Dom Benedito Araújo
Guajará-Mirim-RO
O conceito de símbolo integra-se no mais geral de sinal, que pode ser definido como um meio de conhecimento indireto, ou seja, como uma realidade que, ao ser conhecida, conduz ao conhecimento de outra. Essa realidade de sinal pode ser compreendida como ação, objeto ou situação. Portanto dentro da categoria sinal, podemos distinguir os sinais e os símbolos.
O que é um sinal? É um signo de primeiro grau ou indicador, isto é, funda-se na associação de dois conceitos unidos por um nexo natural ou convencional. (fogo/queima e Vermelho/pare).
O que é um símbolo? É um sinal de segundo grau. Na Grécia antiga, sym-bolon significava a reunião de dois fraguimentos de um objeto, cada um em poder de um indivíduo, a quem servia de contra-senha. A partir desta etnologia, o símbolo caracterizava-se como um sinal que combina dois aspectos da realidade: um objetivo; outro, subjetivo. A sua finalidade é formular uma experiência. Poderia definir-se como representação de uma ausência; de alguma coisa a qual não é possível chegar por outro caminho. Conforme a experiência, o símbolo pode evocar uma recordação (anamnese), produzir um desabafo (catártico), incarnar um anseio (profético) ou revelar uma presença (epifânico)1.
No campo religioso, o termo símbolo aplica-se tanto as formas concretas mediante as quais determinadas religião se explicita, quanto ao modo de conhecer, de intuir e de representar dados próprios da experiência religiosa.
Uma particularidade importante do símbolo religioso é o rito, que pode ser definido como ação simbólica, constituída de gesto ou palavra interpretativa.
O símbolo exerce, pois não apenas um papel matricial que o situa na origem de toda linguagem, mas ele intervém também como elemento mediador em todas em todas as relações que o homem entretém com o mundo que o cerca e com o outro, bem como naquelas relações que ele estabelece com o divino.
Confrontando essa concepção com as preocupações levantadas em torno da importância do símbolo no processo educacional, deparamos com tamanha complexidade, sobretudo vivendo num tempo em que o símbolo é visto como uma ameaça, retrocesso, algo desnecessário e portanto banalizado. A cultura da banalização do símbolo.
Uma das maiores críticas que se pode fazer ao nosso modo de celebrar, é não ser verdadeiro.
Para a nossa realidade cristã-formativa-presbiteral, alguns desafios são prementes:
A. Como articular na celebração o rito e o símbolo para que ambos não percam a finalidade e a experiência dos envolvidos?
B. Que linguagem usar?
C. Como apresentá-lo?
D. O que transmitir?
E. Como viver para chegar a ser significativos?
F. Onde está a autenticidade dos ritos nos símbolos e dos símbolos nos ritos?
É notável a mediação simbólica na religião e ao mesmo tempo a percebemos como um sistema de símbolos. A fé para encontrar sua corporificação na vida necessita dos símbolos, com isso a religião é a celebração simbólica da vida.
No congresso internacional para a vida consagrada, quando trata da capacidade simbólica com base na autencidade de nossa vida, afirma que: “como passar do tempo, perdemos a nossa capacidade simbólica. O mundo dos símbolos no qual vivemos pede-nos uma adaptação séria no âmbito da significação. A falta de imaginação ou o medo transforma-nos em meros conservadores de sinais já insignificantes ou de mero valor museológico ou folclórico. Faltam expressões apropriadas dos autênticos valores encarnados e vividos na vida consagrada” (nº 105)2.
Porém, o intrumentum laboris do sínodo sobre a vida consagrada já alertava que “a nossa vida desempenha no interior da sociedade uma função crítica, simbólica e transformadora” (IL 9).
Sabemos que a ritualidade é a linguagem própria da liturgia. Ela é ação feita de palavras, sinais, gestos, símbolos e movimentos impulsionados por uma força interior. Dessa forma, a graça de Deus e a atitude interior de fé se transformam em rito e em sinal sacramental. logo educar-se para uma ritualidade digna e expressiva, pressupõe mais do que limitar-se “ao mínimo necessário” em vista da realidade exterior com a atitude interior.
Vale recordar que “normalmente, as novas gerações recebem a tradição ritual dos ‘velhos’, ‘anciãos e anciãs’, da geração anterior. O problema é que séculos de racionalismo e tecnicismo ‘vacinaram’ contra os símbolos, os mitos e os ritos, por considerá-los ultrapassados, não ‘científicos’. E agora, são poucas as pessoas capazes de realizar e ‘curtir’ um rito, sentir prazer, vivê-lo em profundidade, deixando-se atingir por inteiro. Sobrou um frio ritualismo: liturgias realizadas de modo formal, sem alma, sem coração, sem prazer e até sem entendimento. Daí a necessidade de reaprender, de educar para a ‘ritualidade’ da liturgia, para a capacidade de viver as ações rituais ‘na inteireza do ser”3.
Podemos aprender com quem não perdeu ou recuperou a sensibilidade ritual: povos indígenas, grupos de afro-descendentes, devotos da religião popular e até com atitudes espontâneas da vida cotidiana.