A comunidade de Éfeso

De Corinto Paulo viaja para Jerusalém, passando por Éfeso, na província da Ásia. Participa do culto na sinagoga, anuncia o Evangelho aos judeus que lhe pedem para ficar mais tempo com eles, mas Paulo segue adiante. Priscila e Áquila, que viajavam com Paulo, ficam em Éfeso, enquanto Paulo segue para Cesaréia marítima, passa por Antioquia e sobe a Jerusalém onde acontecerá a primeira Assembléia apostólica, ou o primeiro Concílio.

A idéia de Paulo era criar em Éfeso um ponto estratégico para a difusão do Evangelho. Permanece na cidade até que Priscila e Áquila consigam se situar com moradia e trabalho e volta um ano depois, encontrando uma Igreja próspera, em pleno desenvolvimento e expansão.

Éfeso ocupa um lugar central em relação às comunidades já fundadas. Está a aproximadamente 445 kms da Galácia, de Filipos e Tessalônica; a 400 kms de Corinto. Boas estradas conduziam a Éfeso. Situada num vale entre dois montes, a cidade ostentava uma muralha de sete metros no topo do monte Pion. A muralha era antiga e tinha sido construída em 286 por Lisímaco.

Em Éfeso, Priscila e Áquila encontram-se com Apolo. As informações que dele temos nos Atos dos Apóstolos dão a entender que era um judeu convertido a Jesus Cristo, mas que só conhecia o batismo de João. Priscila e Áquila explicam a ele com mais exatidão o Caminho. Em Alexandria no Egito, Apolo tinha sido instruído no caminho do Senhor e no fervor do espírito. Duas belas expressões sobre a iniciação ao seguimento de Jesus. Apolo falava e ensinava com exatidão o que se referia a Jesus. É interessante ouvir os nossos primeiros falarem da Igreja como de um Caminho. O que entendiam por esta expressão? Aqui também se diz que Apolo só conhecia o batismo de João, o que significa que não conhecia o batismo na água e no Espírito. Não temos total clareza sobre o que acontecia naqueles primeiros dias do cristianismo. Vemos, porém, pessoas ativas, gente de convicção que empreende um Caminho e nele permanece. Chama também a atenção o fato de eles se conhecerem na sinagoga. Apolo fala na sinagoga com muita clareza e coragem e é ouvido por Priscila e Áquila que lá estavam. Percebemos que não existem exclusão nem rejeição da sinagoga da época. Os judeus, que aceitaram Jesus Cristo, aceitaram-no como a realização das esperanças de seu próprio povo e não como o fundador de uma nova religião. Os cristãos de origem judaica continuavam sendo judeus.

Apolo era um judeu alexandrino, inteligente, bem formado em retórica, discípulo de um grande pensador também judeu alexandrino chamado Filo. Cristãos de Corinto, tendo ouvido pregações de Apolo em Éfeso, convidaram-no a ir para a Acaia, o que acabou acontecendo. Quando Paulo voltar a Éfeso, Apolo já estará em Corinto, colaborando na formação daquela comunidade.

A comunidade de Éfeso é missionária. Se nem todos os seus membros são originários de Éfeso, é de lá que partem missões fundadoras de comunidade. Epafras tinha Éfeso como ponto de referência de suas atividades econômicas. É possível que aí tenha se convertido, voltando depois para a sua cidade de Colossas, no vale do rio Lico. Provavelmente Paulo mesmo o enviou para que evangelizasse o seu próprio meio. Foi também em Éfeso, na prisão, que Paulo conheceu Onésimo, escravo fugitivo de Colossas. Este conhecimento vai dar origem à carta a Filêmon, proprietário do escravo Onésimo, mas convertido ao cristianismo. Há missionários na cidade e sua posição geográfica propicia a expansão da fé. Éfeso não foi uma comunidade sem tensões e Paulo, que não fundou a comunidade, teve sérias dificuldades de aceitação. Pode-se perceber na carta aos Filipenses o sofrimento de Paulo com a comunidade de Éfeso e com os habitantes da cidade. O sofrimento é a marca de autenticidade da ação missionária. A oposição dos governantes romanos levará Paulo à prisão, para a tristeza de muitos irmãos na fé, mas também para a alegria de alguns outros, que dispensavam a presença de Paulo na comunidade.

Cônego Celso Pedro
Arquidiocese de São Paulo

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