A ressurreição de Jesus nos traz a paz! Anunciemos que Ele vive! 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo emérito de Maringá (PR) 

 

Com o Domingo da Misericórdia, antigamente chamado de Domingo “in albis”, a liturgia do segundo domingo do tempo pascal apresenta-nos a comunidade de Homens Novos que nasceu da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. Essa comunidade, acompanhada por Jesus, ressuscitado, vive e testemunha no mundo a Vida nova de Deus. A Divina Misericórdia é a alegria de celebramos a eterna misericórdia de Deus para conosco (cf. Sl 117), que nos salva por seu amor infinito e desinteressado. 

Na primeira leitura – At 4,32-35 – o autor dos Atos dos Apóstolos deixa-nos, numa das “fotografias” que tirou à comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma comunidade onde todos vivem unidos à volta da mesma fé e onde o amor fraterno se manifesta em gestos concretos de partilha e de dom. Ao viver assim, a comunidade dá testemunho da Vida nova que recebeu de Jesus. A fraternidade e a piedade existentes na comunidade cristã geram verdadeira comunhão, “tudo entre eles era posto em comum”. Aqueles que fizeram experiência com o Ressuscitado e a Ele aderiram pela fé, agora deixam transformar suas vidas de acordo com seus ensinamentos – a fé que desperta o cristão para um indispensável compromisso de fraternidade. 

O Evangelho – Jo 20,19-31 – apresenta a comunidade da Nova Aliança, nascida da atividade criadora e vivificadora de Jesus. É uma comunidade que se reúne à volta de Jesus ressuscitado, que recebe d’Ele Vida, que é animada pelo Seu Espírito e que dá testemunho no mundo da Vida nova de Deus. Quem quiser “ver” e “tocar” Jesus ressuscitado, deve procurá-l’O no meio dessa comunidade que d’Ele nasceu e que d’Ele vive. 

Na primeira parte do Evangelho – Jesus manifesta-se ressuscitado aos seus discípulos. Após mostrar-lhes as chagas, que confirmar ser ele o crucificado, Jesus traz a alegria aos discípulos reunidos e dissipa as trevas do medo e da incerteza. Doa-lhes a paz e lhes confere a obra de continuadores de sua própria missão: a conversão e o perdão dos pecados. Para tanto, lhes concede o dom e a força do Espírito Santo. Na segunda parte do Evangelho – contemplemos a profissão de fé de Tomé. Ali é destacado: “Bem-aventurados os creram sem ter visto!”. Deixando uma clara mensagem aos fiéis de todos os tempos: “Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos (…) Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome”. Cristo ressuscitado se faz presente na comunidade que celebra e vive os valores por ele pregados e a torna capaz de proclamar: “Meu Senhor e meu Deus!”. 

A segunda leitura – 1 Jo 5,1-6 – recorda aos membros da comunidade cristã os critérios que definem a vida cristã autêntica: o verdadeiro batizado ama Deus, adere a Jesus Cristo e à proposta de salvação que Ele trouxe, e vive no amor aos irmãos. Quem vive desta forma, vence o mundo e passa a integrar a família de Deus. 

Nunca seria demasiado reafirmar o que disse São João: o amor para com os irmãos e irmãs é o critério fundamental para afirmar que estamos em comunhão com Deus, é a prova concreta de que o amamos. Amor e mandamentos de Deus vivem de mãos dadas, porque estes nos levam a amar. É a fé no Ressuscitado e a observância de seus mandamentos que nos tornam filhos e filhas de Deus. O amor é o maior testemunho cristão. 

Vivamos, intensamente, a experiência com Jesus ressuscitado, que está vivo no meio de nós e atrai nossa vida ao seu infinito amor. Pela profissão de fé em Cristo Ressuscitado, manifestemos a nossa confiança em sua força, que expulsa os medos que nos aprisionam e paralisam. Deixemo-nos ser tomados pela alegria pascal, pois o Senhor está no meio de nós! 

A Páscoa é tempo de acreditar, sem exigir provas que Jesus está vivo entre nós. Vivamos intensamente este tempo de esperança, transformação e alegria. De acreditar no testemunho de tantas pessoas que, antes de nós, se entregaram pelo mesmo projeto de Jesus, doando a sua própria vida para que os outros pudessem ter mais vida. Doar a nossa vida – sem nenhum preconceito – é a grande novidade deste tempo novo em que cantamos: Jesus ressuscitou verdadeiramente, aleluia, aleluia! Nós cremos, mas aumentai sempre a nossa fé! Por isso sejamos misericordiosos, sempre, sempre, sempre! Misericordiosos acolhendo a todos, todos, todos!  

 

Tags:

leia também