Solenidade do Natal do Senhor – Missa do Dia 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

Solenidade do Natal do Senhor – Missa do Dia 

“Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus” (Sl 97/98) 

 

Celebramos na quinta-feira, dia 25 de dezembro, a Solene Missa do Dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Durante o Natal, temos quatro celebrações, pois o Natal é um grande mistério que não deve se resumir a apenas uma celebração. Assim acontece também com a Páscoa, dois grandes mistérios que envolvem a vida de Jesus. Propriamente no Natal, temos as celebrações da Vigília do Natal, da Noite do Natal, da Aurora do Natal e do Dia de Natal.  

Mesmo que não participemos das quatro missas propostas para esse dia, mas somente das duas — Noite e Dia —, meditemos os textos sagrados propostos para as quatro celebrações, pois os textos conversam entre si, e uma celebração está ligada à outra. Celebrar o Natal do Senhor é motivo de grande alegria, pois o Salvador, o Emanuel, o Deus conosco, está em nosso meio. 

Esse menino que nasce em Belém veio para ensinar à humanidade o caminho do amor, da humildade e da misericórdia. Ao contemplar o Menino Jesus no presépio, podemos voltar o nosso olhar para a cruz, pois esse menino que hoje nasce selará, na cruz, a eterna aliança entre Deus e a humanidade. O Natal tem a sua importância, mas a festa central do calendário cristão é a Páscoa. 

Que neste dia, possamos fazer como os pastores em Belém: ir até o presépio, adorar o Menino Deus e oferecer-lhe presentes. Não ofereceremos mais ouro, incenso ou mirra, mas ofereceremos a nossa vida. E ainda, que possamos agradecer a Deus por nos ter dado tão grande presente. Por isso, ao final da missa, contemple o presépio e medite sobre  o Menino Deus ali deitado na manjedoura, ou até mesmo reze diante do presépio em sua casa. 

Como observamos no Evangelho, o Verbo se fez carne e habitou entre nós: no princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. Essa Palavra se fez carne para nos indicar o caminho da salvação. Rezemos, neste dia, pela Igreja, para que continue sendo fiel no anúncio de Jesus Cristo e convertendo muitas pessoas para Deus. Que o nascimento de Jesus ensine à humanidade o caminho da fraternidade e da paz e que, ao invés de muros, possamos construir pontes. Estamos para terminar o ano jubilar da esperança; que este Natal renove em nós a esperança de um mundo melhor e aumente a nossa fé. 

A primeira leitura da missa é da profecia de Isaías (Is 52,7-10). Isaías diz como são belos os pés do mensageiro, daquele que anuncia a paz e o bem. Jesus é esse mensageiro de Deus que anuncia à humanidade o caminho da salvação. O Senhor se lembrou de Jerusalém, e após o tempo do exílio e do deserto, o povo desfrutará de sua terra; a terra deserta e árida se transformará em frutífera. Isaías, que viveu há cerca de quatrocentos anos antes do nascimento de Cristo, prevê que, com o nascimento de Jesus, Deus selaria uma nova e eterna aliança com a humanidade e que a paz reinaria. A justiça de Deus se concretizaria com o nascimento de Jesus. 

O salmo responsorial é o 97 (98), que nos diz em seu refrão: “Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus”. Através do nascimento de Jesus, é aberto o caminho da salvação, e todo o universo contempla essa salvação. A salvação de Deus é para todos; basta querer abrir-se para essa salvação que Ele quer oferecer. Todo o universo deve alegrar-se com o nascimento de Jesus Cristo, e todos os povos devem unir-se para a construção da paz. 

A segunda leitura desta Missa de Natal é da Carta aos Hebreus (Hb 1,1-6). O autor sagrado diz que, de muitos modos, Deus falou à humanidade e, nestes dias, falou por meio de seu Filho, Jesus Cristo. Jesus é o herdeiro, e por meio d’Ele Deus criou o universo, pois Jesus é a Palavra encarnada do Pai, e Deus criou o mundo por meio da Palavra. Ele morreu na cruz para nos perdoar de nossos pecados e para selar a aliança entre Deus e a humanidade. Agora, do céu, Ele intercede por nós, e todos os anjos o adoram. 

O Evangelho do dia desta Solenidade do Natal do Senhor é de João (Jo 1,1-18). Esse trecho é o início do Evangelho de João e é conhecido como o “Prólogo de São João”. Ele inicia dizendo que, no princípio, era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. No princípio, estava ela com Deus. Deus criou o mundo por meio da Palavra, e depois essa mesma Palavra se fez carne. Essa Palavra é o próprio Cristo, que veio para iluminar a vida daqueles que caminhavam em meio às trevas. 

Antes de Jesus, porém, veio um homem, um grande profeta chamado João Batista, conhecido como o Precursor, que pregava um batismo de conversão e preparava as pessoas para a chegada do Reino de Deus, que viria com Jesus. Ele vivia no deserto e nas montanhas e anunciava que Jesus Cristo é aquele que viria para iluminar as trevas e endireitar os caminhos tortuosos. João Batista não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Ele não era o Messias, mas veio preparar o caminho. 

A Palavra estava no mundo, mas o povo não quis conhecê-la, rebelou-se contra Deus e não queria fazer a sua vontade. Por isso, João Batista pregava um batismo de conversão, advertindo as pessoas de que o Reino de Deus está próximo. O Reino de Deus é justiça, paz, perdão, amor e misericórdia; tudo isso advém da Palavra de Deus, que Jesus anuncia. Ele próprio é o Reino de Deus, e nós somos convidados a vivê-lo no dia a dia. 

A Deus ninguém jamais viu, mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer. Veio na forma de menino, no seio de uma família, cresceu, amadureceu e, a partir de seu batismo, iniciou a vida pública e saiu para anunciar o Reino de Deus. 

Celebremos com alegria esta Solenidade do Natal do Senhor. Sobretudo, agradeçamos a Deus por nos ter dado tão grande dom: o nascimento de seu Filho. Que, por meio do nascimento de Jesus, a humanidade possa se conscientizar de que todos nós devemos ser construtores da paz. Contemplemos Jesus no presépio, com o olhar voltado para a cruz, de onde nos veio a salvação. Que este santo dia seja feliz e se perpetue em nossa vida. Sejamos sempre manjedouras para acolher Jesus, que veio ao mundo para nos salvar. 

 

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