Solenidade da Bem-Aventurada Virgem Maria da Conceição Aparecida 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

 

 

Irmãos e irmãs em Cristo, celebramos hoje com profunda alegria a Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil. Nesta festa, o coração do nosso povo se volta para Maria, a Mãe de Jesus e nossa Mãe, que se fez próxima dos pobres e pequenos. A história de Nossa Senhora da Conceição Aparecida começou de modo simples, quando três pescadores encontraram nas águas do Rio Paraíba do Sul a pequena imagem de barro, escurecida pelo tempo, partida e depois recomposta. Foi nas mãos desses homens simples que Deus quis manifestar o seu amor por meio de Maria, mostrando que Ele se revela aos humildes e faz grandes coisas na vida dos que confiam. 

A primeira leitura, do livro de Ester (Est 5,1b-2; 7,2b-3), apresenta-nos a rainha que se aproxima do rei para interceder pelo seu povo ameaçado. Ester entra no palácio com o coração confiante, arriscando a própria vida para salvar os seus irmãos. Quando o rei lhe pergunta: “Que me pedes, rainha Ester? Mesmo que seja metade do reino, te será concedido”, ela responde: “Se encontrei graça diante de ti, ó rei, e se for do teu agrado, concede-me a vida; eis o meu pedido, e a vida do meu povo, eis o meu desejo”. Assim também Maria é a rainha que intercede pelo povo diante do seu Filho Jesus. Como Ester, Maria apresenta a Deus as súplicas de seus filhos e filhas, intercedendo por todos nós, especialmente pelos que sofrem. Ela está sempre diante do Rei dos reis, levando ao coração de Cristo nossas dores e esperanças. Por isso, recorrer a Maria é um gesto de fé no amor misericordioso de Deus, que age por meio da ternura da Mãe. 

O salmo 44(45) nos convida a contemplar a beleza da Mãe de Deus: “Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: que o Rei se encante com vossa beleza! Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!”. A Igreja, inspirada neste salmo, reconhece em Maria a esposa amada, revestida de glória, conduzida ao encontro do seu Filho, o Rei eterno. Nela se cumpre o plano de Deus que exalta os humildes e enche de graça os que n’Ele confiam. Maria é toda bela porque se deixou envolver pela graça divina e nada reteve para si. Tudo nela é dom e entrega. Assim, quando olhamos para Nossa Senhora Aparecida, vemos refletida a glória de Deus e o ideal de toda a Igreja, chamada a ser santa e fiel, como a Mãe do Salvador. 

Na segunda leitura, o livro do Apocalipse (Ap 12,1.5.13a.15-16a) nos mostra “um grande sinal no céu: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”. Esta mulher representa a Igreja, mas também Maria, que participa da vitória de Cristo sobre o mal. “Ela deu à luz um filho, um menino, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro; e o seu filho foi levado para junto de Deus e de seu trono.” O dragão, figura do mal, tenta destruir a vida e apagar a luz, mas Deus protege a mulher e o filho. Assim acontece também na história do povo de Deus: o mal tenta sufocar a fé, a esperança e o amor, mas Maria permanece como sinal de vitória e presença de Deus. A mulher vestida de sol é a Mãe da esperança, a Mãe que caminha conosco e não nos abandona nas provações. Diante da violência, da pobreza e das divisões que ainda ferem o nosso povo, Maria Aparecida se ergue como sinal de consolo e de confiança. Ela nos recorda que, mesmo quando tudo parece perdido, Deus prepara a vitória dos que n’Ele confiam. 

No Evangelho de João (Jo 2,1-11), encontramos Maria nas bodas de Caná da Galileia. Ali, num momento de festa e alegria, ela percebe que “o vinho veio a faltar”. Atenta às necessidades dos outros, Maria se aproxima de Jesus e diz: “Eles não têm mais vinho”. É um gesto de intercessão silenciosa e confiante. Jesus responde: “Mulher, ainda não chegou a minha hora”. Mas Maria, sem desanimar, diz aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. E é então que Jesus realiza o seu primeiro milagre, transformando a água em vinho. O evangelista conclui dizendo que “foi este o início dos sinais de Jesus; Ele manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele”. 

Esta passagem revela o coração da devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Maria não quer ocupar o lugar de seu Filho, mas conduzir-nos a Ele. Ela nos ensina a confiança e a obediência à Palavra. Quando fazemos o que Jesus nos diz, a água sem sabor de nossa vida se transforma no vinho novo da graça. Maria percebe o que falta em nossa casa, em nossa família, em nosso coração, e leva tudo a Jesus. Por isso, o pedido da Mãe — “Eles não têm mais vinho” — é o mesmo que ela repete diante das faltas do nosso tempo: quando falta amor nos lares, quando falta esperança nas comunidades, quando falta justiça e paz na sociedade, Maria intercede para que a graça de Cristo renove tudo. 

Nossa Senhora da Conceição Aparecida é o rosto materno de Deus junto do povo brasileiro. Ela é a Mãe que acolhe a todos, sem distinção, e cobre o país com seu manto azul. É presença viva na fé dos pobres, nas romarias dos que vêm agradecer ou suplicar, nas pequenas capelas do interior e nas grandes cidades. Em cada gesto de devoção, em cada vela acesa, há um coração que confia e encontra consolo. Maria é a Mãe que não abandona seus filhos, que nos ensina a perseverar na fé mesmo em tempos difíceis. Sua imagem, encontrada no barro, recorda que a graça de Deus brota do que é simples e desprezado. Ela é a Mãe dos que perderam o rumo, dos que buscam recomeçar, dos que precisam de um sinal do amor divino. 

Celebrar Nossa Senhora da Conceição Aparecida é renovar nosso compromisso de seguir Jesus com fidelidade e amor. Maria é a primeira discípula, aquela que ouviu a Palavra e a colocou em prática. Seu exemplo nos convida a ser uma Igreja em saída, missionária, que leva a todos a alegria do Evangelho. Como nos ensina o Documento de Aparecida, devemos ser discípulos e missionários de Cristo, animados pela força do Espírito, para transformar a sociedade à luz da fé. Que a Padroeira do Brasil nos ajude a viver com esperança e a trabalhar por um país mais justo, fraterno e solidário. 

Hoje, ao celebrarmos esta solenidade, digamos com confiança: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, rogai por nós! Que Ela interceda por nossas famílias, por nossos jovens, pelos pobres e por todo o povo brasileiro. E que, como nas bodas de Caná, nunca falte o vinho da alegria, da fé e do amor nas nossas vidas. Que a Mãe Aparecida nos ensine a dizer, como ela, “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). Assim, com Maria e por Maria, seremos conduzidos sempre a Cristo, o único Salvador, a quem seja dada toda honra e toda glória pelos séculos dos séculos.  

Amém. 

 

 

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