Dom Genival Saraiva
Bispo Emérito de Palmares (PE) 

 

Tudo que existe na terra é temporal, é transitório. Os seres que nela habitam, segundo a sua própria condição, vivem essa transitoriedade, observando as leis da natureza e agindo conforme as disposições que regem o seu relacionamento. Sem dúvida, o lastro primeiro da harmonia, da coexistência e da convivência entre todos os seres tem sua sustentação nas leis da natureza, com sua regularidade. Esse olhar contempla os fenômenos naturais e os humanos. Aristóteles afirma: “A natureza não faz nada em vão”. A afirmação é assim compreendida: “Pode significar que todos os elementos e processos na natureza têm um papel e uma função específica, contribuindo para a harmonia do todo.” “Uma interpretação mais filosófica é que a natureza opera de forma a alcançar o melhor resultado possível dentro de suas limitações.” A filosofia aristotélica é seguida por Santo Tomás de Aquino, expressão maior da filosofia escolástica, empenhado em fundamentar a relação entre “a fé cristã e a razão”. 

A leitura cientifica da natureza foi por Lavoisier, no século XVIII: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” “A frase pode ser usada para defender a importância de preservar o meio ambiente, argumentando que cada elemento natural é valioso e necessário.” “Também serve como um lembrete de que devemos tentar entender os sistemas naturais em vez de interferir neles de maneira destrutiva, pois há um propósito por trás de tudo.” Essa leitura cientifica, política, social deve ser feita, permanentemente, porque as agressões à natureza se encontram num patamar inadmissível. Com efeito, a humanidade está sofrendo as consequências de intervenções danosas no cosmos e, não obstante a constatação dessa realidade, as autoridades mundiais, grupos econômicos e segmentos da sociedade continuem resistentes à implementação de medidas climáticas que podem atenuar e reverter o status quo, enquanto é tempo. Providências não assumidas em anteriores Conferências do Clima, como na Eco 92, no Rio de Janeiro, e no Acordo de Paris, em 2015, estão sendo cobradas pela natureza e pela sociedade. Constata-se, felizmente, que medidas adotadas pelas COPs “têm impulsionado grande parte da ação climática global até hoje”. A realização COP 30, em Belém, recentemente, e o resultado de seus trabalhos, conforme registros, estão “abaixo do necessário, apesar de avanços históricos na participação social”. 

A relação entre natureza e humanidade também é afetada por ações, omissões e confrontações de natureza político-administrativa que causam prejuízos à coletividade. As consequências da desarmonia política e social têm rosto próprio em cada continente, em cada país. Assim, nunca vistos num passado não muito distante, fenômenos naturais, como ciclones e tornados, chegaram ao Brasil, de modo mais acentuado nos Estados do Sul. A esperança exige mudanças “aqui e agora”, “sob pena de se pagar um tributo maior”, amanhã. Por certo, pessoas de bom senso percebem que há necessidade de mudança no “modus vivendi” das relações interpessoais e de segmentos da sociedade brasileira, em decorrência de radicalizações ideológicas, de mudanças no “modus operandi” no âmbito dos Poderes constituídos, cujos membros, por ofício, devem nortear sua conduta na direção do “bem comum”. A raiz da contaminação desse mal se encontra na mentalidade corporativa de pessoas/grupos, na prevalência dos interesses próprios da maioria de seus membros, por exemplo, quando põem a prioridade das políticas públicas à margem das determinações legais. Diante dessa realidade, diz-se: “o povo já era”! É preciso agir nesse campo, em vista de mudança que pode e deve ser conquistada, democraticamente, via voto consciente. A construção da cidadania terrestre, calcada nos valores da dignidade humana, da fraternidade solidária e da justiça social, é um imperativo que, responsavelmente assumido, lança sementes que produzem frutos que também serão colhidos na cidadania celeste. “Vinde, benditos de meu Pai”, dirá o Senhor no julgamento final. 

Ao longo Jubileu da Esperança de 2025, a Igreja, como instituição, seu povo e cada membro dessa família, em sua condição peregrina, contando com especiais graças de Deus, tomam consciência de sua missão de anunciar o Evangelho. O Papa Francisco, com sua intuição ministerial, com sua prática pastoral, enxergou a vivência deste Ano Santo com as luzes e graças da Virtude da Esperança “que não decepciona” (Rm 5,5). Agora, o Papa Leão XIV conduz a Igreja, contando com essa “virtude ativa e corajosa” e apresentando-a como “força que supera a tristeza e o desânimo, reafirmando a dignidade humana e a confiança na ação divina.” A Igreja incorporou o Ano Santo ao calendário de suas Celebrações, a cada 25 anos, sabendo que é um tempo especial de graças para os fiéis. O Jubileu da Esperança será encerrado nas Igrejas Particulares, no dia 28 de dezembro, na Festa da Sagrada Família, e em Roma, no dia 6 de janeiro de 2026, na Solenidade da Epifania. 

As mudanças no mundo da natureza são lidas com a lente do espírito de observação e da ciência; as mudanças no universo da convivência social e política são constatadas ou exigidas pelos cidadãos; as mudanças na vida da Igreja passam pelos caminhos da conversão, da administração, da evangelização; as mudanças no plano das consciências individuais, por serem as mais profundas, são experimentadas, à luz da Fé, Esperança e Caridade, de conformidade com a perseverança, a fidelidade das pessoas, nas suas relações com Deus e com seus semelhantes.  

 

 

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