Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira
Bispo da Prelazia do Marajó (PA)
Na primeira leitura (Malaquias 3, 19-20a) temos duas mensagens importantes: 1. “Virá o dia em que todos os soberbos e ímpios serão como palha” (versículo 19); 2. “Para vós, nascerá o sol da justiça” (versículo 20a). Esta leitura desperta em nós a Esperança, mostrando que o mal será derrotado; anima-nos para a Missão, pois nascerá para nós o sol da justiça; encoraja-nos para a luta, pois Deus terá a última palavra. A esperança nos move para a missão; a missão nos leva à luta em defesa da vida, da vida humana e da vida da natureza. Em tempo de COP30 no Brasil, a esperança, a missão e a luta nos faz comprometidos com a superação da crise climática, apoiando a necessidade de financiamento climático com justiça social, por meio de doações e não de empréstimos; apoiando a necessidade de se reconhecer as perdas e danos não somente material dos desastres ambientais, mas, também culturais e religiosos; defendendo a agroecologia e uma transição energética passando do uso exclusivo dos combustíveis fósseis (derivados do petróleo e do carvão mineral) para as energias limpas (eólica e solar) respeitando as comunidades; rejeitando a financeirização da natureza, ou seja, ver a natureza apenas como fonte de lucro.
O Salmo 97 nos convidou a cantar salmos ao Senhor (versículo 5). Convidou o mar com todo ser que nele vive a aplaudir o Senhor (versículo 7). Convidou as montanhas e os rios a baterem palmas para o Senhor (versículo 8). Tudo está interligado na casa comum para cantar a Deus: mulheres, homens, mar, montanhas e rios. Nós fazemos parte da biodiversidade da criação de Deus, ou seja, da multiplicidade de formas de vida criada por Deus.
Na segunda leitura (2Tessalonicenses 3, 7-12) Paulo nos convida a seguir o exemplo dele (versículo 7): Paulo Apóstolo, Missionário, Servidor dos Pobres. Por outro lado, Paulo nos provoca: teremos coragem de dizer a mesma coisa a quem está perto de nós? Poderemos convidar as pessoas a seguirem nosso exemplo, como pessoas de fé e como cidadãos e cidadãs? Pensemos!
Paulo ainda fala que quem não quer trabalhar não deverá comer (versículo 10). Mas, se Paulo escrevesse esta carta em nossos dias, talvez ele dissesse “quem trabalha tem o direito de comer”, tem direito a um salário justo que lhe possibilite a ter recurso para comprar o alimento necessário para si mesmo e para a sua família.
No Evangelho, Lucas registra o comentário que algumas pessoas faziam sobre o Templo, enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas (versículo 5). Mas, Lucas registra, também, a reação de Jesus: “Vós admirais estas coisas?” (versículo 6). Jesus assim nos ensina que o essencial de nossa fé cristã católica não está nas grandes e belas igrejas, catedrais, capelas; mas, o essencial de nossa fé está na vivência do amor, que nos impulsiona a cuidar dos Pobres, como nos pede o Papa Leão XIV em sua Exortação Apostólica Dilexi Te: “Estou convencido de que a opção preferencial pelos pobres gera uma renovação extraordinária tanto na Igreja como na sociedade” (nº 7). Na Mensagem para o 9º Dia Mundial dos Pobres, que vivemos neste 33º Domingo do Tempo Comum, o Papa Leão XIV nos provoca dizendo: “O Dia Mundial dos Pobres pretende recordar às nossas comunidades que os pobres estão no centro de toda a ação pastoral”. Os pobres estejam no centro e não a beleza dos templos, a ornamentação dos altares, andores, berlindas…
Jesus complementa com uma outra exortação importante; “Cuidado para não serdes enganados” (versículo 8). Corremos o risco de sermos enganados pelos falsos pastores, na igreja católica e em outras igrejas cristãs, querendo fazer a gente viver uma fé desencarnada, alienante, de fuga do mundo, de medo de Deus que castiga, uma fé individualista, que existe para resolver os problemas de cada pessoa de forma isolada. Poderemos correr o risco ainda de ser enganados por falsas promessas feitas por líderes religiosos e por políticos, por intermediários do “deus lucro”, como tem sido as promessas das empresas que promovem o mercado do carbono como solução para o enfrentamento da crise climática e das empresas do agronegócio, da mineração, da exploração de petróleo e gás, da implantação das chamadas fontes limpas de energia, dos projetos governamentais para barragens, ferrovias e hidrovias, com promessas de dinheiro e outros falsos benefícios para pessoas individualmente, quebrando a força da união nas comunidades e sem a consulta prévia.
Jesus não promete vida fácil a seus seguidores: “Sereis presos e perseguidos, levados diante de reis e governadores por causa de mim” (versículo 12). A fidelidade à pessoa de Jesus e a seu evangelho pode nos causar problema. Basta conhecer a história dos mártires de todos os tempos, canonizados e não reconhecidos oficialmente pela Igreja. O que Jesus promete é recompensa para quem for perseverante, na perseguição: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (versículo 19).
Só nos resta ser corajosos, resilientes!
O caminho é viver o amor e ser solidário com os pobres!
Nossa tarefa permanente é trabalhar para que haja a paz, fruto da justiça (conferir Isaías 32, 17).
