Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
30º Domingo do Tempo Comum
“Quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (Lc 18,14)
Celebramos neste domingo o Trigésimo Domingo do Tempo Comum. Estamos nos aproximando do final de mais um ano litúrgico: dentro de quatro semanas celebraremos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, encerrando os domingos do ano litúrgico C. Pouco a pouco o ano vai se findando, e Jesus vai cumprindo a sua missão de entrar em Jerusalém, conforme nos conduz o evangelho de Lucas, e salvar a todos, selando com a eterna aliança de Deus com a humanidade.
Ao mesmo tempo, estamos chegando ao fim de mais um mês — o décimo deste ano —, um mês especial para a Igreja, em que celebramos o Mês do Rosário e das Missões. Aqui no Rio concluímos a 390ª Festa da Penha. Durante este mês fomos convidados a rezar o terço todos os dias e a realizar missões de casa em casa, anunciando a Palavra de Deus. Na semana passada celebramos o Dia Mundial das Missões, e nos preparamos, ao longo desta semana, para celebrar, no próximo domingo, o Dia de Finados precedido do dia de todos os santos.
No Evangelho deste domingo, Jesus nos ensina que a oração que agrada a Deus é aquela que brota do coração e é feita com humildade. A oração prepotente, na qual a pessoa apenas exalta as próprias virtudes e agradece pelos bens que possui, Deus não acolhe. Por isso, façamos nossas orações com humildade: reconheçamo-nos pecadores e peçamos por nós e por nossas famílias.
Participemos da Santa Missa junto com nossas famílias neste domingo, e façamos a nossa oração humilde, pedindo a conversão dos pecadores e reconhecendo nossos próprios pecados. O Senhor nos chama a ser missionários; aproveitemos o encerramento deste mês missionário para sairmos de casa em casa, testemunhando e anunciando a Palavra de Deus.
No espírito de Cristo Ressuscitado, não apontemos o dedo para ninguém, não julguemos para não sermos julgados, e anunciemos a misericórdia do Senhor a todos. Não nos cabe julgar nem condenar, pois isso pertence somente a Deus.
A primeira leitura da missa deste domingo é do livro do Eclesiástico (Eclo 35,15b-17.20-22a). Nela, Deus é apresentado como o juiz que não faz discriminação de pessoas: Ele escuta pobres, viúvas, órfãos — ou seja, escuta a todas, mas, em especial os desvalidos. Ele não ouve apenas aqueles que podem oferecer grandes dons, mas acolhe todo aquele que, de coração sincero, se arrepende de seus pecados e se aproxima d’Ele.
Quem serve a Deus com humildade e vive autenticamente a sua fé, será atendido em suas súplicas. As preces do humilde atravessam as nuvens. Devemos nos apresentar diante de Deus com humildade, certos de que, no tempo oportuno, Ele fará justiça e nos atenderá.
O salmo responsorial é o 33(34), que nos diz em seu refrão: “O pobre clama a Deus e Ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos.”
O Senhor escuta o clamor dos seus servos, acolhe a prece humilde e sincera. A oração deve ser feita de coração e com humildade. Devemos nos apresentar como pobres diante de Deus — não apenas os pobres no sentido material, mas também os espiritualmente pobres, conscientes de nossa dependência do Senhor.
A segunda leitura é da Segunda Carta de São Paulo a Timóteo (2Tm 4,6-8.16-18). Nesse trecho, Paulo declara que já cumpriu sua missão, está prestes a ser oferecido em sacrifício e se aproxima o momento de sua morte. Ele se encontrava preso e em idade avançada, mas encoraja Timóteo a continuar firme na pregação do Evangelho. Deus acompanharia Timóteo em toda a missão, assim como acompanhou Paulo. De perseguidor dos cristãos, Paulo se tornou apóstolo fiel; agora, está certo de que receberá a coroa da justiça reservada aos que permanecem fiéis.
O Evangelho deste domingo é de Lucas (Lc 18,9-14). Jesus conta uma parábola dirigida às pessoas que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros — especialmente aos fariseus e doutores da Lei, que apontavam os “pecados” alheios e ignoravam os próprios. Eles excluíam prostitutas, cobradores de impostos e doentes, considerando-os castigados por Deus.
Jesus, porém, ensina que quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado. A oração que agrada a Deus é aquela em que reconhecemos nossos erros e pedimos perdão, e não aquela em que nos julgamos perfeitos e sem pecado. Antes de pedir qualquer coisa, devemos nos arrepender sinceramente. Não existe ninguém perfeito, nem alguém que esteja fora do alcance da salvação de Deus.
A oração é uma via de mão dupla — um diálogo com Deus, no qual falamos com Ele e permitimos que Ele fale conosco. É preciso silenciar o coração para ouvi-Lo. Ao reconhecermos nossos pecados e nos humilharmos diante do Senhor, seremos por Ele exaltados na vida eterna.
Celebremos com alegria este Trigésimo Domingo do Tempo Comum, certos de que Deus nos ama e não nos pune na medida das nossas faltas, mas olha para o nosso coração. Que o Espírito Santo nos ajude nesta caminhada de fé, para que sejamos sempre humildes diante de Deus.
