Desenhar novos mapas de esperança 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

 

Desenhar novos mapas de esperança 

A missão da PUC-Rio e o sonho de D. Sebastião Leme 

 

À luz da recente Carta Apostólica Desenhar novos mapas de esperança, com a qual o Santo Padre Leão XIV recorda os sessenta anos da declaração conciliar Gravissimum Educationis, somos convidados a reler a história da educação católica à luz do Evangelho e a renovar nossa missão evangelizadora nos espaços do saber. Como destaca o Santo Padre, “a história da educação católica é a história do Espírito em ação. A Igreja, ‘mãe e mestra’, não pela supremacia, mas pelo serviço, fomenta a fé e acompanha o crescimento da liberdade, assumindo a missão do Divino Mestre para que todos possam ‘ter vida e tê-la em abundância’ ( Jo 10,10). […] Os carismas educativos não são fórmulas rígidas: são respostas originais às necessidades de cada época.” (n. 2.1) 

Nessa reflexão, percebendo as respostas da providência a cada momento da história humana, emerge com vigor em nossa Arquidiocese e em nosso país a inspiração que moveu o coração de D. Sebastião Leme, que primeiro fora coadjutor do Cardeal Arcoverde entre 1921 e 1930, depois arcebispo do Rio até sua morte, em 1942, pastor lúcido e visionário, ao lançar as sementes daquilo que hoje conhecemos como a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a PUC-Rio. 

A fundação da PUC-Rio foi fruto de um longo anseio do episcopado brasileiro, que percebia com clareza a necessidade de uma universidade católica que unisse a fé e a razão, formando lideranças intelectuais capazes de iluminar a vida pública e cultural do país com a luz do Evangelho. 

Esse sonho começa a ganhar corpo em 1932, quando o Cardeal D. Sebastião Leme, juntamente com leigos comprometidos do Centro Dom Vital, importante instituição fundada por Jackson de Figueiredo em 1922, funda o Instituto Católico de Estudos Superiores. A iniciativa não brota apenas de um desejo pedagógico, mas de uma visão pastoral: formar uma inteligência católica capaz de responder, com serenidade e profundidade, aos desafios de uma sociedade em transformação. 

Em 1938, o Papa Pio XI, grande incentivador da Ação Católica, enviou ao Cardeal Leme uma carta concedendo-lhe um mandato especial para tratar da fundação de uma universidade católica no Brasil. No ano seguinte, o Concílio Plenário Brasileiro reafirmou o compromisso dos bispos com esse projeto, definindo a universidade como “o centro onde se elaboram as grandes sínteses do saber […] o órgão conservador e transmissor de todo o patrimônio de uma civilização”. Essas palavras ressoam até hoje: a universidade, para a Igreja, é mais do que um espaço de instrução, é um lugar teológico, onde a verdade se busca em diálogo com a fé, onde o saber se faz serviço à pessoa humana e à sociedade. 

Em janeiro de 1940, o Cardeal Leme dá início aos trabalhos concretos de fundação das Faculdades Católicas e, em março, confia à Companhia de Jesus “a vida científica e didática da nova instituição”, chamando o Padre Leonel Franca, S.J., para ser seu primeiro reitor.  

O governo brasileiro autorizou o funcionamento das Faculdades em outubro de 1940 (esta data ficou como data de fundação da PUC que completa, portanto, 85 anos), e em 15 de março de 1941 foram inaugurados seus primeiros cursos. Cinco anos depois, em 15 de janeiro de 1946, com a Arquidiocese já sob a direção do Cardeal D. Jaime de Barros Câmara, dado que D. Leme morre em 1942, as Faculdades foram elevadas à categoria de Universidade Católica, e em 20 de janeiro de 1947, com o decreto Laeta coelo arridens, a Sagrada Congregação de Seminários e Universidades a elevou à dignidade de Universidade Pontifícia, a primeira do Brasil. 

À luz da Carta Desenhar novos mapas de esperança, podemos afirmar que a PUC-Rio continua fiel à inspiração de seus fundadores. Sua missão é ser um espaço de encontro entre a fé, a cultura e a ciência, promovendo a dignidade humana e o bem comum. Em sua carta, o Papa nos dá esse indicativo: “As universidades católicas têm uma tarefa fundamental: oferecer uma ‘diaconia da cultura’.” (n. 9.3).  

Hoje, a PUC-Rio é reconhecida pela excelência acadêmica, pelo compromisso com a justiça social e pela formação integral de seus estudantes. Em suas salas e laboratórios, nas pesquisas e projetos de extensão, continua-se a “tecer esperança”, como pede o Papa Leão XIV: esperança fundada na verdade, esperança que se traduz em solidariedade, esperança que faz da universidade uma ponte entre a Igreja e o mundo contemporâneo. Agradecemos nossos antecessores pela visão de futuro e do grande empreendimento iniciado. 

Celebrar a história da PUC-Rio é reconhecer a fecundidade da visão de D. Sebastião Leme e daqueles que se uniram a ele, como o Pe. Leonel Franca e os pioneiros do laicato católico brasileiro, como o escritor Alceu Amoroso Lima e o jurista Sobral Pinto. Eles compreenderam que a evangelização da cultura passa pela formação da inteligência e pelo diálogo entre a fé e a razão, um diálogo que permanece essencial. 

Hoje, 85 anos depois, ao contemplarmos a trajetória da PUC-Rio, sentimos ecoar o convite do Santo Padre: “educar é desenhar novos mapas de esperança”. Que essa universidade continue a ser farol de sabedoria e de serviço, lugar onde o saber se faz dom e onde a fé se faz cultura, para que o Brasil continue a crescer à luz do Evangelho de Cristo. 

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