Painel na Zona Verde da COP30 discutiu o tema da Educação como caminho para a conversão à ecologia integral

Na manhã desta terça-feira (18/11), na última semana de discussões na COP30, que se encerra o dia 21 de novembro, em Belém, tivemos um painel realizado no Pavilhão da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), na Zona Verde da COP30, dedicado à Educação

Os combustíveis fósseis são um dos principais culpados pelas mudanças climáticas, contribuindo decisivamente para o aumento da temperatura global. O abandono do seu uso e a promoção de novos estilos de vida, educação e formação para uma conversão ecológica estrutural foram o tema de discussão do encontro.

Os participantes do debate: Juan Esteban Belderrain, assessor do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM); Carlos Greco, reitor da Universidade de San Martín (Argentina) e membro da Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum (RUC); Darío Bossi, presidente da Rede Igreja e Mineração; e dom Lizardo Estrada, secretário-geral do CELAM. Um painel moderado por Agustina Rodríguez Saa, presidente da RUC.

RUC: Formando Líderes Conectados ao Território

O painel, segundo as palavras da moderadora, buscou refletir sobre o papel da educação no abandono dos combustíveis fósseis e na adoção de novos estilos de vida. Essa é uma das forças motrizes da RUC, uma rede que reúne universidades públicas e privadas, seculares e religiosas, garantindo a diversidade. A rede nasceu da inspiração da Laudato si’, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e do Acordo de Paris.

Mais de 200 reitores da RUC se encontraram com o Papa Francisco em 2023, como lembrou Rodríguez Saa. O pontífice enfatizou a necessidade de formar líderes e sua conexão com o território. Não podemos esquecer que a RUC tem presença na América Latina, na Península Ibérica e no Reino Unido. Isso confere maior importância à sua participação na COP30, dado o conhecimento que essas universidades têm do território.

Aceitando os Limites

Darío Bossi abordou a questão dos combustíveis fósseis sob a perspectiva dos limites, especificamente a ausência de limites na sociedade atual, que põe em risco as gerações passadas e futuras. Este é um limite sobre o qual a comunidade científica vem alertando em relação à Mãe Terra, que se depara com o conceito central do capitalismo: o crescimento. O problema reside em conciliar crescimento e limites, especialmente diante de falsas soluções e verdades, “um desafio filosófico e cristão que devemos abraçar”, enfatizou o missionário comboniano.

O caminho a seguir envolve aceitar e lidar com os limites, confrontar a crescente desigualdade e responsabilizar aqueles que geram as maiores emissões. Requer a capacidade de cultivar uma vida que transcenda o consumo e o desperdício, abraçando a sobriedade feliz e aprendendo a viver feliz com menos. A transformação deve começar com a compreensão dos limites e suas implicações para a vida cotidiana, no transporte, na produção e na diversificação dos investimentos.

O papel profético da Igreja

O documento das Igrejas do Sul, em preparação para a COP30, do qual o CELAM é signatário, “Um Apelo à Justiça Climática e à Nossa Casa Comum”, norteou a intervenção de dom Lizardo Estrada. Este documento exige “ações transformadoras dos Estados, fundamentadas na dignidade humana, no bem comum, na solidariedade e na justiça social, priorizando os mais vulneráveis, incluindo nossa irmã Mãe Terra”.

O Secretário-geral do CELAM delineou alguns elementos necessários para a geração de novos estilos de vida. Isso envolve evitar impactos irreversíveis, buscando soluções que unam justiça, ecologia e dignidade humana, superando paradigmas tecnocráticos e extrativistas, com políticas climáticas baseadas na equidade e em responsabilidades comuns, porém diferenciadas. É essencial levar em consideração as cosmovisões e práticas dos povos e comunidades locais, enfatizou Estrada.

Para isso, o envolvimento das Igrejas é necessário, levando à rejeição de falsas soluções e à defesa da justiça climática; eliminar os combustíveis fósseis; rejeitar a mercantilização da natureza; condenar o capitalismo verde; fortalecer a resiliência e a resistência das comunidades; defender a soberania dos povos indígenas; promover novos paradigmas baseados na solidariedade, na justiça social, na cooperação e no respeito aos limites; implementar programas educativos sobre o cuidado da nossa casa comum; cultivar a espiritualidade em todas as esferas; e criar o Observatório da Igreja para a Justiça Climática.

Isso está ligado a uma série de exigências feitas aos Estados quanto à implementação de mecanismos de governança climática com a participação ativa e vinculativa de todos. É necessário proteger as populações vulneráveis ​​das mudanças climáticas por meio de um pacto climático global e de um financiamento climático transparente e acessível que transcenda as soluções puramente baseadas no mercado. Para tanto, as Igrejas do Sul Global clamam por uma conversão ecológica, inspirada pela espiritualidade do cuidado. Isso envolve educação em consciência ecológica, comunhão com as vítimas e o fomento do diálogo e da profecia eclesial.

Educação para gerar novos agentes de transformação

A educação é o principal meio de alcançar as mudanças necessárias para enfrentar a crise climática, segundo Juan Esteban Belderrain. Ele questionou a falta de representação do mundo educativo nos espaços de tomada de decisão, destacando a importância do painel.

O desafio, nas palavras do consultor do CELAM, é a necessidade de moldar o conteúdo educacional, uma questão que gera conflitos e dificulta o consenso. Devemos buscar uma educação para novos estilos de vida, o que exige a compreensão de que não há consenso sobre isso. Tudo isso visa gerar novos agentes de transformação. Isso vai além de materiais didáticos que abordam a sustentabilidade e exige uma transformação da lógica e das relações institucionais.

Uma dinâmica em vista de evitar o que ele chama de “efeito vacina” do discurso, que nos desafia a ajudar a conscientizar de que a mudança climática é uma consequência do atual sistema de produção capitalista. Essa conscientização necessária, como disse Paulo Freire, não basta; devemos ir além, oferecendo aos estudantes a possibilidade de outra lógica, de outra forma de se relacionar com a natureza. Belderrain alertou sobre a “globalização da impotência”, como a descreveu Leão XIV, que nos leva a encarar os problemas com a consciência de que não podemos mudá-los.

Educar para transformar

Na universidade, o fundamento é trabalhar com o conhecimento para transformar a vida das pessoas por meio da educação, o que representa uma responsabilidade, afirmou Carlos Greco. O objetivo é uma autonomia responsável construída por meio do engajamento com a realidade que enfrenta. Nessa perspectiva, a universidade gera conhecimento que fomenta a compreensão da realidade da qual fazemos parte. Este processo abrange todo o processo educativo e estende-se a outros grupos, exigindo acordos institucionais que nos ajudem a compreender que não possuímos a verdade absoluta e que nos permitam construir novos processos.

Para Greco, a universidade assume o compromisso com a educação, entendendo que os estudantes assumirão uma responsabilidade social de trabalhar pelo bem comum, o que vai além do diploma que recebem. Isto exige um conhecimento transversal, visando cultivar a consciência de que o que produzirão é para o bem comum e para a sustentabilidade, gerando assim uma consciência prática baseada no conhecimento teórico e transmitindo às suas comunidades a consciência de criar um mundo melhor. Tudo isto se fundamenta no fato de que estes estudantes serão os líderes que moldarão as políticas públicas no futuro.

O desafio é concretizar “um capitalismo comprometido com o verdadeiro desenvolvimento, e não apenas com o crescimento”, sublinha o reitor. Isto requer investimento por parte dos governos, um desafio para os países do Sul Global, dados os seus elevados níveis de endividamento. Daí a necessidade de perdoar a dívida externa para melhorar as condições nos países em desenvolvimento, investindo na educação, um verdadeiro mecanismo de transformação social, concluiu.

Com informações VaticanNews

Tags: