João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros
A palavra como linguagem é uma das mais encantadoras características da espécie humana. A fala articulada das palavras é uma gigantesca jazida de ouro explorada há séculos. Se tomarmos a literatura – palavra escrita – entraremos numa floresta de espécies incontáveis: a literatura antiga, a contemporânea, e a literatura brasileira, na sua pequena história de pouco mais de quatro séculos. É de maravilhar a criatividade dos autores que recorreram à palavra para narrar, imaginar, fantasiar, instigar…
É possível deleitar-se com a autoridade daqueles que brilham no uso da palavra. Como não apreciar os poemas de Adélia Prado? Ou as canções do Chico Buarque, que brinca artisticamente com as palavras? E, sem qualquer comparação, as parábolas de Jesus, contundentes para despertar no ouvinte ou leitor um novo modo de agir.
É de se destacar, ainda, a palavra musicada, isto é, o canto. As canções expressam júbilo, dor, vitória, amor, esperança ou denúncia. Lembremo-nos dos discursos, ao menos dos grandes estadistas, que superam os tempos, cujas palavras incitam à esperança para construir a unidade de um povo e os ideais democráticos.
Em nossos tempos, por sua vez, destacam-se as redes sociais. Nelas, a cada momento, são lançadas uma avalanche de palavras, ora edificantes, ora ofensivas, com mentiras e incitação ao ódio. Observa-se que a rapidez das mensagens não possibilita a ponderação como exercício da inteligência e da prudência na comunicação. No silêncio da leitura pode-se não escutar o outro. Assim, as redes se tornam, pouco a pouco, lugares de discussões inflamadas e desrespeitosas. Pensadas para ligar, as redes sociais estão se transformando em espinheiros que ferem os que deles se aproximam.
Cumpre ressaltar, também, a palavra que está ao alcance de todos nos diferentes diálogos do cotidiano, seja para construir seja para destruir. Sempre me chamou a atenção, aliás, como as crianças aprendem a falar e logo sabem distinguir o tom das palavras elogiosas daquelas de xingamentos. Não é por acaso: as palavras podem, também, ser utilizadas como armas e com elas se pode ferir a dignidade da pessoa. O perdão, consequentemente, vai exigir a coragem de encontrar a palavra serena que reconstrói os fios rotos.
A palavra tem uma força que não é possível medir. Mas é necessário distinguir aquela dita por uma autoridade daquela que distraidamente usamos ao sentar-nos numa roda de amigos para prosear.
Todos precisamos nos perguntar sobre o uso que fazemos das palavras. Que força elas têm? A quem me dirijo? Quem me escuta? O que digo e quando digo? Uma coisa, entre tantas outras, é certa: quem foi investido de algum poder, seja religioso, militar, político ou outro, não pode fazer mau uso da palavra, pois a utilização inadequada da palavra por qualquer autoridade é desrespeitosa, não convence e faz estragos incalculáveis.