Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

Estamos celebrando o XXVI domingo do Tempo Comum. Neste domingo, no Brasil, celebramos o Dia da Bíblia. Deixemo-nos iluminar pela Palavra de Deus. A Palavra de Deus ilumina, corrige e abre caminho para nossa Salvação. Deixemos de lado as celebrações lindas e melosas e cultivemos a Palavra de Deus, luminosa e salgada que corrige nossos defeitos e nossa vida superficial e descomprometida com a vida espiritual e eterna! A Palavra de Deus é luz, é sal e é certeza do amor de nosso Deus! 

Na primeira leitura – Am 6,1a-4-7 – o profeta Amós era pastor e agricultor, mas conhecia bem as malícias e a vida fácil dos gozadores da Samaria. Anuncia-lhes o fim de sua vida cômoda de gozadores e o caminho do exílio. 

Na segunda leitura – 1Tm 6,11-16 – São Paulo recomenda e elogia o bom comportamento de Timóteo, seu discípulo, inspirado no testemunho do Senhor Jesus. A recomendação não é apenas para Timóteo, mas, hoje, é para nós! A Palavra de Deus, certamente, é atual e eficaz! 

O Evangelho – Lc 16, 19-31 – descreve-nos um homem que não soube tirar o proveito dos seus bens. Ao invés de ganhar com eles o Céu, perdeu-o para sempre. Trata-se de um homem rico, que se vestia de púrpura e de linho, e que todos os dias fazia festas esplêndidas; muito perto dele, à sua porta, estava deitado um mendigo chamado Lázaro, todo coberto de chagas, que desejava saciar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico. E até os cães lambiam as suas feridas. 

A descrição que o Senhor nos faz nesta parábola tem fortes contrastes: grande abundância num, extrema necessidade no outro. O homem rico vive para si, como se Deus não existisse. Esqueceu uma coisa que o Senhor recorda com muita frequência: não somos donos dos bens materiais, mas administradores. 

A parábola ensina a sobrevivência da alma após a morte e que, imediatamente depois da morte a alma é julgada por Deus de todos os seus atos – juízo particular –, recebendo o prêmio ou o castigo merecidos; que a Revelação divina é, de per si, suficiente para que os homens creiam no mais além. 

Jesus continua o tema de domingo passado, quando nos exortou a fazer amigos com o dinheiro injusto. Este é o pecado do rico do Evangelho de hoje: não fez amigos com suas riquezas. Se tivesse aberto o coração para Lázaro, teria um amigo a recebê-lo no céu! É importante notar que esse rico não roubou, não ganhou seu dinheiro matando ou fazendo mal aos outros. Seu pecado foi unicamente viver somente para si: “se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias”. Ele foi incapaz de enxergar o “pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava no chão”, à sua porta. “Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas”. O rico nunca se incomodou com aquele pobre, nunca perguntou o seu nome, nunca procurou saber sua história, nunca abriu a mão para ajudá-lo, nunca lhe deu um pouco de seu tempo. O rico jamais pensou que aquele pobre, cujo nome ninguém importante conhecia, era conhecido e amado por Deus. Não deixa de ser impressionante que Jesus chama o miserável pelo nome, mas ignora o nome do rico! É que o Senhor se inclina para o pobre, mas olha o rico de longe! Afinal, os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos. 

O homem rico não está contra Deus nem oprime o pobre! Apenas está cego para as necessidades alheias. O seu pecado foi não ter visto Lázaro, a quem poderia ter feito feliz com um pouco menos de egoísmo e um pouco mais de despreocupação pelas suas próprias coisas. Não utilizou os bens conforme o querer de Deus. Não soube compartilhar. Santo Agostinho comenta: “Não foi a pobreza que conduziu Lázaro ao Céu, mas a sua humildade; nem foram as riquezas que impediram o rico de entrar no descanso eterno, mas o seu egoísmo e a sua infidelidade”. 

 

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