criam e provocam abismos no âmbito social e econômico, formando níveis de posições desumanas, quando uns passam a excluir outros. Lázaro não podia nem comer das sobras das fartas mesas do homem rico.

O mundo das mentiras e fraudes é formado por inúmeros abismos, provocadores de medo na população. O profeta Amós já condenava aqueles que enganavam o povo nas diversas formas de corrupção. Ele nomeia os chefes políticos e todos aqueles que agem por interesses pessoais e não em vista do bem do povo, os grandes poderosos, a todos que dormem em “camas de marfim” (Am 6,4).

Diante desses abismos desumanos, o profeta apresenta o juízo de Deus: “eles irão para o desterro, na primeira fila, e o bando dos gozadores será desfeito” (Am 6,7). É insensibilidade não olhar para o ensinamento da Boa Nova de Jesus, que incentiva a prática da solidariedade e do amor fraterno, condição essencial para superar os grandes abismos que perpassam através da história do povo.

Os desafios de hoje são preocupantes. É quase incalculável o número de situações que agridem a vida. Quando dizem que, de nove em nove minutos é tomado violentamente um celular em São Paulo, sentimos o tamanho do abismo causado nas condições de direito e liberdade das pessoas. O medo generalizado tira o conforto de todos e a vida se torna um peso difícil para ser carregado.

A opção egoísta detona a dignidade da pessoa, porque é caminho fatal de abismos. Quanto a isto, a Palavra de Deus é bem clara, quando diz que o homem rico e o pobre Lázaro tiveram o mesmo fim, ambos morreram e foram sepultados na mesma terra, mas não o mesmo destino. Lázaro foi para o seio de Abraão e o homem rico para os tormentos eternos (cf. Lc 16,22ss).

 

 

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