O seu Joaquim era funcionário de um Banco. Certa noite, saindo do trabalho, percebeu que sua calça tinha um buraco. Com medo de não ter uma calça adequada, no dia seguinte, resolveu entrar numa loja e comprar uma calça nova. Como sempre, a calça estava bastante comprida, por ser ele de baixa de estatura. Sobravam sete centímetros. A balconista perguntou se queria que mandasse a roupa para uma costureira ajeitar no tamanho certo. Para isso, porém, deveria esperar até o dia seguinte, porque a loja estava fechando. O seu Joaquim respondeu que tinha três mulheres em casa e que, com certeza, ao menos uma delas podia ajeitar a calça. O homem chegou animado em casa e foi direto com a esposa, mostrou a calça nova e disse que precisava cortá-la uns sete centímetros. Por azar a mulher estava passando roupa e respondeu que estava muito cansada, não tinha certeza de ter tempo e vontade para ajeitar a calça do marido.
O seu Joaquim não desanimou, foi atrás da sogra, que também morava com eles. Gentilmente perguntou a ela se podia encurtar, em sete centímetros, a calça nova. A sogra estava assistindo à telenovela e respondeu com mau humor que deixasse a calça sobre o sofá, mas não garantia se ia costurá-la, ou não, naquela noite. Enfim o seu Joaquim foi atrás da filha pedindo o mesmo favor. Esta respondeu não ter tempo porque no dia seguinte tinha uma prova na universidade. O seu Joaquim, meio triste, foi dormir sem saber o que podia acontecer com a sua calça nova. Mais tarde a mulher dele percebeu que tinha sido grossa com o marido. Pegou a calça nova e cortou sete centímetros das pernas. A sogra, quando desligou a televisão, decidiu que afinal o genro não era tão mal e que precisava ser ajudado. Também cortou a calça. Por fim a filha, arrependida, achou por bem fazer uma boa ação e cortar a bendita calça do pai. Podemos imaginar o resultado de tanto serviço e o seu Joaquim foi trabalhar com a calça velha.
As três mulheres pensaram em ajudar, mas o resultado foi um desastre. O bem deve ser bem feito, de outra forma pode não ser tão bom como desejávamos.
Vale a pena refletir sempre sobre o mandamento de Jesus: “Amai-vos uns aos outros”. Não é um amor qualquer, não é uma simples boa ação, é muito mais: é um estilo de vida, o seguimento de um exemplo, e o testemunho que somos discípulos do verdadeiro Mestre.
É por isso que Jesus continua dizendo que a maneira certa de amar é a mesma com a qual ele nos amou. Total, radical, sem reservas. Quando limitamos o amor o matamos antes de nascer. Quando, por exemplo, decidimos amar somente os que nos amam, os simpáticos, os do nosso partido, da nossa igreja, os nossos bajuladores, não estamos vivendo bem o amor. Podemos até pensar que estamos amando e sendo amados, mas pode ser que isso aconteça por interesse, por vantagem, por negócio, ou mesmo por medo de arriscar algo mais da nossa vida. Mais uma vez, quando nos resguardamos demais querendo nos defender dos aproveitadores, corremos o perigo de nunca sair do nosso egoísmo, de nunca aprender a nos doar como Jesus, ou ao menos, sempre um pouco mais, além de cálculos e barganhas.
A situação não melhora muito se olharmos as nossas comunidades. Segundo Jesus o amor entre os discípulos deveria ser visível para todos: aos de dentro e aos de fora. Talvez seja mais fácil, às vezes, salvar as aparências, manter as boas maneiras exteriores, as palavras educadas e os sorrisos superficiais. Podemos sempre enganar os que olham de fora, mas e os de dentro? Seria enganar e mentir a nós mesmos. Está difícil, não está? Vamos desanimar e desistir? De jeito nenhum, ao contrário, maior é o desafio, maior deve ser a nossa determinação. Jesus nos aponta a “medida alta”, isto é: a meta, o ideal para que o desejemos, o almejemos, o sonhemos. Se tivesse pedido menos, já estaríamos todos conformados com os fracassos, as meias medidas. Seríamos cristãos remediados. Nunca desejaríamos o melhor. Jesus não brincava, porque conhecia o coração humano e a tentação da mediocridade. Para aprender a doar tudo, até a nossa vida, temos que aprender a dar sempre, cada vez um pouco mais, até alcançar a “medida alta” da santidade, do amor pleno como o de Jesus.
Talvez para isso precisamos “cortar” alguma coisa: o egoísmo, o comodismo, a indiferença. Quem vai ficar mais curto, nesse caso, é o nosso orgulho, mas o nosso amor vai crescer. Não como a calça nova do seu Joaquim.