Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador

            A felicidade de uma pessoa depende muito do modo como ela viveu o passado, vive o presente e viverá o futuro. No âmbito da língua portuguesa, saber conjugar corretamente os tempos verbais, não é tarefa fácil para muitos, especialmente, quando verbos complicados estão em questão. Saber conjugar a própria vida, de modo feliz, o passado, o presente e o futuro, torna-se tarefa ainda mais difícil, embora irrenunciável.

            O primeiro desafio é aprender a olhar o passado de modo justo. Viver preso a ele, ruminando situações tristes e sofridas, impede caminhar rumo à superação e a uma vida nova. Ao invés de negar ou sobrevalorizar o passado, pessoal ou familiar, é preciso olhá-lo com serenidade, reconhecer nele, com gratidão, as alegrias e os valores vividos e, ao mesmo tempo, assumir com humildade as limitações e as falhas próprias, com elas procurando aprender. Aprendemos isso com a história da humanidade e também com a história pessoal.

            Contudo, não pode faltar jamais o olhar para o amanhã. É preciso resgatar a esperança, refazendo a experiência da sua força transformadora. Ela nos anima a caminhar, a ultrapassar situações limites, rumo a uma vida nova e a uma nova sociedade. O ser humano traz consigo a capacidade de superar o passado, de transcender o aqui e o agora, olhando para a frente, recomeçando sempre. As experiências passadas podem ser importantes, porém, olhar para o futuro com esperança é fator decisivo na vida. A abertura ao amanhã e, a potencialidade para crescer e se desenvolver sempre mais, caracterizam a natureza do ser humano, orientada à plenitude de vida.

            A esperança torna-se ainda mais importante, hoje, em meio a tantas situações de dor e desalento, causadas pela pandemia. “Nunca percamos a esperança. Nunca deixemos que ela se apague nos corações”, afirmou o Papa Francisco, na sua visita ao Santuário de Aparecida, em 2013.  O fundamento dessa postura de esperança está em Deus.

            A esperança em Deus, a esperança fundada em Deus, não decepciona jamais. A importância da esperança fundada na fé é tão grande que mereceu ser tema de uma encíclica do Papa Bento XVI, a Spes Salvi.  Todo ser humano precisa de esperança. O cristão a encontra alicerçada na vitória de Cristo, na força do Ressuscitado; por isso, acredita no amanhã, acolhendo-o como dom de Deus e oportunidade de renovação e crescimento. Com a luz da fé, é possível, não apenas sonhar com o nascer do sol em plena noite, mas antecipar o próprio amanhecer.

            Quem vive da esperança, assume o presente com responsabilidade, pois sabe que irá colher aquilo que plantou, hoje, e que construir o amanhã livre, da pandemia, exige esforços e responsabilidade de todos.

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