O professor universitário: guardião da verdade e mestre de humanidade 

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

 

Na gênese das universidades ocidentais, o ensino era visto como serviço à verdade e ao bem comum, e o professor não era apenas um transmissor de conteúdos, mas um guia para a vida. A própria origem do termo universitas aponta para uma comunidade de mestres e estudantes unidos pela busca da verdade, iluminada pela fé e pela razão.

Neste mês de outubro, celebramos o Dia do professor – ocasião oportuna para refletir sobre a nobreza dessa vocação. E fazemos isso associando a data à memória de Santa Teresa de Jesus (de Ávila), mestra insigne de vida espiritual e doutora da Igreja. Teresa nos recorda que ensinar não é apenas informar, mas formar, despertando nas pessoas o amor pela verdade e pelo sentido profundo da existência. Seu exemplo mostra que todo verdadeiro mestre precisa unir rigor intelectual e sabedoria interior. 

O professor como testemunha da verdade
A Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae, de São João Paulo II, traça um retrato luminoso do educador. Afirma que o professor é chamado a “ser testemunha da verdade”, exercendo o ensino e a pesquisa com competência, honestidade e abertura ao diálogo. No caso das universidades católicas, acrescenta-se a missão de integrar o saber com a fé, mostrando que não há contradição, mas harmonia, entre ciência e Evangelho. Assim, o professor não apenas transmite conteúdos acadêmicos, mas contribui para a formação integral do estudante, ajudando-o a crescer como pessoa e cidadão responsável.

Desafios e missão do mundo contemporânea
No mundo contemporâneo, o papel do professor universitário exige ainda mais coragem e criatividade. Ele enfrenta desafios como a fragmentação do saber, a pressão por resultados imediatos e a crise de sentido que afeta muitos jovens. Nesse cenário, sua missão vai além de preparar profissionais: é formar pessoas capazes de pensar criticamente, agir eticamente e colaborar para a construção de uma sociedade mais justa. Cabe ao educador cultivar nos estudantes não apenas habilidades técnicas, mas também virtudes humanas e espirituais.

Inspirada pela Veritatis Gaudium, a universidade é chamada a ser “laboratório cultural” e lugar de diálogo entre fé e razão, tradição e inovação. O professor, nesse contexto, é mediador desse diálogo, ajudando a articular o conhecimento técnico com os grandes valores que sustentam a vida. É alguém que desperta nos alunos a paixão por aprender e, mais ainda, o desejo de servir. 

Pedagogia da proximidade
Santa Teresa de Jesus, que amava dizer “Deus também caminha entre as panelas”, nos lembra que o saber se torna mais fecundo quando se encarna na vida concreta. O professor que se aproxima dos alunos com respeito e empatia, sem abrir mão da excelência acadêmica, participa dessa pedagogia da proximidade, na qual o conhecimento deixa de ser abstrato e se torna caminho de humanização.
Assim, celebrar o dia do professor é reconhecer que, em cada sala de aula, em cada orientação de pesquisa, em cada palavra de incentivo, se constrói não apenas um currículo, mas uma história de vida. É reafirmar que a excelência acadêmica e a espiritualidade não se excluem, mas se fortalecem mutuamente, conferindo ao ensino o brilho de suas origens – e a força necessária para iluminar o futuro. 

 

 

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