Natal, tempo de luz que renova a esperança, chega para nos recordar aquilo que verdadeiramente permanece. Neste Ano Jubilar, caminhando como “Peregrinos da Esperança”, somos convidados a reler o Evangelho com os olhos fixos no mistério de Cristo, que entra na história para firmar nossos passos e orientar nossos caminhos.
O Evangelho deste tempo nos apresenta pessoas maravilhadas com a imponência do Templo de Jerusalém. Pedras grandiosas, construções sólidas, beleza admirável. Porém, Jesus afirma com serenidade: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra.” Estas palavras, longe de serem ameaça, revelam uma verdade profunda: tudo o que é humano passa. Nada daquilo que construímos com nossas mãos — por maior que seja — possui firmeza absoluta.
Neste Natal, enquanto as luzes brilham nas ruas e os presépios enfeitam casas e igrejas, somos chamados a recordar que o Deus que nasce não se revela em estruturas de pedra, mas na simplicidade de uma manjedoura. São Francisco de Assis, que tanto amou o Natal, dizia que Deus escolheu “a pequenez para derrubar toda arrogância humana”. A glória de Deus está no que não se vê, mas que transforma tudo.
Vivemos um tempo em que, assim como os antigos que admiravam o Templo, muitos confiam no brilho ilusório das aparências: tecnologia, status, poder, conforto, influências digitais, reconhecimento social. Mas basta um sopro da fragilidade humana — uma doença, uma crise, uma perda inesperada — para percebermos o quão instáveis são essas seguranças. São João Paulo II lembrava que “o homem moderno possui muitas coisas, mas muitas vezes não sabe quem é”. Eis o desafio espiritual de nosso tempo: reencontrar o essencial.
Jesus também nos adverte sobre as vozes que confundem. “Não sigais essa gente”, diz Ele. No mundo das redes, das opiniões instantâneas, dos falsos messias que prometem soluções rápidas, somos chamados ao discernimento. O Papa Francisco repetiu diversas vezes que “não podemos nos deixar enganar por esperanças artificiais; a verdadeira esperança tem rosto, e este rosto é Jesus”. É Ele quem ilumina este Ano Jubilar, conduzindo-nos como peregrinos que avançam, não por miragens, mas pela certeza de um Deus que caminha conosco.
E quando o Senhor diz que ouviremos falar de guerras, conflitos e catástrofes, Ele não nos manda temer. A fé não é um abrigo de fuga, mas uma fortaleza de confiança. O próprio Papa Bento XVI recordava que “a esperança cristã é performativa”, ou seja, ela transforma quem a acolhe. Mesmo diante de um mundo agitado, Deus permanece firme, conduzindo a história para além do que conseguimos ver.
Este é o sentido profundo do Natal: Deus entra no tempo para nos dizer que não estamos sozinhos. Ele nasce pobre para enriquecer nosso coração. Nasce pequeno para levantar o que está caído. Nasce frágil para sustentar nossas fraquezas. E neste Ano Jubilar, somos chamados a deixar que este Menino nos torne peregrinos que avançam com confiança, mesmo quando tudo ao redor parece incerto.
Querido povo de Deus, se as “pedras” das nossas seguranças humanas caem, alegremo-nos: permanece Aquele que é a Pedra Angular. Cristo é nossa paz, nossa estabilidade, nossa razão de caminhar. Nada no mundo é definitivo, mas Deus é sempre fiel. Como ensinou Santa Teresa D’Avila: “Tudo passa, só Deus não muda”.
Que este Natal reacenda em cada família da nossa Diocese de Itabuna a alegria de caminhar com o Senhor. Que, como verdadeiros peregrinos da esperança, aprendamos a confiar não no que brilha por fora, mas na luz que nasce dentro de nós.
Que o Menino Deus abençoe nossos passos, fortaleça nossa fé e renove nossa esperança.
E que, sustentados pela graça jubilar, possamos caminhar com coragem, certos de que Deus permanece, mesmo quando tudo parece desmoronar.
