Bispo de Frederico Westphalen (RS)
Iniciamos hoje um novo Ano Litúrgico com o Tempo do Advento, tempo de espera, conversão e esperança. A liturgia deste domingo nos convida a olhar para duas vindas de Cristo:
A sua primeira vinda na humildade da Encarnação, que celebraremos no Natal;
A sua segunda vinda gloriosa no fim dos tempos, quando virá para julgar vivos e mortos.
O Advento, portanto, abre diante de nós uma dupla perspectiva: a recordação de um passado, vivendo no presente com os olhos voltados para o futuro. Cristo veio, Cristo vem, Cristo virá.
Este primeiro domingo centra a nossa atenção na vigilância. A vinda do Senhor é certa; a hora é incerta. Por isso, o Evangelho exorta: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor”. A vigilância cristã não é medo, mas atitude de amor, fidelidade e esperança.
1ª Leitura – Isaías 2,1-5
Isaías nos apresenta uma visão grandiosa: “Para lá convergirão todas as nações” e “de suas espadas forjarão arados”. A vinda definitiva de Deus traz paz, reconciliação, justiça. A montanha do Senhor se torna o lugar simbólico onde a humanidade aprende os caminhos de Deus. O Advento abre nossos olhos para essa promessa: caminhamos rumo à plenitude do Reino.
2ª Leitura – Romanos 13,11-14
São Paulo é claro: “Já é hora de despertar do sono.” O cristão não pode viver adormecido no comodismo ou no pecado. A noite está avançada, o dia se aproxima. “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”: esta é a atitude fundamental do Advento, renunciar às obras das trevas e abraçar a vida nova em Cristo.
Evangelho – Mateus 24,37-44
Jesus recorda o tempo de Noé. Muitos viviam distraídos, e o dilúvio os surpreendeu. Assim será na vinda do Filho do Homem. O Senhor não quer nos assustar, mas nos despertar. Ele insiste: vigiem!
A vigilância não é paranoia nem ansiedade; é viver cada dia com amor, responsabilidade e fé. É estar de pé diante de Deus, com o coração preparado.
Comentário à luz do Catecismo (CIC 668–682)
O Catecismo nos ensina que, após sua Ascensão, Cristo reina à direita do Pai (CIC 668). Seu Reino está presente misteriosamente na Igreja, mas ainda não plenamente manifestado. Advento nos lembra esse “já e ainda não”.
Vivemos no tempo da Igreja, momento em que o Reino cresce, mesmo entre lutas e contradições. O Catecismo afirma que “desde a Ascensão, a vinda de Cristo na glória é iminente” (CIC 673), mas sua hora permanece desconhecida. Por isso, não cabem previsões humanas ou especulações; cabe vigilância humilde e confiante.
Além disso, o Catecismo ensina que antes de sua vinda gloriosa haverá provações e a última confrontação entre o bem e o mal (CIC 675–677). Mas a vitória é segura: Cristo virá como Senhor dos vivos e dos mortos (CIC 679).
A vinda gloriosa de Cristo não é motivo de medo para quem vive na fé. Pelo contrário, é causa de esperança: o Senhor virá para restabelecer definitivamente a justiça, destruir o poder do mal, ressuscitar os mortos e inaugurar os novos céus e nova terra. Diz o Catecismo: “A esperança cristã é a espera dos novos céus e da nova terra” (CIC 671).
Por fim, o Catecismo afirma: “A vida cristã consiste em vigiar assiduamente para que, ao fim de nossa única vida terrestre, mereçamos entrar com Ele no banquete das bodas” (CIC 672; 682). É exatamente a mensagem deste domingo.
Conclusão
Queridos irmãos, iniciando este Advento, peçamos ao Senhor um coração vigilante, desperto e cheio de esperança. Que Ele não nos encontre distraídos, mas empenhados no amor, na caridade e na construção do seu Reino.
Que Maria Santíssima, mulher do Advento e da esperança, nos ajude a acolher o Senhor que vem ao nosso encontro todos os dias e que virá glorioso ao final dos tempos.
Amém.
