Jesus Cristo Rei do Universo! 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

 

A Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo foi instituída pelo Papa Pio XI, a 11 de dezembro de 1925, através da Carta Encíclica “Quas Primas”. Ao instituir esta festa, Pio XI quis propor ao mundo – saído há pouco da tragédia da I Guerra Mundial e mergulhado ainda em contradições que pareciam insanáveis – o regresso a Cristo, o reconhecimento da soberania de Cristo sobre a História e sobre a vida dos homens, o reencontro da humanidade com os valores cristãos e com a paz que só Cristo pode dar. Celebrada inicialmente no último domingo de outubro, esta festa acabou mais tarde por fixar-se no último domingo do ano litúrgico. 

A primeira leitura – 2Sm 5,1-3 – recorda-nos o momento em que Davi foi ungido como rei de todo o Israel. Com Davi iniciou-se uma época de felicidade e de abundância que ficou na memória de todo o Povo de Deus. O reinado de Davi tornou-se símbolo e anúncio de um tempo novo, de uma era de justiça, de bem-aventurança e de paz sem fim. O Povo de Deus vivia dessa esperança e aguardava ansiosamente a sua concretização. A unção de Davi e o seu reconhecimento como rei por parte de todas as tribos de Israel, faz-nos antever a imagem do próprio Cristo, que conduzirá o novo povo de Deus, pois nele, Deus Pai depositou o primado de todas as coisas.  

O Evangelho – Lc 25,35-43 – mostra a peculiar resposta de Deus à expetativa de Israel. Jesus é o “ungido de Deus”, o Messias-Rei enviado pelo Pai para inaugurar o reinado de Deus. Contudo, a realeza de Jesus soa estranha e paradoxal aos olhos do mundo: as armas que esse rei leva consigo são o amor e a misericórdia; a autoridade que esse rei reivindica é a do serviço simples e humilde; o trono que este rei ocupa é uma cruz onde Ele derrama o seu sangue em benefício de todos; os soldados que rodeiam esse rei são gente desarmada, que Ele irá enviar pelo mundo a anunciar o amor e a paz; os súbditos desse rei são todos aqueles que aceitam colocar as suas vidas ao serviço de Deus e dos irmãos. Decididamente, a realeza de Deus não funciona segundo a lógica dos grandes da terra. 

A investidura de Jesus de Nazaré se dá na Cruz, em meio a zombarias, açoites e blasfêmias. Como pode o Messias se declarar rei e, ao mesmo tempo, se revelar como servo justo e sofredor? O reinado de Jesus passa pela dinâmica do serviço, do perdão e da disponibilidade; da acolhida, da misericórdia e da proximidade. No início do Evangelho de Lucas, o anjo anunciou aos pobres pastores: “hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). No final, na sua crucificação, o próprio Jesus, Rei-Salvador, promete a quem se dirige a Ele com humildade: “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). 

Na segunda leitura – Cl 1,12-20 –, São Paulo apresenta-nos um hino que celebra a grandeza universal de Cristo, aquele que tem soberania sobre toda a criação e que é a cabeça da Igreja. O hino exorta os batizados a fazerem de Cristo a sua referência e a viverem em comunhão com Ele. Por Cristo passa, indubitavelmente, o caminho que conduz à vida eterna. 

Jesus Cristo, Rei do Universo, é o Filho de Deus – o Messias – nosso Salvador, a realização de todas as promessas feitas no Antigo Testamento. Contudo, seu reinado não se dá de forma impositiva, violenta ou cruel. A vivência da paz, da justiça e da fraternidade só pode se efetivar na proposta dos valores eternos do Reino. Acolhamos o Senhor como nosso Rei e Salvador, e depositemos nele nossa vida, nossa fé e nossa esperança. Ao celebrarmos os 100 anos desta Solenidade devemos, genuflexos, dizer e cantar com todo entusiasmo: Viva Cristo Rei do Universo e da nossa vida! 

 

 

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