Solenidade do Natal do Senhor – Missa da Noite 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 


 

“Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc 2,14). 

Celebramos na quarta-feira, dia 24 de dezembro, a véspera de Natal. A partir das 18h, é possível celebrar a Missa da Noite de Natal, e somos convidados a participar. No Natal também acontecem outras duas missas para nossa participação: a Missa da Vigília e a Missa da Aurora. 

Nessa noite recordamos aquilo que aconteceu há mais de dois mil anos, mas não como algo antigo ou distante de nós. O nascimento de Jesus se atualiza hoje em nossa história. Ele continua presente no meio de nós e, hoje, Ele quer nascer em nossa família. Quando nos reunirmos para a ceia e confraternizarmos com a nossa família, não podemos esquecer do nosso maior presente, que é Jesus Cristo, que nasceu para nos salvar! 

As paróquias costumam celebrar essa missa por volta das 20h00, por questões pastorais e, muitas vezes, até de segurança, pois essa Missa da Noite é a conhecida “Missa do Galo”, que deveria ser celebrada à meia-noite — o que ainda acontece em alguns lugares. É chamada Missa do Galo porque o galo é o primeiro a cantar quando amanhece o dia, e Jesus é o Sol nascente que veio nos visitar. 

Façamos o esforço de participar dessa missa antes de nos confraternizarmos e cearmos com a nossa família. Essa é a missa que toda a família deveria participar, agradecendo a Deus pelo grande dom que nos concedeu ao enviar Seu Filho ao mundo para nos salvar. O Emanuel, o Príncipe da Paz, o Deus conosco, está em nosso meio; por isso, rendamos graças ao Senhor. 

Peçamos nessa Noite Santa que o Menino Jesus nos traga a paz e deixemos que Ele reine em nossa casa e em nossa família. Precisamos de muita paz: em nossa família, em nossa casa, em nossa cidade, em nosso país e no mundo inteiro. Que todos os povos se unam e busquem no diálogo o caminho da paz.  

No próximo dia 28, Domingo da Sagrada Família, encerraremos o Ano Jubilar da Esperança; que, através dessa esperança, tenhamos fé na paz que o Messias traz. Não tornemos essa noite triste ou sem sentido; pelo contrário, ela tem total sentido e deve ser cheia de alegria, pois Jesus nasceu nessa noite, e Ele deve ser a causa da nossa alegria. 

Imaginemos, irmãos e irmãs, a alegria de Nossa Senhora e de São José nessa noite, pois geraram o Filho de Deus. Eles também assumiram uma grande missão e disseram “Sim” a Deus. Que possamos nos encher da mesma alegria e assumir a missão de ser anunciadores da paz. Sejamos missionários e levemos a alegria que vem de Jesus aos entristecidos, agradecendo a Deus o dom da nossa vida. 

Nessa Noite Santa, o Verbo que se fez carne nasceu e habitou entre nós. Deus se dignou a assumir a condição humana para ensinar à humanidade o caminho do amor e da paz. O Sol nascente veio nos visitar e iluminar com a sua luz. Não deixemos que a luz de Deus se apague em nós, mas que ela continue viva e acesa. 

A primeira leitura da missa é do profeta Isaías (Is 9,1-6). Isaías viveu há cerca de quatrocentos anos antes de Cristo. Ele prevê aquilo que aconteceria com o nascimento de Jesus Cristo. Isaías estava no contexto do retorno do exílio da Babilônia, e o povo encontrava-se triste e desanimado. Isaías diz que o povo que andava na escuridão viu uma grande luz e, para aqueles que andavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. A tristeza deu lugar à alegria, e o povo que andava nas trevas viu uma grande luz. As trevas representam a escuridão e o pecado, e Cristo vem iluminar as trevas e nos redimir do pecado. Naquele momento, o povo voltava de um período de escuridão e de pecado, que era o exílio da Babilônia, e, de agora em diante, voltou para sua terra sob a luz do Senhor. 

O Menino que vai nascer restabelecerá a aliança rompida pelo povo e selará uma aliança eterna entre a humanidade e Deus. Ele há de ser o Príncipe da Paz, Conselheiro Admirável, Deus Forte. Ele anunciará a paz e seu reinado será, sobretudo, em favor dos humildes; Ele pregará a justiça e a paz. 

O salmo responsorial é o 95 (96), que nos diz em seu refrão: “Nasceu hoje para nós o Salvador, o Messias que é o Cristo, o Senhor.” Esse refrão vai ao encontro do que ouvimos na primeira leitura e do que celebramos nesta noite. O Messias era esperado há muito tempo por todo o povo judeu. Eles esperavam que o Messias viria como um forte guerreiro, justiceiro e poderoso; mas, ao contrário, o Messias veio pobre e humilde, a fim de reconduzir todos para Deus e ensinar o caminho do amor. Entoemos um cântico de louvor ao Senhor nesta Noite Santa. 

A segunda leitura é da carta de São Paulo a Tito (Tt 2,11-14). Paulo diz a Tito que a graça de Deus se manifestou sobre todos nós, pois Deus nos presenteou com o nascimento de Seu Filho. A morte de Cristo na cruz foi para selar a aliança entre Deus e a humanidade e para redimir a humanidade do pecado. Foi um sinal da graça e da misericórdia de Deus. Agora, aguardemos a segunda vinda de Cristo — não sabemos quando será, mas estejamos em constante oração e vigilância. Nós, como cristãos, aguardamos a segunda vinda de Cristo; Ele já nasceu uma vez, preparemo-nos para o encontro com o Senhor. 

O Evangelho dessa Noite Santa é de Lucas (Lc 2,1-14). Esse trecho relata quando José e Maria foram até a sua cidade natal a fim de registrarem-se como moradores, para cumprir o decreto do imperador César Augusto. Eles subiram de Nazaré, na Galileia, para Belém, na Judeia, por serem da descendência de Davi. 

Aconteceu que, enquanto subiam, completou-se o tempo da gravidez de Maria, e ela deu à luz seu Filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou numa manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria. Não havia lugar para o Filho de Deus nascer, e Jesus nasce numa estrebaria — um local onde se guardavam os cavalos. O Filho de Deus nasce humilde para mostrar à humanidade que não importa o ter e o poder, mas o que importa é o amor. O Filho de Deus tinha que nascer assim para mostrar à humanidade que o Reino de Deus não se constrói com guerras e espadas, mas se constrói no silêncio, na humildade e no amor. 

Que nesta Noite Santa o Senhor encontre lugar para nascer; que Ele bata à porta de nossa casa e encontre espaço. Que nossas famílias se reúnam para confraternizar, mas, sobretudo, para agradecer ao Senhor. Perto da meia-noite, reze um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e um Glória ao Pai, e coloque o Menino Jesus na manjedoura. Dessa forma, permitiremos que o Senhor entre em nossa casa. 

Os pastores que habitavam aquela região, ao verem no céu uma estrela diferente e se perguntarem o que seria aquilo, viram um anjo do Senhor aparecer-lhes e dizer que não tivessem medo, anunciando-lhes uma grande alegria: naquela mesma noite, na cidade de Davi, nascia um Salvador, que é o Cristo Senhor. Eles vão até o local e encontram tudo conforme o anjo lhes havia dito: encontram o Menino envolto em faixas e deitado na manjedoura. Que possamos também avistar a estrela no céu, como os pastores, e dar graças a Deus. 

Celebremos com alegria esta Noite Santa do nascimento do nosso Salvador, Jesus Cristo. Que, nesta noite, não nos esqueçamos do dono da festa, que é Jesus Cristo. Entoemos um cântico de louvor, do mesmo modo que os anjos entoaram: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por Ele amados” (cf. Lc 2,14). 

Tags:

leia também