Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo de Teófilo Otoni (MG)
No início das Sagradas Escrituras, encontramos o relato da queda de nossos primeiros pais. Criados santos por Deus, foram vencidos pela tentação. Eva, a primeira mãe da humanidade, em sua condição de pecadora, introduz no mundo a dor e o sofrimento. Contudo, Deus nunca abandonou a humanidade: acompanhou-a com amor de Pai e veio ao seu encontro, enviando o Filho Jesus, restaurador da criação, para fazer surgir um mundo novo, um homem novo, inaugurando uma nova história de amor e de comunhão com Ele.
Maria, cuja Imaculada Conceição celebramos — um dos grandes dogmas marianos — é a nova mulher em oposição ao pecado. Deus a preparou santa desde o princípio, desde a sua concepção. O Filho que dela nasceria é o Santo por excelência. Sendo Filho de Deus, não poderia vir marcado pelo pecado; por isso, a Virgem Maria foi preservada da mancha original e gerada toda santa. A maternidade divina manifesta a ternura de Deus, que prepara para si uma Mãe pura e imaculada.
Quando o anjo a saúda, proclama: “Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Nestas palavras está implícita a verdade de que Maria é plena da graça, revestida da bondade divina. Ao celebrar a Imaculada Conceição, contemplamos o olhar amoroso de Deus voltado para Joaquim e Ana, os pais de Maria. Naquele momento de concepção, a humanidade começou a experimentar a libertação definitiva: Deus preparava a vinda do Salvador e, para que o Santo nascesse, gerou uma Mãe toda santa.
Por isso ela é “cheia de graça”. A saudação do anjo indica a plenitude da graça anterior à Anunciação; significa que desde o primeiro instante de sua existência, a ação divina já habitava seu coração. Ela é bendita entre as mulheres, e o fruto que traz em seu ventre é o Bendito por excelência. Quando Maria visita Isabel, revela-se sua singularidade espiritual: a presença do Espírito transborda e santifica.
Deus enviou o Filho por meio de uma mulher. A Imaculada Conceição é luz no caminho da santificação. Celebrar esta solenidade é permitir que a paz que emana de Maria alcance o nosso coração. Onde Maria está, a paz acontece. Que este seja tempo de contemplação e de súplica, pedindo que ela renove nossa fé e nos inspire no caminho do amor e da compaixão.
O caminho do amor — ensinado por Jesus — e o da compaixão, da ternura, são urgentes no mundo marcado pela dor e pelo sofrimento. Acreditamos que Deus faz o impossível: o que aos homens parece inalcançável, para Deus é possível. Assim como transformou a história por meio de Maria, Ele transforma também os nossos corações.
A Virgem Maria é modelo para todo cristão: desde sua concepção imaculada até a vida de serviço e doação. Serviu Isabel, intercedeu nas bodas de Caná, buscou o Menino no Templo, apresentou-o no Templo e ouviu de Simeão a profecia da espada que transpassaria sua alma. Permaneceu firme junto à cruz e acompanhou os discípulos no nascimento da Igreja. Maria é, portanto, exemplo de perseverança, fé e esperança para os peregrinos do amor.
Na Imaculada Conceição, contemplamos o cumprimento da promessa feita a Abraão, realizada plenamente em Cristo, que veio ao mundo por Maria. Nas Escrituras encontramos essa luz: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela.” (Gn 3,15). O mal não prevalecerá, pois o amor é mais forte. Também ouvimos Isabel proclamar: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.” (Lc 1,42). A plenitude da fé nos conduz ainda ao apelo da santidade: “Sede santos, porque Eu sou santo.” (1Pd 1,15-16). A Imaculada nos recorda que o batismo nos vocaciona à santidade.
Celebremos, pois, amados irmãos e irmãs, a Imaculada Conceição com coração filial, sentindo a paz e a presença da Virgem Maria em nossa vida. Ela cuida de seus filhos — e cuida de cada um de nós. Os filhos podem esquecer-se da mãe, mas a Mãe jamais abandona os seus. Está ao lado de todos, inclusive dos que não a amam. Está presente, maternalmente, em nossa história e em nosso caminhar.
Que a Virgem Maria, Senhora Imaculada Conceição, nos abençoe e nos conduza à plenitude da graça.
