Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

O Dia de Finados convida para olhar a realidade da morte e da vida eterna. Duas realidades repletas de muitas perguntas, sofrimentos, dúvidas, medos e crenças. O cristão vive a morte e a vida eterna a partir do que Jesus Cristo ensinou. A liturgia de finados celebra os elementos essenciais sobre o assunto, através dos textos bíblicos (Jó 19,1.23-27; Salmo 22, 1 Coríntios 15,20-28; Lucas 12,35-40), das preces e ritos. Na oração da coleta da missa se reza: “Ó Deus, glória dos fiéis e vida dos justos, que nos remistes pela morte e ressurreição do vosso Filho, concedei benigno aos nossos irmãos e irmãs defuntos que, tendo acreditado no mistério da nossa ressurreição, mereçam, alcançar as alegrias da bem-aventurança eterna”. 

O prefácio da liturgia eucarística faz a profissão de fé de como deve ser vivida a morte e esperada a vida eterna, em forma de prece de louvor: “Nele (em Deus) brilha para nós a esperança da feliz ressurreição; e se a certeza da morte nos entristece, conforta-nos a promessa da futura imortalidade. Senhor, para os que creem em vós a vida não é tirada, mas transformada e, desfeita esta morada terrestre, nos é dada uma habitação eterna no céu”.  

A fé não nega a realidade da morte corporal. Ela é uma vivência única e irrepetível de todos os seres humanos. A morte faz parte do viver e não somente no fim, mas, considerando bem a cada momento. Ela se apresenta de forma hostil e contrária ao desejo de viver sempre e feliz. A fé convida a assumir a condição mortal e tratar temas ligados a ela, como por exemplo, falar com mais frequência, encaminhar a destinação dos bens, expressar desejos referente ao funeral. É um tema que não podemos remover da consciência, por mais resistências que tenhamos. 

Finados convida a visitar os cemitérios, pois é um lugar que está em meio a nossas casas. Visitar faz bem a quem visita e a quem é visitado. Ir ao encontro da sepultura do ente querido é como ir visitá-lo para lhe manifestar, mais uma vez, o nosso carinho, para recordar fatos marcantes da vida, recordar gostos, ensinamentos. É também um ato de fé, pois os cristãos, na profissão de fé, afirmam que creem “na comunhão dos santos”. O vínculo estreito continua a existir entre os que caminham nesta terra com os que os precederam na eternidade. A visita e a oração pelos falecidos se tornam uma oração de intercessão pelo juízo divino. Pedimos que Deus os julgue com justiça e misericórdia.  

O sofrimento da morte corporal, as angústias e as incertezas encontram em Jesus Cristo respostas que vão além da capacidade humana, abrindo para imortalidade. Ao malfeitor crucificado ao seu lado, Jesus diz: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Diante da dúvida de Tomé para onde Jesus estava indo, responde: “Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito, porque vou preparar-vos um lugar. E depois que eu tiver ido preparar-vos um lugar voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14,1-3). Cristo é morto na cruz, mas ressuscita. Quando se encontra com Maria Madalena e a outra Maria, após a ressurreição, diz: “Alegrai-vos!” “Não tenhais medo”.(Mt 289-10).  

Em Jesus ressuscitado está depositada a esperança cristã. Esta verdade é recitada na Profissão de Fé a cada domingo. Visitando os cemitérios para rezar com afeto e com amor pelos defuntos, somos convidados, mais uma vez, a renovar com coragem e com força a nossa fé na vida eterna. Viver com esta grande esperança e testemunhá-la no mundo é afirmar que a morte não leva ao nada, mas à outra forma de vida. E é precisamente a fé na vida eterna que confere ao cristão a coragem de amar ainda mais intensamente a nossa terra e de trabalhar para lhe construir um futuro, para lhe dar uma esperança verdadeira e segura. 

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