Dom Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba
O acontecimento extraordinário da Transfiguração na montanha, precedido das tentações de Jesus no deserto, são eventos que, de uma certa forma, antecipam o Mistério Pascal. O Senhor luta com o tentador no deserto e faz-nos compreender o inevitável duelo da Sua Paixão, enquanto que a luz do Seu Corpo transfigurado antecede a glória da Ressurreição: “E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz” (Mt 17,2). O tempo quaresmal, através destes dois eventos históricos da vida de Nosso Senhor, revela uma dimensão necessária para a nossa vida cristã: com Jesus no deserto, lutando contra o mal, devemos abraçar a dinâmica pascal nas diversas realidades do nosso cotidiano. Não devemos temer o mal e o sofrimento, pois o Senhor caminha conosco e Ele nos chama ao segredo da oração na montanha.
A Quaresma é um tempo especial para nos dedicarmos ao compromisso da oração. A simbologia bíblica da montanha é geralmente o lugar da proximidade com o Senhor. Ele nos chama à parte e nas alturas (Cf. Mt 17,1). A Transfiguração é um acontecimento de oração e um lugar que nos faz compreender quem é Jesus e qual o significado de Sua missão entre os homens. A vida moderna é bastante intensa, a todo tempo somos provocados a dizer que não temos mais tempo. Mas como é possível não ter tempo para estar com o Senhor, na oração?! Somente através da desta é que poderemos ser preparados para enfrentar o escândalo da cruz, como aconteceu com os discípulos, Pedro, Tiago e João.
O compromisso da oração cristã nos faz tocar a Carne de Cristo nos sofrimentos de nossos irmãos. Na Campanha da Fraternidade deste ano, que tematiza a Vida como dom e compromisso, a Igreja, comprometida com a Parábola do Bom Samaritano, nos motiva a ver, a sentir compaixão e a cuidar do próximo. Nossa profissão de fé deve inevitavelmente nos levar ao compromisso fiel de ajudar a todos que se encontram caídos nas estradas da vida. O serviço da caridade nasce da oração, do estar à parte com o Senhor. Nossa compaixão será sempre fecunda e transformadora se ela brotar de nossa relação próxima com o Senhor. Invoquemos a Virgem Mãe de Deus neste tempo de graças e de penitência, a fim de que nos auxilie a permanecer unidos com o Senhor na oração, e desta, partirmos ao encontro dos mais sofredores e pobres.
