Onde está o rei que acaba de nascer? 

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

A peregrinação dos Magos é uma espécie de parábola que nos revela como deve ser a vida cristã: uma busca contínua de Deus que encontra obstáculos dentro e fora de nós, mas nunca podemos parar, acomodar-nos, dar-nos por vencidos. O itinerário dos magos é o mapa da existência humana, onde a procura, as perguntas, as dúvidas jamais estarão plenamente respondidas e a busca jamais concluída. Em outras palavras, a vida cristã se faz no seguimento de Jesus Cristo, numa eterna peregrinação.  

Os textos da liturgia da Epifania revelam que a busca de Deus envolve cada pessoa, povos, religiões, raças e línguas, pois o Salvador Jesus Cristo veio ao encontro de toda a humanidade e para todos os tempos (Isaías 60,1-6, Salmo 71, Efésios 3,2-6 3 Mateus 2,2-12). Os Magos representam todos nós. Todos devem trilhar um caminho guiados por uma estrela e informar-se: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. 

A narrativa da visita dos Magos acentua dois temas principais: a sabedoria que conduz à procura do recém-nascido e a revelação de Jesus como o Messias, glória de Israel e luz das nações. Jesus já nasceu, agora trata-se de descobrir “onde” se pode encontrá-lo. A sabedoria é a estrela que desperta o desejo de procurar, a Escritura indica a direção daquilo que procuramos, quando acontece o encontro o coração se enche de uma grande alegria, leva à adoração e à mudança do caminho a percorrer. 

Nós já sabemos “onde” nasceu o salvador, mas isto não basta. Devemos fazer o itinerário dos Magos, como o esforço de um caminho noturno cheio de fascínio e de medo, de desejos e de dúvidas, de esperanças e de incertezas sob a guia de uma estrela móvel que aparece e desaparece. O caminhos dos Magos é o do amor que, através da procura da inteligência e da revelação, da alegria e da adoração encontram quem desejam.  

Nesta passagem há uma divisão dramática que todos experimentam dentro si: arriscar-se ou não se arriscar no seguimento dos desejos do coração?  Os Magos chegaram a Belém porque se moveram e empreenderam um percurso de busca. Não ficaram nas próprias certezas, acomodados nos interesses pessoais. Não quiseram apenas ver, mas adorar. Os sinais que foram descobrindo no caminho fez com que sentissem “uma alegria muito grande”. Indica que estavam encontrando a quem buscavam. 

Quando encontram o Menino Rei puderam adorá-lo. Adorar foi o desejo que os colocou no caminho, os manteve perseverantes até chegarem à meta. Adorar significa “levar-à-boca”, beijar, em comunhão de amor e de respiro. Termina o caminho exterior e se inicia o caminho interior. 

Chama atenção que os Magos vem do oriente, unicamente com o objetivo de adorar o “rei que acaba de nascer”. Não vêm com pedidos e nem com reivindicações. Ainda mais, abrem “seus cofres e lhe oferecem presente: ouro, incenso e mirra”. Significativa é a reflexão do biblista Silvano Fausti sobre o significado destes presentes. “Os magos abrem o seu coração e oferecem aquilo que contém. O ouro, riqueza visível, representa aqui o que alguém tem; o incenso, invisível como Deus, representa aquilo que alguém deseja; a mirra, unguento que cura as feridas e preserva da corrupção, representa aquilo que alguém é. A realeza, a divindade, a mortalidade própria da criatura, tudo o que o ser humano possui, mas, sobretudo o que deseja e o que lhe falta, é o seu tesouro. Abre para Deus os seus bens, os seus desejos e as suas penúrias. E Deus entra em seu tesouro. Aqui está o “onde” o Filho é gerado pelo Pai. A carne de nosso coração se torna sua mãe. Dando-lhe o que são, os Magos recebem aquilo que é e se tornam eles mesmos semelhantes a Ele. Deus nasce no homem e o homem em Deus. Aqui se conclui a caminhada” (Silvano Fausti). 

A narrativa termina indicando que os Magos “voltaram para a sua terra, seguindo outro caminho”. O Ano Santo que está se concluindo tinha por desejo: “Que possa ser, para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, “porta” de salvação; com Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, sendo a “nossa esperança”. Depois do encontro vivo e pessoal com o Menino Jesus os Magos não eram mais os mesmos, sua vida tomou novo rumo. Voltam para a própria pátria e levam consigo um novo céu e uma nova terra, semente que os acompanha aonde quer que forem. Que o exemplo dos magos oriente nossa vida de peregrinos rumo a Deus. 

 

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