A comunidade de Antioquia da Síria

O período que podemos chamar de ‘formação e conversão’ de São Paulo é situado pelos Atos dos Apóstolos nas cidades de Tarso na Cilícia, Jerusalém na Judéia e Damasco na Síria. Uma vez convertido, Paulo passa um tempo onde ele chama de Arábia, que seria o deserto ao sul de Damasco, pertencente na época ao reino dos nabateus (cf Gl 1,17).

Desta Arábia ele refaz o caminho, passando por  Damasco e Jerusalém e chegando de volta a Tarso, sua  cidade natal. Lá ele retoma a sua vida normal, junto da sua família, até o dia em que foi procurado por Barnabé. Barnabé vai a Tarso convidar Saulo para trabalhar com ele na formação da nova comunidade de Antioquia na Síria. Aqui se inicia uma nova etapa na vida do apóstolo, tendo Antioquia como ponto de partida. A cidade ficava à margem do rio Orontes e era a terceira do império, depois de Roma e de Alexandria do Egito. Quando Paulo foi para lá, era a capital da província romana da Síria.

O Livro dos Atos dos Apóstolos nos conta que depois do apedrejamento de Santo Estevão em Jerusalém, alguns discípulos de Jesus foram para a ilha de Chipre, e outros para a Fenícia, chegando até Antioquia, na Síria. Como todos eram judeus, no lugar em que chegavam, procuravam manter contato com os judeus. Em Antioquia, alguns que eram de Chipre e de Cirene e falavam a língua grega, dirigiram-se também aos pagãos. Muitos desses pagãos aceitaram o anúncio de Jesus Cristo e se converteram. A notícia chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém e seus dirigentes enviaram a Antioquia Barnabé, que também era de Chipre, para verificar o que estava acontecendo (cf At 11,19-26). Vemos aqui a primazia da Igreja de Jerusalém, a primeira sede apostólica, e sua perspicácia ao enviar Barnabé. Foram discípulos chipriotas, juntamente com os de Cirene, que começaram a evangelização dos pagãos em Antioquia. Ora, Barnabé era chipriota. No entanto, a questão mais importante estava  ligada à entrada de pagãos na comunidade cristã de origem judaica, ou na comunidade judeu-cristã. Mais do que uma grande alegria, tais conversões causaram susto e preocupação  aos dirigentes da Igreja de Jerusalém, sobretudo a Tiago, o Menor, muito ligado às suas raízes judaicas e que foi o bispo de Jerusalém.

Não foi fácil para os primeiros cristãos de origem judaica aceitar a convivência  com cristãos de origem pagã. Perdurava a idéia de que  um pagão primeiro devia se tornar judeu e depois cristão. Os primeiros judeus cristãos discutiam com os judeus não cristãos para saber quem era verdadeiramente discípulo de Moisés, ou seja, quem era verdadeiramente judeu.  A tribulação da Igreja de Jerusalém deu origem à Igreja de Antioquia. Barnabé pôde constatar a presença da graça de Deus entre os antioquenos e se alegrou. Como eram muitos os novos cristãos, Barnabé foi a Tarso pedir a Saulo que viesse ajudá-lo. Barnabé conhecia Saulo de Jerusalém. Talvez o tenha conhecido antes da conversão e sabia o valor daquele homem. Quando Saulo saiu de Damasco e passou por Jerusalém, foi Barnabé que o apresentou aos Apóstolos e lhes explicou o que havia acontecido com o antigo perseguidor. Muitos ainda tinham medo de Paulo que, no entanto, ia se tornando um intrépido pregador da Palavra (cf At 9,26-30). Pode-se entender a atitude de Barnabé para com Paulo tanto em Jerusalém como em Antioquia, quando dele se diz que era “um homem bom, repleto do Espírito Santo e de fé” (cf At 11,24). Paulo teve a graça de se encontrar com um homem assim, com tais qualidades. Barnabé, com sua bondade, o toma pela mão e o apresenta aos apóstolos, o toma pela mão e o leva à ação pastoral em Antioquia. Talvez valha a pena sublinhar as três qualidades de Barnabé que o tornaram apto à missão em Antioquia. Ele era gente boa, cheio do Espírito Santo e cheio de fé! Tais qualidades poderiam ser requeridas de todos nós, de preferência a outras, ao assumirmos qualquer missão na Igreja.

Cônego Celso Pedro
Arquidiocese de São Paulo

Tags:

leia também