Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
A ORAÇÃO DO ROSÁRIO (TERÇO) – IV
Caros diocesanos. Em mensagens anteriores refletimos sobre aspectos históricos do santo rosário (terço), apresentamos síntese da posição do magistério sobre esta forma de oração contemplativa, destacamos a atualidade desta forma de oração e externamos alguns aspectos orientativos sobre seu caráter bíblico-evangélico, cristológico, contemplativo e sua relação com a liturgia (cf. MC 42ss). Constatamos que esta forma de oração não se opõe à Liturgia, mas serve-lhe de apoio, visto que introduz nela e dá-lhe continuidade na vida quotidiana. O que a Igreja rejeita é rezar o rosário (terço) durante a ação litúrgica, paralelamente, como devoção particular (MC 48). É louvável a introdução de textos bíblicos em sua oração, referentes aos mistérios contemplados, com possível homilia, silêncio, cânticos, preces (MC 51), tornando-se verdadeira celebração da Palavra de Deus e enriquecendo a relação: oração-contemplação.
Hoje desejamos ainda fazer referência aos Mistérios da Luz, introdução feita por São João Paulo II, através da Exortação Apostólica Rosarium Virginis Mariae (16/10/2002). O próprio Pontífice expressa a motivação: “Para que o Rosário possa considerar-se mais plenamente ‘compêndio do Evangelho’, é conveniente que, depois de recordar a encarnação e a vida oculta de Cristo (mistérios da alegria), e antes de se deter nos sofrimentos da paixão (mistérios da dor), e no triunfo da ressurreição (mistérios da glória), a meditação se concentre também sobre alguns momentos particularmente significativos da vida pública (mistérios da luz)” (RVM 19).
Mistérios da Luz: Na verdade, todo o mistério de Cristo é luz. Ele é “a luz do mundo” (cf. Jo 8, 12). Esta dimensão emerge, sobretudo, nos anos da vida pública, quando Ele anuncia o evangelho do Reino. São João Paulo II destaca cinco momentos (Mistérios): 1o no seu Batismo, no Jordão; 2o na sua Auto-revelação nas Bodas de Caná; 3o no seu Anúncio do Reino de Deus; 4o na sua Transfiguração; 5o na Instituição da Eucaristia.
Batismo no Jordão: Cristo desce ao Jordão, entra na fila, como inocente que Se faz pecado por nós (cf. 2Cor 5, 21). O céu abre-se e a voz do Pai proclama o Filho dileto (cf. Mt 3, 17) e o Espírito vem sobre Ele para investi-Lo na missão que O espera;
Sinais em Caná (cf. Jo 2, 1-12): Cristo transforma a água em vinho e abre à fé o coração dos discípulos, graças à intervenção de Maria, a primeira entre os crentes. “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5) constitui o fundo mariano de todos os “mistérios da luz”;
Anúncio da Presença do Reino de Deus e Convite à Conversão (cf. Mc 1, 15): Jesus perdoa os pecados de quem a Ele se dirige, com humilde confiança (cf. Mc 2, 3-13; Lc 7, 47-48). Início do ministério da misericórdia, que Ele exercerá até o fim do mundo, especialmente através do sacramento da Reconciliação, confiado à sua Igreja (cf. Jo 20, 22-23);
Transfiguração do Tabor: A glória da divindade reluz no rosto de Cristo, enquanto o Pai pede que O “escutem” (cf. Lc 9, 35) e se disponham a viver com Ele o momento doloroso da Paixão, a fim de chegarem com Ele à glória da Ressurreição e a uma vida transfigurada pelo Espírito Santo;
Instituição da Eucaristia: Cristo Se faz alimento com seu Corpo e seu Sangue, sob os sinais do pão e do vinho, testemunhando “até ao extremo” o seu amor pela humanidade (Jo 13, 1), por cuja salvação Se oferecerá em sacrifício.
Maria acolha nossa oração do rosário (terço) e nos conduza sempre ao encontro de seu Filho Jesus. Amém!