Bispo de Frederico Westphalen (RS)
O 29º Domingo do Tempo Comum do Ano C nos convida fiéis a refletirmos sobre a força da oração perseverante e a confiança na justiça de Deus. Em um mundo marcado pela injustiça, pela indiferença e pela desesperança, a liturgia deste domingo nos lembra que Deus escuta o clamor dos oprimidos e age com justiça — embora nem sempre nos tempos e modos que esperamos. A mensagem central é clara: não desanimar na oração, mas persistir com fé, sabendo que o Senhor é justo e fiel à sua aliança.
Primeira Leitura – Êxodo 17,8-13
Neste trecho, vemos o povo de Israel que enfrenta os amalecitas no deserto. Enquanto Josué luta no campo de batalha, Moisés, no alto do monte, ora com as mãos erguidas. Sempre que suas mãos caem, Israel perde terreno; quando são sustentadas, Israel prevalece. A cena simboliza uma verdade espiritual profunda: a vitória do povo depende da oração intercessória. Moisés não age sozinho — Arão e Hur o apoiam, mostrando que a oração comunitária e solidária é fonte de força. A lição é clara: nossa luta espiritual exige constância na oração e apoio mútuo na fé.
Segunda Leitura – 2 Timóteo 3,14–4,2
São Paulo exorta Timóteo a permanecer firme na Palavra que aprendeu desde a infância, pois “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para educar na justiça”. Paulo enfatiza que a Palavra de Deus forma o discípulo para toda boa obra. Além disso, ele ordena: “Proclama a Palavra, insiste, quer seja oportuno, quer não”. Aqui, a mensagem se amplia: a oração perseverante deve estar unida ao testemunho fiel da Palavra, mesmo diante da adversidade.
Evangelho – Lucas 18,1-8
Jesus conta a parábola da viúva insistente e do juiz injusto. A viúva, sem recursos nem influência, obtém justiça apenas por sua persistência. Jesus conclui: “Se até um juiz injusto cede à insistência, quanto mais Deus, que é justo, não fará justiça aos seus escolhidos que dia e noite clamam por ele?” A parábola não sugere que Deus precise ser convencido, mas que a oração constante revela nossa confiança nele. O final provocador — “Mas, quando o Filho do Homem vier, encontrará fé na terra?” — nos desafia a manter viva a chama da fé e da oração, mesmo em tempos difíceis.
Diante da riqueza espiritual deste domingo, eis três sugestões concretas para viver sua mensagem no cotidiano:
Cultivar uma oração diária perseverante
Podemos reservar um tempo fixo todos os dias para orar, mesmo que brevemente. Não se trata de quantidade, mas de fidelidade. Orar pelos necessitados, pela justiça no mundo, pelas intenções da Igreja. A oração constante fortalece a alma e nos conecta à vontade de Deus.
Ser intercessor na Comunidade
Assim como Arão e Hur sustentaram os braços de Moisés, podemos apoiar espiritualmente os outros. Participando, por exemplo, de grupos de oração, podemos nos oferecer para rezar por quem está passando por dificuldades, e não subestimar o poder da oração feita em Comunidade, especialmente a oração litúrgica da santa Missa.
Anunciar a Palavra com coragem
Seguindo o exemplo de Timóteo, podemos procurar crescer diante do medo de testemunhar a fé, mesmo quando for inconveniente. Isso pode ser feito com palavras, mas também com gestos de justiça, compaixão e verdade. A vida cristã é uma contínua proclamação do Evangelho.
Conclusão
O 29º Domingo do Tempo Comum nos convida a não desfalecer na oração, a confiar na justiça divina e a sermos testemunhas ativas da Palavra. Que, como a viúva da parábola, nossa fé se expresse na persistência da súplica e na coragem do testemunho, sabendo que o Senhor ouve e age — sempre no tempo certo, mas nunca em vão.
