Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen (RS)

 

O Domingo de Cristo Rei, celebrado no último domingo do ano litúrgico, marca o ápice do calendário da Igreja Católica, convidando os fiéis a reconhecerem Jesus como Rei do Universo. A realeza de Cristo não é exercida como um poder terreno de dominação, mas como um reinado de amor, serviço e salvação.  

Essa solenidade, instituída pelo Papa Pio XI em 1925 com a encíclica “Quas Primas”, contrapõe a realeza de Jesus aos reinos mundanos, destacando sua vitória sobre o pecado e a morte através da cruz.  

As leituras bíblicas deste dia ilustram essa realeza divina, convidando-nos a uma reflexão profunda sobre como Cristo governa nossas vidas, promovendo a reconciliação e tendo em vista a paz universal. 

A primeira leitura, extraída de 2 Samuel 5,1-3, narra a unção de Davi como rei de Israel. As tribos, reconhecendo a liderança de Davi escolhida por Deus, unem-se a ele em Hebron, onde ele é ungido rei sobre todo o Israel. Esse texto serve como prefiguração da realeza de Cristo, descendente de Davi.  

Aprendemos desta leitura que a realeza não surge do poder humano, mas da eleição divina. Davi, pastor e guerreiro, une o povo disperso, simbolizando como Cristo, o Bom Pastor, reúne a humanidade em um só rebanho.  

Essa leitura nos lembra que o verdadeiro rei é aquele que serve e protege, não o que oprime, preparando o terreno para entender a realeza messiânica de Jesus, que transcende fronteiras tribais e nacionais. 

Na segunda leitura, de Colossenses 1,12-20, São Paulo apresenta um hino cristológico que exalta a primazia de Cristo sobre toda a criação. O apóstolo agradece a Deus por nos transferir do reino das trevas para o reino do Filho amado, descrevendo Jesus como imagem do Deus invisível, primogênito de toda criatura, em quem tudo foi criado e reconciliado pela cruz.  

É enfatizada a dimensão cósmica da realeza de Cristo: Ele não é apenas rei de um povo, mas o centro do universo, o agente da criação e da redenção. Essa passagem corrige visões limitadas de poder, mostrando que o reinado de Cristo se manifesta na paz obtida pelo sangue da cruz, reconciliando céus e terra. É um convite a vermos em Jesus o alfa e o ômega, o cabeça da Igreja, que nos liberta do pecado para uma vida de gratidão e de louvor a Deus. 

O Evangelho de Lucas 23,35-43 traz a cena dramática da crucificação, onde Jesus é zombado pelos líderes, soldados e um dos ladrões crucificados ao seu lado, que o desafiam a salvar-se se for o rei dos judeus. No entanto, o “bom ladrão” reconhece a inocência de Jesus e pede: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino“. Jesus responde: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso“.  

Este texto revela o paradoxo da realeza de Cristo: Seu trono é a cruz, Sua coroa é de espinhos, e Seu reino é de misericórdia, não de violência.  

Lucas destaca a salvação oferecida mesmo aos pecadores arrependidos, mostrando que o reinado de Jesus é inclusivo, baseado na fé e no perdão. Essa narrativa culmina o ano litúrgico, convidando-nos a escolhermos o reino de Deus, seus princípios e valores, em meio à incompreensão e às zombarias do mundo. 

Em conclusão, o Domingo de Cristo Rei nos convida a coroarmos Jesus como soberano em nossos corações, reconhecendo Sua realeza como fonte de unidade e salvação.  

Para viver isso no dia a dia, podemos pensar em algumas práticas concretas:  

* começar o dia com uma oração de entrega, reconhecendo Cristo como rei de nossas decisões; 

* praticar, sempre que necessário, o serviço aos outros, imitando o rei que lava os pés, como em ações de caridade ou ajuda ao próximo; 

* e participar ativamente da Eucaristia, onde o Rei se faz presente no pão e vinho consagrado. 

Assim, transformamos nossa rotina em um testemunho vivo do reino de amor, preparando-nos para o Advento e o ciclo vindouro.  

Que essa solenidade nos inspire a viver como súditos fiéis de um Rei eterno. 

 

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