Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
“Sou humano, nada do que é humano me é alheio”! Assim se expressava o poeta Latino Terêncio nesta frase que pode ser subscrita por todo cristão, uma vez que reflete plenamente o sentido da Encarnação do Verbo Divino. No mistério natalino, brilha a bondade e amor compassivo de um Deus que se torna vizinho da gente, companheiro (quem partilha o pão) de caminhada de cada um de seus irmãos (ãs) humanos.
Quem compreendeu, profundamente, esta fascinante revelação de Deus na carne humana foi São Francisco que, apaixonado por Jesus irmanado com nosso destino, criou o primeiro Presépio na Noite Santa de Natal. Por isso, neste tempo, cada comunidade, oferece para contemplação dos fiéis um Presépio que na perspectiva de Francisco espelha a realidade e as expectativas do povo que aguarda o Salvador. Alguns irmãos, ancorados talvez em zelar pela integridade dos bons costumes, têm alertado sobre a presença de pessoas desqualificadas fazendo parte destes Presépios, como personagens indesejáveis.
Poderíamos nos perguntar se Jesus não veio para todas as pessoas e criaturas. Mas, certamente se escandalizariam mais com o que foi o cenário original. Por que Deus escolheu pastores como testemunhas do Nascimento de Jesus, pois era sabido por todos, que eram grosseiros, mentirosos, ladrões e violentos que não tinham nenhum crédito, e ainda atrair impuros e pagãos que estudavam as estrelas?
Se fosse hoje, cobrariam do trabalhador José não ter Plano de Saúde privado para dar cobertura a Maria, para que Jesus pudesse nascer numa maternidade cinco estrelas, não nos hospitais repletos e sem recursos do SUS. Mas, Jesus na sua teimosia, continua nascendo entre os pobres, pequenos e pecadores, gentalha para alguns, porém sinal inequívoco da infinita misericórdia de um Deus que quer salvar a todos (as) iniciando onde a humanidade está ameaçada, desprotegida e aviltada, para restaurar e chamar a todos ao seu convívio e nos dar a dignidade da filiação divina. Deus seja louvado!