Bispo de Frederico Westphalen (RS)
O 2º Domingo do Advento, no Ciclo A, convida os fiéis a uma preparação ativa para a vinda do Senhor, enfatizando a conversão interior e a esperança messiânica. Neste domingo, a liturgia destaca a figura de João Batista como precursor, anunciando o Reino dos Céus e chamando ao arrependimento. Um tema central que permeia as leituras é o acolhimento mútuo, inspirado na unidade em Cristo. Esse acolhimento não é mero gesto social, mas uma expressão de fraternidade que reflete a harmonia divina, convidando-nos a superar divisões e a viver em paz, preparando o caminho para Aquele que une judeus e gentios, ricos e pobres, em uma única família humana. Assim, o Advento nos recorda que a espera pelo Messias se concretiza na construção de relações de mútuo respeito e solidariedade, onde cada um é acolhido como imagem de Deus.
Primeira Leitura: Isaías 11,1-10
Esta passagem profética descreve a vinda do Messias como um “rebento” da linhagem de Jessé, cheio do Espírito do Senhor, que julgará com justiça e equidade. O texto pinta um quadro de paz universal, onde todos convivem harmoniosamente, simbolizando a restauração da criação. O profeta Isaías nos inspira a esperar um reino de justiça onde o conhecimento de Deus preenche a terra, convidando-nos a uma conversão que antecipa essa harmonia cósmica.
Segunda Leitura: Romanos 15,4-9
São Paulo exorta os cristãos a encontrar esperança nas Escrituras, que nos instruem para a perseverança. Ele enfatiza que Cristo se tornou servo de todos, para confirmar as promessas e permitir que os gentios, pela misericórdia, também glorifiquem a Deus. O apelo central é ao acolhimento mútuo, “como Cristo vos acolheu”, promovendo a unidade e a glória de Deus. Em resumo, esta leitura nos chama a viver a fraternidade cristã, superando barreiras étnicas ou sociais através da paciência e do consolo mútuo.
Evangelho: Mateus 3,1-12
João Batista surge no deserto da Judeia proclamando: “Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. Ele critica a hipocrisia dos fariseus e saduceus, exortando a produzir frutos dignos de conversão, e anuncia Aquele que batizará com o Espírito Santo e fogo, separando o trigo da palha. O Evangelho de hoje nos urge a uma preparação radical, nivelando os caminhos interiores para acolher o Messias que julga e purifica.
A Comunidade Humana no Catecismo e o Espírito do Advento
No Catecismo da Igreja Católica (CIC), nos parágrafos 1877–1948, a doutrina sobre a “Comunidade Humana” aprofunda o tema deste domingo, ligando a preparação adventícia à vocação social do homem. Esses parágrafos, inseridos na seção “A Vida em Cristo”, afirmam que todos os seres humanos são chamados à mesma finalidade em Deus, refletindo a unidade da Trindade na fraternidade humana (1878). A pessoa necessita da vida social para se realizar, pois a sociedade é um conjunto orgânico que promove o serviço mútuo e o diálogo, com a pessoa como princípio, sujeito e fim de todas as instituições (1879–1881). Isso ecoa o acolhimento mútuo da liturgia, onde o Advento nos prepara não só individualmente, mas como comunidade que antecipa o Reino.
O Catecismo indica que os cristãos, promovendo associações livres que fomentem a iniciativa e a responsabilidade, harmonizando relações para o bem comum, colaboram para que se realizem as condições sociais que permitam o aperfeiçoamento das pessoas e dos grupos, favorecendo o respeito aos direitos fundamentais, o bem-estar e a paz (1905–1909). No contexto do Advento, isso reforça a esperança messiânica: assim como Isaías vislumbra uma paz universal e São Paulo exorta à unidade, o bem comum universal (1911) como exigência de uma organização global que acolha todos, superando divisões.
A autoridade, fundamentada em Deus, deve servir o bem comum com meios lícitos, promovendo a participação voluntária na vida social como dever da dignidade humana (1897–1904, 1913–1915). A justiça social, por sua vez, garante que cada um obtenha o que lhe é devido, respeitando a dignidade transcendente da pessoa e combatendo desigualdades iníquas que contradizem o Evangelho (1928–1938). A solidariedade, como virtude cristã, manifesta-se na repartição de bens e na resolução de conflitos, priorizando os pobres e estendendo-se às nações, inspirada na redenção de Cristo que une a humanidade (1939–1942).
Unindo ao tema do 2º Domingo do Advento, esses ensinamentos convidam a uma conversão que constrói a comunidade humana como antecipação da vinda de Cristo. O acolhimento mútuo não é opcional, mas essencial para a solidariedade que reflete o amor de Deus, preparando-nos para o Reino onde a justiça e a paz se beijam, como profetizado por Isaías. Assim, o Advento nos impulsiona a viver essa doutrina social, transformando nossas relações em testemunho vivo da esperança cristã.
