A estrela desconhecida!

Dom José Gislon
Bispo de Erexim

 

Estimados Diocesanos! A nossa realidade cultural brasileira, composta pela miscigenação de raças e povos, transparece com força nas manifestações do nosso carnaval, principalmente nas celebrações de rua, onde muitas pessoas, por alguns “dias”, deixam de lado as agruras da vida, para viver um momento de glória, exaltado pelas cores das plumas, das roupas, das mirabolantes fantasias e dos carros alegóricos.

Além da identidade cultural regional, expressa nos vários ritmos, podemos observar a riqueza das manifestações artísticas do nosso povo, que não se deixa abater pelas mazelas sociais, frutos muitas vezes do descaso do poder público e da falta de políticas públicas que proporcionem saneamento básico, principalmente nas periferias das nossas cidades brasileiras.

Podemos pactuar com a política da indiferença, que fecha os olhos diante da degradação social, ética e moral do povo, nas mais variadas esferas da sociedade. Mas isso não vai nos manter imunes ou nos “blindar” da realidade que está ao nosso redor. Uma realidade despojada do brilho dos holofotes, das cores das fantasias, na qual a pessoa deixa de ser estrela, para ser José e Maria, em busca de trabalho, tentando prover o próprio sustento e o da família com o pão de cada dia.

O nosso povo, mesmo vivendo muitas vezes em situação de exclusão social, sabe ser criativo, e até irreverente, quando tem a oportunidade de apresentar-se, ser estrela e brilhar no palco da avenida, sob a luz dos holofotes, não da fama pessoal, mas no anonimato do figurante, que na passarela, ofuscado pelo brilho da fantasia, vive um dia de glória e manifesta a sua alegria de poder vestir uma fantasia.

Entre fantasia e realidade, podemos ter um grande abismo, onde a dignidade da vida está constantemente ameaçada pela falta de trabalho, de educação, de saneamento básico, etc. Mas a maior ameaça para todos nós, em todos os extratos sociais, pode vir da falta de respeito e amor pela vida. A banalização do dom da vida coloca a nossa sociedade num estado de fragilidade, em que o medo, a violência e a indiferença passam a dominar a nossa existência, não importa o brilho da fantasia que estamos vestindo.

 

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