Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Temos a alegria de celebrar o 30º Domingo do Tempo Comum. No Evangelho, Jesus não nos ensina longas orações, mas um longo tempo em oração; pois rezar não é apenas falar com Deus, mas fazer silêncio e ouvir a Sua Palavra que ressoa em nosso coração.
Madre Teresa de Calcutá passava longas horas diante do sacrário em silêncio, pronta para ouvir o mandamento de Jesus. Quando questionada por um jornalista, respondeu com simplicidade: “Não faço a minha vontade, mas a vontade de Jesus.”
A primeira leitura (Eclo 35,15b-17.20-22a) apresenta o tema central do trecho: o fato de Deus escutar as súplicas daqueles que sofrem violência. Nesse ponto revela-se a teologia do texto — a opção de Deus pelos mais vulneráveis. As lágrimas que correm pelo rosto da viúva denunciam a gravidade dos atos dos dominadores e, ao mesmo tempo, desencadeiam a ação libertadora, acolhedora e consoladora de Deus.
Ele, o justo juiz, há de julgar com justiça todos os que provocam lágrimas de dor no rosto dos pobres. O texto traz a certeza explícita de que Deus não favorece o rico injusto; pelo contrário, Ele toma posição ao lado dos fracos. A oração do humilhado chega até Deus atravessando as nuvens, desfazendo a sensação de distância expressa em Lamentações: “De uma nuvem te envolveste, para que a oração não chegue a ti” (Lm 3,44).
A expressão “não descansa” lembra a parábola de Jesus sobre a viúva que não descansou enquanto a justiça não foi feita. O corpo do pobre, marcado pela dor e pela violência, torna-se um altar, de onde ele oferece a Deus suas lágrimas e clamores por justiça.
Na segunda leitura (2Tm 4,6-8.16-18), o apóstolo Paulo se apresenta pronto para partir: “Completei minha carreira, conservei a fé. Agora aguardo a recompensa do justo Juiz.”
Que belo programa para todos nós! Nós, que acreditamos em Cristo, não estamos no mundo para fazer a nossa vontade, mas a vontade de Jesus. Que maravilha é ter a consciência em paz diante do Senhor!
Que todos nós possamos, ao final da caminhada, ter essa mesma tranquilidade do dever cumprido, partindo em paz para o encontro com Deus.
No Evangelho (Lc 18,9-14), Jesus nos recorda o espírito que deve animar nossa oração. O orgulho não garante a eficácia da prece; mas o pecador que, humildemente, reconhece sua condição, pode ter a certeza do olhar misericordioso de Deus. “Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 18,14b).
A arrogância leva o ser humano a se sentir superior aos outros — não apenas supervalorizando suas virtudes, mas também desprezando os demais. Na parábola, Jesus mostra que alguns estavam convencidos de sua própria justiça e, por isso, desprezavam os outros.
A postura do fariseu é teatral e artificial. Ele reza de si para si mesmo, transformando a oração em autoelogio. Não foi ao templo para falar com Deus, mas para informá-Lo de suas próprias virtudes. Suas palavras são religiosas, mas desprovidas de autêntico conteúdo espiritual.
Já o cobrador de impostos reconhece suas limitações e sua dependência da graça divina. Sabe que não é nada sem Deus, e por isso nem sequer ousa levantar os olhos ao céu. A humildade do publicano contrasta com a arrogância do fariseu, e é justamente essa atitude que o torna justo aos olhos do Senhor.
A parábola é uma grande lição para todos nós. Carregamos nossos defeitos nas costas — e, por isso, muitas vezes não os enxergamos. Precisamos que Deus ilumine o nosso coração e revele nossas fraquezas cotidianas.
O orgulho foi o pecado de Adão e Eva, e continua sendo o pior defeito do coração humano. Nada nos afasta tanto de Deus quanto o orgulho, que destrói a comunhão e apaga a graça. Nossos primeiros pais perderam tudo por causa dele, e o mesmo mal continua ameaçando nossos corações batizados.
Façamos o propósito de evidenciar que a oração autêntica não é um ato de autoglorificação (como o fariseu), mas um silêncio humilde para ouvir a vontade de Deus (como Madre Teresa) e ter a força para cumpri-la (como São Paulo), com a certeza de que o justo Juiz sempre exalta quem se humilha.
