Dedicação da Basílica de Latrão 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

“O zelo por tua casa me consumirá” (Jo 2,18) 

 

Celebramos neste domingo a festa da Dedicação da Basílica de Latrão. Essa festa é celebrada todos os anos no dia 9 de novembro, independentemente do dia da semana em que caia. Neste ano, o dia 9 recai em um domingo e, por isso, celebramos a Festa da Dedicação da Basílica de Latrão.  O Papa Francisco, de saudosa memória, também pediu que nesse dia em todas as dioceses fizessem memória dos servos de Deus, Veneráveis e beatos locais em processo de canonização. 

A celebração da festa da Basílica Lateranense é observada em todo o mundo devido à importância histórica dessa basílica, pois a Arquibasílica de Latrão é a catedral do Papa, a mãe de todas as igrejas. Por isso, neste dia somos convidados a rezar pelo Papa e por sua missão como sucessor de Pedro. 

Toda a Igreja se une em oração e em comunhão, e reza pelo Santo Padre. Em todas as igrejas católicas do mundo inteiro, celebra-se hoje essa festa tão significativa.  

Somos templos do Senhor, pois recebemos o Espírito Santo no Batismo. Ao celebrarmos a dedicação da Basílica de Latrão, ou de qualquer outra igreja, não comemoramos apenas o templo físico, mas celebramos cada um de nós, que formamos a Igreja viva de Cristo. Ele é a cabeça da Igreja, e nós somos os membros; estamos ligados a Ele, que é o Senhor da vida. 

Por isso, celebramos essa festa no domingo, pois o templo é dedicado, antes de tudo, ao Senhor, e é no templo que nos encontramos com Ele e com os irmãos em comunidade. 

É prudente que toda igreja, ao ser erguida, seja dedicada solenemente, e que a cada ano se celebre o aniversário de sua dedicação junto com os fiéis. Assim, é recomendável que o pároco, com a ajuda da secretaria, procure nos livros paroquiais e documentos oficiais o dia, mês e ano da dedicação da paróquia, para que se celebre anualmente essa data em ação de graças. Quando se trata da dedicação da Catedral da Diocese, a festa é celebrada por todas as paróquias. 

Caso a paróquia ainda não tenha sido dedicada ou não se encontre a data da dedicação, é bom preparar uma celebração própria, registrar a data e comemorá-la a cada ano com a comunidade. Afinal, dedicar a igreja matriz da paróquia é uma festa de fé e comunhão para todo o bairro. 

Normalmente, nas dioceses e arquidioceses, celebra-se a dedicação da catedral, e ao longo do ano litúrgico, recordamos também a dedicação da Basílica de Latrão, além das de São Pedro e São Paulo. Por isso, é importante que cada paróquia celebre o dia da sua dedicação, fortalecendo o sentido de pertença e comunhão com a Igreja. 

A primeira leitura desta festa é tirada do livro do profeta Ezequiel (Ez 47,1-2.8-9.12). Nesse trecho, o profeta descreve uma visão simbólica de um rio de águas puras que brota do novo templo, trazendo vida e cura por onde passa. Esse rio, que se torna cada vez mais profundo, transforma águas mortas em um mar cheio de vida e faz crescer árvores frutíferas em suas margens, cujas folhas são remédio. 

A água é símbolo de vida e purificação, contrapondo-se à esterilidade do mar morto. Do templo brota a água viva, que batiza, renova, cura e nos impele a anunciar a Palavra de Deus. Essa água representa a vida nova que vem de Deus e que dá sentido à nossa existência cristã. 

O salmo responsorial é o Salmo 45 (46), cujo refrão diz: “Os braços de um rio vêm trazer alegria à cidade de Deus, à morada do Altíssimo.” O refrão é uma resposta direta à primeira leitura: o rio que brota do templo simboliza a alegria e a presença de Deus entre nós. O Senhor é o nosso refúgio e fortaleza, e toda vez que precisarmos restaurar as forças, devemos buscá-Lo no Seu templo santo. 

A segunda leitura, (1Cor 3,9c-11.16-17), nos recorda que o alicerce de nossa vida deve ser Jesus Cristo. São Paulo afirma que somos santuários de Deus, e que o Espírito Santo habita em nós. Sendo assim, se o nosso corpo é templo do Espírito, ele deve ser respeitado e preservado. Cuidemos de nós mesmos e não permitamos que ninguém — nem nós mesmos — destrua essa obra santa que Deus edificou. 

O Evangelho proclamado nesta festa é o de São João (Jo 2,13-22), que narra Jesus expulsando os vendedores do templo de Jerusalém. Ele purifica a casa de Deus, libertando-a de toda profanação e comércio, para que volte a ser o que deve ser: casa de oração. 

Jesus, ao falar de destruir o templo e reconstruí-lo em três dias, referia-se ao templo de seu corpo, revelando que a verdadeira morada de Deus entre os homens é o próprio Cristo e, por extensão, a comunidade dos fiéis. Assim, o templo não é apenas o edifício material, mas cada um de nós, chamados a ser templos vivos e santos por meio de nossas atitudes e do testemunho da fé. 

A origem da festa da Dedicação da Basílica de Latrão remonta a 1724, durante o pontificado do Papa Bento XIII. Ele estendeu essa celebração a toda a cristandade, em reconhecimento à importância simbólica da basílica, que havia sido diversas vezes destruída e reconstruída. 

Essa data expressa a comunhão e a unidade da Igreja com o Papa, sucessor de Pedro. Nesse dia, somos convidados a elevar a Deus nossas preces pelo pontífice e a fazer memória de sua missão pastoral, testemunhando também a nossa comunhão com a Igreja universal. É, portanto, um verdadeiro Dia de Ação de Graças pela própria paróquia e pela fé que nos une em Cristo. 

Celebremos com alegria a Festa da Dedicação da Basílica de Latrão e renovemos a consciência de que somos templos vivos do Espírito Santo. Que nos dediquemos inteiramente ao Senhor, participemos com fé da missa deste domingo e meditemos com atenção as leituras que nos serão apresentadas. 

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