Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros
A comunicação humana tem um recurso fundamental: o ato de perguntar. É maravilhoso observar as crianças no momento em que elas começam a elaborar suas perguntas. Parecem encontrar na expressão “por que?” uma espécie de passagem para novas descobertas. Sabe-se que pouco a pouco elas vão diminuir a frequência das perguntas. A partir de então, é provável que esteja internalizado em suas estruturas de linguagem e pensamento, para toda a vida, o recurso de perguntar e, também, de se perguntar, o que cessará só depois do último suspiro.
A curiosidade e a contemplação são fundamentos da inteligência. O desejo de entender isto ou aquilo desencadeia muitas interrogações. É na procura por respostas que vai se construindo o conhecimento humano, que jamais deveria ser tolhida ou interrompida. É triste ver adultos cerceando o interesse das crianças em compreender algo novo que estão a perceber. Bendita seja a curiosidade das crianças que as projeta para fora de si e as coloca diante de novos horizontes. Para quem educa, sobretudo as crianças, talvez nada seja mais importante do que as despertar para que elaborem suas indagações. Isso não significa que todas as respostas serão encontradas fácil e imediatamente. No entanto, tal realidade, não deve servir de desestímulo para o hábito de perguntar.
Quem conhece os evangelhos há de se lembrar das muitas perguntas formuladas por Jesus em diálogos de grande densidade humana e espiritual. Talvez a mais pungente de todas as perguntas feitas por Jesus seja: “O que queres?” Com essa pergunta, Jesus chamava o interlocutor à experiência de si mesmo e ao compromisso de assumir seu desejo, sua busca, sua procura. De outra parte, Jesus não fugiu das perguntas que lhe apresentavam. Elas se tornavam oportunidade de ensinamento e de interpelações. Isso ilustra como a fé apela à razão e, também, como a razão pode ser iluminada pela fé. Ter fé, mais do que possuir respostas, é não ter receio de perguntar, mesmo quando o mistério pede silêncio e espera.
Fugir das perguntas é perder a chance de refletir e de ponderar, de encontrar a resposta, ainda que provisória. Impedir alguém de apresentar suas questões é reduzi-lo à condição de não-pessoa, ou seja, retirar dele o potencial de diálogo. Quando alguém diz que “é melhor não perguntar”, pode estar buscando o conforto de não ter de exercitar-se na conversação que descortina novos olhares e novas percepções. Os regimes autoritários, por exemplo, tendem a evitar qualquer forma de questionamento. Isso nos faz chegar à política compreendida como espaço fecundo para a arte do diálogo. Aqueles que governam precisam não apenas saber como lidar com as perguntas, mas, inclusive, precisam gostar de ser instigados à busca de respostas em favor do bem comum. E não podem se esquecer de que a sabedoria das perguntas contém a força profética da denúncia. No âmbito da política, quando se fala da “pergunta que não quer calar” emerge um forte indicativo de algo não respondido que está a corroer a confiança. E não se governa sem confiança, muito menos com respostas falsas ou com subterfúgios. As perguntas clamam pela sabedoria da escuta e pela verdade das respostas.