Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)

 

Queridos irmãos e irmãs,

No 4º Domingo da Quaresma, neste ano domingo próximo, dia 14, a liturgia da Igreja nos exorta à alegria. É o domingo “Laetare”, domingo da alegria, do reconhecimento de que Cristo nos salvou, isto é, “por Cristo, Deus nos reconciliou consigo mesmo” (1Cor 5,18). Eis o motivo central de nossa verdadeira alegria: somos reconciliados com Deus. O perdão de Deus, que nos foi outorgado por meio do sacrifício de Cristo na cruz, nos faz criaturas novas, tudo é novo, como diz São Paulo na Segunda Carta aos coríntios.

É bem verdade, que falar de alegria num tempo tão triste da pandemia que estamos vivendo parece contradição. Mas, acreditamos que Deus não abandonou o seu povo, os seus filhos e filhas. Sim, a pandemia não pode ser vista como castigo de Deus, nem que Ele tenha deixado de agir na nossa vida porque somos pecadores. A misericórdia do Senhor nunca deixou de acontecer, pois Deus ama e seu amor é eterno.

A alegria cristã, afirmava Paulo VI, é participação espiritual na alegria insondável, ao mesmo tempo divina e humana, que está no coração de Jesus Cristo glorificado” (Paulo VI. Exortação apostólica Gaudete in Domino, I). Esta alegria deve inundar nossos corações, pois a alegria é um fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5,22). Ela não é um sentimento passageiro, uma alegria fugaz e repentina, mas um dom estável por tudo o que significa a fé da Igreja na Revelação divina, na vinda de Cristo, Filho Salvador e no dom permanente do Espírito aos nossos corações (cf. Gl 4,4-6).

A alegria que deve inundar nossos corações é uma realidade que não se deve deixar morrer, nem diminuir, pois a presença do Espírito Santo em nossa vida nos conduz à comunhão com Deus. Meta de toda a nossa espiritualidade, a comunhão com Deus que nos alegra sempre é a força de que necessitamos para enfrentar todas as dores, os nossos sofrimentos, nossas decepções, nossas tristezas. Temos, na alegria cristã, a forte convicção de que nada poderá impedir Deus de realizar seu plano, que é um plano de amor, de reconciliação e de paz.

A Igreja, por sua vez, deve reconhecer, como o fez o Concílio Vaticano II, que a alegria é a primeira realidade de uma mirada aos homens e mulheres de hoje: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (CONCÍLIO VATICANO II. Constituição pastoral, Gaudium et spes, 1). Já o Documento de Aparecida nos apresenta a alegria de sermos discípulos missionários de Cristo: “Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor, ao nos chamar e nos eleger, nos confiou” (CELAM. Documento de Aparecida, 18). A alegria cristã, presente em nossos corações, se une à nossa esperança de um mundo mais justo, de uma primavera na Igreja onde todos, pastores e fiéis, sintam a alegria do serviço aos irmãos e irmãs. O mesmo Documento de Aparecida afirma, no número 29: “A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”.

 

 

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