A pregação nos padres da Igreja

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

 

            A pregação é uma das partes integrantes e importantes da liturgia da palavra e da eucaristia. Ela sempre ganhou fundamentação porque se trata de explicar a palavra de Deus para a realidade atual, de vida familiar, comunitária e social. É a transmissão da mensagem do evangelho de Cristo Jesus, no edifício de culto e tempo, a celebração litúrgica assumida por pessoas nas quais foi conferido este serviço[1]. Seguindo o mandato do Senhor Jesus Cristo, a igreja antiga prezou muito esta parte, na qual os santos padres recebiam uma formação e eram pregadores do povo de Deus, pela palavra e pelo testemunho de vida. Vejamos alguns deles a seguir.

            São Gregório de Nazianzo, Bispo do século IV falou da importância da pregação para o ser humano, sendo complexa e simples. Ele a via como arte das artes, a ciência das ciências, porque no confronto com o cuidado com o corpo, aquela da alma, reflete o quanto seja mais difícil, mais laboriosa a matéria para ser tratada. Se a medicina se volta sobre os corpos, em vista da cura dos males corporais, o esforço da arte médica supera a inteira dor. O cuidado pastoral se preocupa com a alma que vem de Deus e é divina participando à nobreza das coisas de lá de cima, ainda que esteja ligada ao elemento terreno, corpóreo que terá que lutar pelo bem, pelo amor. Desta arte médica São Gregório fala que são ministros, postos em autoridade. Ele via a importância de reconhecer e cuidar as paixões próprias dos ministros, os seus pecados e as suas limitações. Seria mais fácil falar dos problemas alheios que os próprios. Mas devem-se ver os próprios para superar os dos outros. O fato é que todo o empenho do ministro é a salvação da alma, bem-aventurada e imortal que será punida ou glorificada para sempre pelo vício, ou pela virtude. É muito importante a nossa luta e de quanta árdua seja a nossa luta para medicar e fazer-se medicar, para mudar a vida e para submeter à lama ao espírito[2].

            São Gregório Magno, Papa no final dos séculos VI e início do século VII, tinha presente a pregação feita com zelo no sagrado ministério. As almas humanas são alimento do Senhor, porque foram criadas para entrar no seu corpo, para servir quais membros dignos do seu corpo místico ao aumento da Igreja eterna. Para o Papa, os sacerdotes devem ser o tempero deste alimento. De fato quando o Senhor os enviou a pregar disse que eles eram o sal da terra (cfr. Mt 5,13). Assim como o povo é o alimento de Deus, assim os sacerdotes devem ser tempero deste alimento. Mas quando paramos de nos dedicar à oração e à santa reflexão, o sal torna-se sem sabor, não dando mais sabor aos alimentos de Deus, de modo que o Criador não o usa, porque não condiz para mais nada. São Gregório falou a importância das pessoas se converterem pela pregação que está sendo dada, que das suas ações perversas mudaram de vida pelas nossas exortações, que deu a penitencia, que abandonou os vícios pelos nossos conselhos. O ganho não é nosso, mas divino, porque o Senhor mesmo disse de empenhar-se até a sua volta (cfr. Lc 19,13). Neste sentido o que os ministros poderão apresentar a Ele, ao Senhor, quanto ganho nas almas, também pela pregação? Os ministros não poderão voltar ao Senhor com as mãos vazias pelo fato que assumimos a missão de pastorear o povo de Deus[3].

            São João Crisóstomo, Bispo dos séculos IV e V afirmou que a medicina do corpo trata das coisas corporais em vista da sua cura que pela ciência vai descobrindo os meios para ser eficaz. Para os ministros consagrados deve-se pensar além das obras, do bom testemunho que deve ser dado, está o método e o cuidado que é a palavra de Cristo. Este o instrumento, a dieta, o clima melhor, que está no lugar dos medicamentos, isso só deve chegar para a devida cura das pessoas. A palavra de Cristo ilumina todo o proceder humano e é claro deve habitar também em cada ministro, pregador da palavra do Senhor[4].

            Santo Agostinho, Bispo dos séculos IV e V falou da pregação como obra de caridade, para que a nossa ação seja também agradável a Deus. É preciso seguir a vontade de Deus, antes de seguir a nossa[5]. O bispo de Hipona falou da alegria de ensinar às crianças com amor fraterno, paterno e materno de modo que unidos com eles também aos ministros tais noções de Deus e da Igreja serão novidades. A palavra de Deus sempre vai renovando as pessoas e as coisas. Através da pregação será possível elevar os ânimos das coisas criadas, e levantar a admiração e ao louvor de Deus que tudo criou, isto consiste o fim do amor mais frutuoso. Os ministros devem alegrar-se sempre mais porque através deles, Deus seja conhecido da qual os ministros devem conhecê-lo sempre mais. Desta forma a pregação não poderá ser fria, mas se aqueça e se faça nova por ouvi-los. Todas as pessoas são chamadas à doutrina da salvação, quando é dada a graça aos ministros de conduzir a sua pregação no caminho da paz e do amor[6].

[1] Cfr. F. Fatti, Predicazione. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, diretto da Angelo Di BerardinoP-Z. Institutum Patristicum Augustinianum, Roma, Marietti, 2008, Genova-Milano, pg. 4257

[2] Cfr. Gregorio di Nazianzo, Il sacerdozio, 16-18.26.28-34. In: La teologia dei Padri, vol. IV, Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pg. 120-122.

[3] Cfr. Gregorio Magno, Omelia per la festa di um santo evangelista, In: Idem, pgs. 122-123.

[4] Cfr. Giovanni Crisostomo, Il Sacerdozio, 4,3. In: Idem, pg. 127.

[5] Cfr. Agostino, Come catechizzare i principianti, 1,20. In; Idem, pg. 129.

[6][6] Cfr. Idem, 1,7. In: Idem, pgs. 129-130.

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