Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Celebramos, no dia 12 de dezembro, a festa litúrgica de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira do México e da América Latina. Guadalupe é um dos tantos títulos que temos concedidos a Nossa Senhora, que recebe um determinado título devido à circunstância da aparição ou ao local em que Ela apareceu. Nossa Senhora recebe o título de Guadalupe porque apareceu no monte Tepeyac, perto da capital, em socorro ao indígena Juan Diego. Ela aparece como um “rio de luz” que veio para iluminar a vida do indígena e a de todos nós.
A aparição de Nossa Senhora em Guadalupe teve dois motivos principais: primeiro, ajudar o recém-convertido indígena Juan Diego, fortalecer a sua fé e fazer com que, por meio de sua fé, o seu tio, que estava doente, ficasse curado. Em segundo lugar, a aparição de Nossa Senhora em Guadalupe tinha o intuito de acabar com a idolatria pagã e ajudar a espalhar o cristianismo nas Américas.
O nome “Guadalupe” é sinônimo de fé, proteção e milagre; tinha o intuito de fortalecer a fé do indígena e de todo o povo daquela região. Inclusive, fortalecer a fé dos próprios membros da Igreja, até mesmo o bispo, que num primeiro momento não acreditou nas palavras do indígena. Como de costume, as aparições de Nossa Senhora se davam com o intuito de ajudar os mais humildes e pobres, principalmente quando esses eram oprimidos pelos poderosos. Nossa Senhora vem em socorro dos humildes e, ainda, as aparições de Nossa Senhora tinham o intuito de fortalecer a fé de todo o povo.
Meus irmãos, da mesma forma, as aparições de Nossa Senhora não têm o intuito de revelar Ela própria, mas de apresentar o seu Filho Jesus à humanidade, além de trazer uma mensagem para a humanidade. A mensagem central é que as pessoas fortaleçam a fé no Filho de Deus, abandonem as guerras, o ódio e a violência e se abram ao amor. E que cada fiel aumente a sua fé e edifique o Reino de Deus aqui na terra.
Neste mês de dezembro, além da festa litúrgica de Nossa Senhora de Guadalupe, celebramos, em 08 de dezembro, a solenidade da Imaculada Conceição e no dia 10 a de N. Sra. de Loreto, a devoção a N. Sra., do Ó ou da Expectação, um mês especial para todos nós, pois, além de celebrarmos o Natal do Senhor, dia 25, comemoramos festas importantes dedicadas à Mãe de Jesus. E ainda celebramos a Sagrada Família no domingo, dia 28, e com essa festa encerraremos o Ano Jubilar da Esperança.
Era um sábado do ano de 1531, na colina de Tepeyac, perto da capital. Nossa Senhora faz um pedido ao indígena Juan Diego: que ele fosse até o bispo e lhe pedisse que, naquele local, fosse construído um santuário para o louvor e glória de Deus. O bispo, usando de prudência, pede ao indígena um sinal da Virgem Maria, pois, evidentemente, não poderia acreditar somente na palavra do indígena num primeiro momento. Esse sinal só foi concedido ao indígena na terceira aparição da Virgem Maria a ele. Isso ocorreu quando o índio buscava um sacerdote para o seu tio que estava doente.
Nossa Senhora diz ao indígena para não se preocupar nem se assustar com a doença de seu tio, nem com qualquer outro dissabor ou aflição. Nossa Senhora diz ao indígena que está ao seu lado e ele deve acreditar nisso; ela estava ali para cuidar dele. Nossa Senhora pede que Juan Diego não se aflija nem perturbe o coração. Quanto à doença do seu tio, ela não é mortal; ela pede para que ele acredite, pois seu tio já está curado.
Nossa Senhora entrega rosas ao indígena para que ele as levasse ao bispo, e, por meio daquelas rosas, ele veria qual a verdadeira vontade de Nossa Senhora, e essa vontade seria cumprida. Ela diz que Juan Diego é seu embaixador e merece toda a sua confiança. Nossa Senhora não apareceu primeiramente ao bispo, ou aos poderosos e letrados deste mundo, mas aparece ao humilde servo Juan Diego, do mesmo modo que Deus escolheu Nossa Senhora, a humilde serva, para gerar o seu Filho Jesus. É dos mais humildes que vem a fé mais confiante. Tanto que o indígena Juan Diego acredita, com toda a confiança, nas palavras da Virgem Maria.
Nossa Senhora ainda recomenda ao indígena: “Quando chegar diante dele, desdobre a sua ‘tilma’ (manto) e mostre-lhe o que carrega, porém, só em sua presença. Diga-lhe tudo o que viu e ouviu, nada omita.” O índio nem precisou falar muito, e o bispo, ao ver as rosas, observou também a imagem de Nossa Senhora, pintada prodigiosamente no manto do humilde indígena. O bispo levou o manto, junto com as rosas, para a capela e, chorando, pediu perdão a Nossa Senhora. Era 12 de dezembro de 1531.
A confirmação da intercessão de Nossa Senhora e de que Ela entregou, de fato, as rosas ao indígena Juan Diego foi quando ele foi visitar o seu tio, que, até então, estava doente: o encontrou em perfeito estado de saúde, e ele narrou: “Eu também a vi. Ela veio a esta casa e falou a mim. Disse-me também que desejava a construção de um templo na colina de Tepeyac e que sua imagem seria chamada de ‘Santa Maria de Guadalupe’, embora não tenha explicado o porquê”. Diante disso, muitos se converteram e o santuário foi construído.
O grande milagre de Nossa Senhora de Guadalupe, porém, é a sua própria imagem. O tecido, feito de cacto, não duraria mais do que vinte anos, e esse já existe há mais de quatro séculos e meio. Durante 16 anos, a tela esteve totalmente desprotegida, sendo que a imagem nunca foi retocada e, até hoje, os peritos em pintura e química não encontraram nenhum sinal de corrupção. No ano de 1971, alguns peritos indevidamente deixaram cair ácido nítrico sobre toda a pintura, e nem a força de um ácido tão corrosivo estragou ou manchou a imagem.
A imagem foi coroada em 1875, durante o pontificado de Leão XIII. Nossa Senhora de Guadalupe foi declarada padroeira de toda a América pelo Papa Pio XII, no dia 12 de outubro de 1945. A nova Basílica foi construída em 1976 e reúne, todos os anos, milhões de peregrinos. Os fiéis demonstram o amor e a fé pela Santa de Guadalupe. O manto do indígena Juan Diego permanece preservado no santuário.
Em 1754, o Papa Bento XIV declarou: “Nela tudo é milagroso: uma imagem que provém de flores colhidas num terreno totalmente estéril, no qual só podem crescer espinheiros… Uma imagem estampada numa tela tão rala que, através dela, pode-se enxergar o povo e a nave da Igreja… Deus não agiu assim com nenhuma outra nação.”
São João Paulo II esteve, em 1979, no santuário, durante uma viagem apostólica ao México, visitou o Santuário de Guadalupe e consagrou a Virgem de Guadalupe como padroeira de toda a América Latina.
Irmãos e irmãs, celebremos com alegria a festa de Nossa Senhora de Guadalupe e peçamos que Ela interceda por nós junto ao seu Filho Jesus. Tenhamos a mesma fé e humildade do indígena Juan Diego e que possamos reconhecer a presença materna de Nossa Senhora no meio de nós. Que Ela nos aponte o caminho da humildade e da obediência e possamos fazer, em tudo, a vontade de Deus.
