Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

 

Quando a morte procurou por nós, a Igreja lhe apresentou o Cristo e disse: “Ele vive” e nós também viveremos. 

Não é bravura indômita nem grito de guerra, é herança recebida na madrugada de um Domingo longínquo no qual a morte tentou a última palavra, mas a Palavra já havia sido dada, porque é eterna. 

Ela, a Palavra, atravessou o tempo e ancorou no coração de Jó que brandou: “Eu sei que o meu redentor está vivo”, forjando uma memória indelével que se dissiparia pelas pradarias do mundo. 

Isaías, também contemplou o monte onde Deus prepara um banquete. Entre taças de vinho e pão partido em festa, ouviu-se a notícia que todos esperavam: “O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces”. É uma imagem de vitória e de consolo. A morte, que sempre tragou, foi tragada. O pranto, que sempre correu, foi recolhido; e, onde a morte reinava, é outro que reina agora. 

No peso dos dias, Paulo viu no campo da história um movimento decisivo e observou que o primeiro feixe de trigo erguido ao sol pode ser chamado de primícias. E, se o primeiro trigo se levanta, o campo inteiro o seguirá. A ressurreição não é fato isolado, mas é a lei nova que entrou no tempo.  

Desde a madrugada do túmulo vazio, o tempo tem outro ingrediente. A pedra rolou para dar forma à linguagem, para iniciar uma memória e reengendrar o mundo. O que parecia fim concluiu-se como passagem. O que chamávamos último tornou-se prólogo, e nossas casas, praças e cemitérios abriram-se para o evento da Páscoa. 

Cristo reina com autoridade que levanta, e seu reinar aprumou as coisas. A ferida encontrou cura; a culpa, o perdão; a noite, o amanhecer. Um a um, os antigos inimigos da humanidade vão perdendo. Por último, a morte também perdeu. O Filho devolveu tudo às mãos do Pai, e o mundo voltou a respirar como no primeiro dia. E, quando Deus for tudo em todos, não haverá sobra de silêncio para a morte se esconder. 

Jesus é o Amigo que chegou na escuridão e encontrou muitas janelas vigilantes. Não vigia quem desconfia; vigia quem ama. E o amor sabe ouvir de longe o passo de quem vem e quando a claridade da aproximação crescer na borda do céu, a lâmpada e a aurora se tornam uma coisa só no dia novo. 

Entre essas imagens caminha um povo de lamparinas erguidas, vigiando sem cansaço, porque sabe que o Esposo vem. E quando Ele chegar, tudo o que era pesado será leve, e tudo o que era breve vai durar. 

A morte não existe mais. Permanece, é verdade, a sua sombra comprida nos vales da precariedade. Mas quem atravessou a Páscoa sabe que sombra não tem substância; é só sinal de luz. Se ainda choramos, é porque o riso precisa nascer inteiro. E nascerá. 

Já começou! Começou naquela manhã em que o jardim foi a primeira igreja, e o nome pronunciado pela voz do Ressuscitado devolveu Maria Madalena ao tempo. 

Quando a porta do último dia se abrir “Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros”, como profetizou Jó. Não verei a morte, verei o Vivente. E, vendo-O, entenderei sem palavras que, desde sempre, era isso que o meu coração buscava quando chamava de morte aquilo que era esperança. Agora eu caminho leve, como quem sabe o caminho! 

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