Nossa Senhora Aparecida, Mãe da Esperança 

Dom Leomar Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

No dia 3 de outubro tive a imensa alegria de presidir, no Santuário Nacional de Aparecida, a abertura da novena da Padroeira do Brasil. Foi uma experiência profundamente espiritual e eclesial. Milhares de peregrinos estavam reunidos naquele espaço que é, há séculos, o coração da devoção mariana do povo brasileiro. Ano após ano, os fiéis chegam a Aparecida com o coração repleto de intenções, súplicas e agradecimentos _ e ali encontram o consolo e a força da Mãe. 

O tema que ilumina este ano a novena é profundamente atual: “Com Maria, Mãe da esperança, conhecer Jesus e cuidar da vida”. Ele une três dimensões inseparáveis da fé cristã: Maria como modelo de esperança, Jesus como centro da vida cristã e a responsabilidade de cuidar da vida em todas as suas formas e etapas.

Não se trata de um lema meramente devocional, mas de um verdadeiro caminho espiritual e pastoral que nos interpela diante dos desafios do Brasil de hoje. 

Maria, mestra da esperança 

Maria é chamada Mãe da esperança porque nela se cumpre a promessa de Deus. Ela acreditou contra toda esperança, como Abraão, e confiou plenamente na Palavra que lhe foi anunciada. Na Anunciação, Maria acolhe o impossível de Deus: conceber o Filho eterno em seu seio virginal. No Calvário, permanece de pé junto à cruz, quando todas as aparências indicavam fracasso. Na manhã da Ressurreição, sua esperança se transforma em certeza pascal.  

Por isso, Maria é mestra da esperança para cada cristão que enfrenta dores, incertezas e crises. 

Conhecer Jesus é o caminho natural de quem se aproxima de Maria. A autêntica devoção mariana nunca se encerra em si mesma, mas sempre conduz ao Filho. Como nas bodas de Caná, Maria continua a repetir: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Sua missão é nos colocar em contato com a pessoa viva de Cristo. Por isso, celebrar Nossa Senhora Aparecida significa renovar o encontro com Jesus, Salvador da vida. Ele é a esperança que não decepciona, porque venceu o pecado e a morte. 

Cuidar da vida: fé que se faz compromisso 

A terceira dimensão do tema nos convida a cuidar da vida. O Evangelho nos ensina que a vida é dom e compromisso. Em Maria, vemos o cuidado materno de Deus pelos pequenos, pobres e sofredores.  

A imagem da Padroeira, retirada das águas do rio Paraíba do Sul em 1717, traz em si essa mensagem: é uma imagem frágil, quebrada, restaurada pela fé do povo. Tornou-se sinal de que Deus se compadece das fragilidades humanas e deseja reerguer os caídos.  

Assim, a devoção à Senhora Aparecida deve nos conduzir a um compromisso concreto com o cuidado da vida ameaçada em tantas situações: os nascituros, as crianças, os jovens, as famílias, os idosos, os pobres, os descartados. 

Presidir a abertura da novena no Santuário Nacional foi sentir, de forma intensa, a fé e a esperança do nosso povo. Homens e mulheres que chegam de todas as partes do Brasil testemunham que a esperança não é ilusão, mas força que brota da fé em Deus. Aparecida continua sendo uma escola de esperança para a nação: lugar onde o povo encontra consolo, mas também compromisso; encontra acolhida, mas também envio missionário. 

Esperança que renova Brasil 

A novena da Padroeira, neste Ano Jubilar da Esperança, é uma ocasião para renovar o coração e o olhar sobre o país. O Brasil precisa de esperança – não de uma esperança vazia, mas daquela que nasce de Maria, conduz a Jesus e concretiza no cuidado pela vida. Esse tripé espiritual — esperança, conhecimento de Cristo e cuidado da vida — pode transformar o Brasil e a nossa Igreja. 

Peçamos, pois, à Senhora Aparecida, que nos ensine a esperar contra toda esperança, a caminhar sempre ao encontro de Jesus e a sermos guardiões da vida em todas as suas expressões.  

Como filhos e filhas, colocamos diante dela nossa vida, nossas comunidades, nossa pátria. E com a mesma confiança do povo simples que a coroou Rainha e Padroeira, repetimos: “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!” 

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