Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
O tema da CF 2018 fala da superação da violência, questão social que deve ser assumida por toda a sociedade brasileira. Sabemos que a violência perpassa todos os níveis da sociedade, seja para ricos, seja para pobres. Encontramo-nos às vezes impotentes diante dos dados de violência, mas nós não podemos permanecer parados, porque acreditamos na superação da violência por meio da fraternidade, porque Deus nos quer irmãos e não rivais, e todos somos irmãos e irmãs, assim como nos relata o texto da CF 2018.
Queremos nos voltar ao Estado do Pará e na nossa região, Sul e Sudeste do Pará, em relação à CF 2018, sobretudo na questão da terra, e os conflitos nela existentes. Sabemos que algumas pessoas possuem muitas fazendas, terras imensas neste Estado grandioso da Amazônia. Muitas famílias não possuem terras. Sabemos também que muitos são os conflitos com as terras ligadas ao pequeno agricultor, agricultora, assentados, acampados e terras com os povos indígenas. No Estado do Pará, sobretudo em nossa região, Sul e Sudeste do Pará, é muito forte a mineração fazendo com que o pequeno proprietário tenha que vender ou sair muitas vezes de suas terras porque nela há minérios ou outros produtos de valor. Isso gera concentração de terras nas mãos de poucas pessoas, fazendo com que o pequeno agricultor não tenha o seu pedaço de terra. O Estado do Pará está voltando nas páginas do Brasil e do mundo, porque a situação da terra ainda não está bem resolvida. A questão dos assentados não está bem tranqüila assim, pois tivemos nesses últimos meses o aumento de violência no campo, como a Chacina de Pau D`arco, os despejos ocorridos em Marabá e aos seus arredores, os espancamentos das lideranças na terra, e também com os indígenas, de modo que levaram o Estado do Pará a ocupar o terceiro lugar em violência no campo e o primeiro lugar em agressões pelo agronegócio e latifúndio, segundo os dados da CPT Regional nesses últimos meses. Preocupa-nos a situação da terra, em vista de ter terra para todas as famílias e que haja fraternidade e amor no campo.
Em 2016 houve a expansão pela água, sendo este um bem dado para todos, mas que está sempre mais privatizado no campo. Segundo os dados da CPT houve o aumento nesses últimos anos de conflitos pela terra, mortes de lideranças, ativistas e prisões de lideranças e manifestantes. O poder público não se interessa pela demarcação das terras indígenas, o que é ordem da Constituição. Não se fazendo a demarcação das terras indígenas e a reforma agrária para os acampados a violência no campo tende a aumentar de modo que é preciso que o poder público olhe com maior carinho esses dados sociais, nessa nossa região. Estamos na Quaresma na qual somos chamados a uma vida de conversão do coração, da mente para que possamos realizar bem a Páscoa do Senhor, sejamos testemunhas do amor infinito de Deus neste mundo. Estamos refletindo a CF que visa à superação da violência, na qual devemos enfrentá-la para que sejamos irmãos e irmãs uns com os outros, assim como nos pede o Senhor Jesus Cristo. A questão da terra diz respeito a todos nós, porque é um bem criado por Deus, dado para todas as pessoas, de modo que todos devem possuir um pedaço de terra para ganhar o pão de cada dia. Ela não é de exclusividade de algumas pessoas. Vemos que os conflitos de terra no Estado do Pará e no Brasil estão aumentado e por isso somos chamados a superar a violência seja urbana, seja do povo do campo, da terra. O Senhor nos quer irmãos e irmãs (Cfr. Mt 23,8).
