Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
Desde as Epidemias que afetaram o Império Romano, peste bubônica, varíola e sarampo, a atitude dos cristãos se caraterizou pela sua solicitude e solidariedade com os empestados e infestados. Enquanto as classes dirigentes deixavam as cidades, inclusive médicos, como Celso, os cristãos ficavam para atender os pobres e vulneráveis.
Chamou à atenção do Imperador Juliano, o Apóstata, tal procedimento que, segundo ele, era a marca e o sinal de autenticidade verificado nas diaconias e obras sociais. Edificaram-se nosocômios, casas de acolhida e hospitais, sendo o mais antigo documento de regulamentação jurídica sobre estas instituições a Carta do Hospício de Aubrec, de 1162. Em 1112, um concílio impõe como Estatutos das instituições hospitalares as Constituições de São João de Jerusalém, adaptando-se a regra de Santo Agostinho para reger as congregações religiosas de assistência hospitalar.
Com o advento da grande peste bubônica, de 1348, que se prolongaria por quatro séculos, segundo o infectologista Stefan Cunha Ujvari, se construiu o dispositivo de combate e detenção da peste que fracassou no diagnóstico, atribuindo a origem, como Hipócrates, às miasmas e humores disseminados no ar, consolidou as normas de vigilância sanitária: quarentena, a primeira em Veneza; registro e acompanhamento dos contaminados, por quarteirão; confinamento e isolamento nas casas; barreiras sanitárias nos portões das cidades; equipamentos de proteção para médicos e visitadores (vestes de couro e máscaras em forma de bico com proteção ocular).
Dois Papas merecem destaque: Clemente VI, no início da peste, que puniu com excomunhão os que perseguiam os judeus atribuindo-lhes a culpa do mal; financiou médicos e enfermeiros para atender aos empestados, abrindo também cemitérios. Seu médico, Guy de Chauliac, estabeleceu, também, critérios científicos para o certificado e testagem da lepra exigindo sempre a presença de um médico.
Outro Papa que se destacou pela sua condução decidida e firme no que seria um dos últimos surtos da peste no Ocidente, foi Alexandre VII, que aplicou, com responsabilidade, as medidas já conhecidas impedindo a disseminação da peste em Roma que só chegou a uns 8%.
A respeito da vacinação, que foi a estratégia sanitária que venceu a varíola, com Jenner, o Papa Gregório XVI, no seu pontificado, permitiu a vacinação nos Estados Pontifícios e hoje, na atual pandemia, o Papa Francisco, que não só foi vacinado, mas defendeu o direito à vacina universal, e participou da imunização para os pobres e excluídos no Vaticano. Deus seja louvado!
								
								