Cardeal Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)

 

 

“Dilexit te!”  

A existência humana atual, marcada pela produtividade e consumo, está absorvida pelo ativismo. O próprio tempo livre se torna algo funcional no interior da produção, esquecendo-se que mesmo a ‘inatividade’ representa uma forma intensa de vida. Sem o reconhecimento e as condições necessárias para o repouso, se impõe a ideologia que considera o ser humano como tendo de funcionar. A própria aceleração da vida nos acostuma a ver e julgar o que está verdadeiramente em questão de forma parcial, senão errônea, forjando expressões diversas de pobreza. É a pobreza de quem não tem direitos, nem lugar, nem liberdade; de quem não possui instrumentos para dar voz à sua dignidade e suas capacidades”; de quem experimenta no cotidiano a pobreza material, moral, espiritual, cultural, humana!  

A pobreza em suas múltiplas facetas é uma realidade contra a qual todos são chamados a lutar. Ela se constitui, talvez, no maior desafio hodierno, quando milhões de pessoas vivem em condições desumanas e muitas morrem literalmente de cansaço, depressão ou fome. Quando a ética cede lugar a ideologias reducionistas “o deserto cresce” (Nietsche), ou seja, cresce aquela dimensão da vida social onde o ser humano carece do necessário para viver dignamente. Reconhecer e se dispor a acolher com respeito todos os feridos e privados da própria dignidade, liberdade e identidade é um imperativo ético, um chamado à consciência, particularmente dos cristãos. 

“As estruturas de injustiça devem ser reconhecidas e destruídas com a força do bem, através da mudança de mentalidades e também com a ajuda da ciência e da técnica, através do desenvolvimento de políticas eficazes na transformação da sociedade” (Papa Leão). Para levar a termo tal missão se faz necessário passar do mundo das ideias e discussões a ações e gestos concretos, unindo para tanto as melhores forças da sociedade. O compromisso em favor do bem comum da sociedade e a promoção dos mais fracos e menos favorecidos empenham todo homem e toda mulher de boa vontade.  

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