Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
A Festa do Natal celebra o Deus invisível que deixa sua glória, seu esplendor e esvazia-se de sua condição divina para tornar-se próximo, semelhante e irmão da humanidade. Ele abaixa-se para elevar-nos. Se fez pobre para enriquecer-nos. Assim, a lição do Natal subverte toda lógica humana do êxito, do sucesso e da glória deste mundo. A glória do mundo passa, o esplendor do provisório é incomparável à glória humilde que Jesus Cristo revela.
A narração do nascimento de Jesus não retrata a criança como um herói. Este fato, relatado com tanta simplicidade, está no centro do mundo e da história. O Criador doa-se às criaturas. O Filho nos torna filhos, se faz nosso irmão. O fim último do ser humano é chegar a Deus. Sendo isso impossível, Deus mesmo, no seu infinito amor, vem ao encontro do ser humano.
Maria recebe em seus braços o Deus feito carne. No ver, ouvir, tocar e abraçar esse bebê, em Maria, a humanidade “toca” o infinito, “toca” Deus. Ele se coloca em nossas mãos! O Altíssimo se fez pequeno, o Onipotente, necessitado, o Imortal, mortal, a Palavra, se fez criança!
Deus, que é amor e hospitalidade, quer ser amado e recebido. Mas não encontra acolhida entre nós, somente no lugar dos animais: na manjedoura. Na verdade, ele encontrará lugar entre as nossas misérias, em nosso pecado, no meio de nossas necessidades para salvar-nos.
Na manjedoura está Jesus, silencioso. Está quase imperceptível. Não consegue falar, mas diz tudo. Não se mexe, no entanto, ao redor dele todos falam e se locomovem, discretamente, ele é o centro da cena. Dessa forma, Jesus se coloca no centro dos acontecimentos da vida, em todas as movimentações das pessoas. Mesmo que elas não saibam, ele está presente. O menino do presépio poderia parecer alguém secundário no fluxo dos grandes acontecimentos do mundo, entretanto, é ele um ícone inconfundível de que nele e por ele, tudo o que é considerado pequeno, pobre e simples no mundo, está, na verdade, no centro das atenções de Deus.
O nascimento de Jesus é um relato de extrema simplicidade. Por isso é universal. Mesmo que seja um grande mistério que nos visita, a proclamação desse nascimento é simples, acessível a todos que escutam, a começar pelos pastores de Belém. O Filho de Deus passará a maior parte do seu tempo na forma mais ordinária possível. Nasce, cresce e vive no meio de sua família e de seu povo. É Deus que se encarna e habita no meio de nós (Cf. Jo 1,14). Ele passará sua vida fazendo o bem. Nesta singeleza, repousa a densidade da mensagem do Menino de Belém: ele veio para servir. Ele entra na vida das pessoas e está atendo ao dia a dia, às necessidades básicas do ser humano: o pão, a saúde, a fraternidade, a vida! Ele reafirma a vida em abundância (Jo 10,10) que é mais forte que a morte.
