Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Já disseram que a Igreja do século XIX teria perdido os operários. Perdido para as teorias marxistas. Sobretudo a juventude operária. Triste! Mas costuma-se dizer que a Igreja não perde seus fiéis: perde os infiéis, os que não eram suficientemente fiéis. Daí o exame de consciência necessário para ver de quem é a culpa da perda de tantos membros. Em períodos de graves crises, sempre se perdem alguns: é o efeito purificador das crises. Assim aconteceram nas guerras, nas pestes, nas crises na Igreja, nas heresias, etc.
Deus é quem julga de quem seria a culpa da apostasia ou esfriamento. Que nos incumbe é lutar para que não aconteçam defecções, mas que a fé seja robustecida nas crises, especialmente nessa pandemia pela qual estamos passando.
Essa crise serviu para purificar muitas pessoas, para fortalece-las na oração, na convivência familiar, nas reuniões de família em torno do seu altar doméstico. Mas também pode ter servido para esfriar a fé. Resta-nos a reconquista dos valores da fé. Creio que as três bases para a reconquista serão: a Santíssima Eucaristia, sobretudo a Santa Missa, a devoção a Nossa Senhora, vencedora das grandes batalhas de Deus e a instrução catequética.
No século XIX, período de grande crise, Deus suscitou um santo que se tornou o maior educador daquele tempo e modelo de todos os educadores. Estamos falando do grande São João Bosco, cuja festa celebraremos dia 31, com os seus filhos salesianos.
Estamos em Turim, Itália, na época do começo da industrialização, com o problema decorrente da imigração juvenil. Inundada de jovens procurando emprego, que nem sempre conseguiam, essa cidade oferecia ocasião para muitas desordens e perigos para essa juventude. É nesse contexto que entra em ação o Padre João Bosco, Dom Bosco, como se chamam os padres na Itália, como hábil organizador de iniciativas, implantando um fantástico sistema educacional que mais tarde se chamaria “sistema preventivo”, fundado na razão, na religião e na amabilidade. E assim ele reconquistou a juventude.
Enfrentando ataques violentos dos anticlericais, ele implantou o oratório festivo de Valdocco, enriqueceu-o de laboratórios artesanais e profissionais, com escolas de artes e ofícios para jovens trabalhadores e com escolas humanísticas para os jovens encaminhados ao sacerdócio. Para assegurar o futuro de sua obra, fundou a Pia Sociedade de São Francisco de Sales, os Salesianos, e, com a ajuda da Irmã Maria Mazzarello, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, das quais temos ilustres representantes em nossa cidade, dedicados à educação dos jovens. A eles e a elas a nossa homenagem e imensa gratidão.
Esse grande apóstolo da juventude, fecundo escritor de livros populares, sobretudo para os jovens, exemplo para todos os educadores, faleceu santamente em 31 de janeiro de 1888. Foi proclamado pelo Papa João Paulo II “pai e mestre dos jovens”. Que São João Bosco proteja a nossa juventude!