Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

 

  

              A Páscoa cristã celebra a ressurreição de Jesus Cristo crucificado. Sua Páscoa inaugura a Páscoa de todos os que se configuram a ele em vida. Quem nele crer, mesmo que morra, viverá eternamente. A Páscoa é uma data-base no calendário cristão, celebrada no primeiro domingo seguinte à lua cheia, depois do dia 21 de março, início da Primavera no Hemisfério Norte. A partir da Páscoa, determinam-se facilmente as outras datas móveis: o domingo de Carnaval ocorrerá, sempre, 49 dias antes da Páscoa, e o dia de Corpus Christi, 60 dias depois. 

               A importância dessa festa marca o Ocidente e o Oriente. Diversos símbolos, em diferentes culturas, celebram a ressurreição de Jesus. Existe uma simbologia própria da liturgia da Igreja: fogo, água e cordeiro, e outras simbologias, mais ligadas à nossa cultura brasileira: o ovo e o coelho.  Vejamos o significado desses símbolos.   

              No Sábado Santo, a Vigília Pascal é iniciada com a bênção do fogo, chamado de “fogo novo”.  Cristo é o fogo que ilumina, aquece e limpa. Ele ilumina a noite escura da morte que ameaça o ser humano. O fogo representa a vida nova que a ressurreição inaugura. O fogo também representa que Cristo veio limpar o mundo do pecado, da desesperança, do ódio e da morte.   

             A água é o símbolo da vida nova. Ela sacia a sede, sustenta a vida e lava. O Espírito de Deus, na origem do mundo, pairava sobre as águas. Nas águas do dilúvio, se prefigurou  o nascimento da nova humanidade. Os hebreus atravessaram o mar Vermelho a pé enxuto, para que, livres da escravidão, prefigurassem o povo nascido na água do Batismo. Jesus foi batizado nas águas do rio Jordão, e a da Cruz, que jorrou do seu coração aberto pela lança, do qual correu sangue e água. Na água se batiza em nome da Trindade. Tudo isso se refere ao novo nascimento que é a ressurreição a qual a água simboliza. 

               O cordeiro é o símbolo mais antigo da Páscoa. No Antigo Testamento, a Páscoa era celebrada com pães ázimos (sem fermento) e com o sacrifício de um cordeiro como recordação da libertação da escravidão do Egito, quando os hebreus comeram, às pressas, um cordeiro e marcaram as portas de suas casas com o sangue do animal.                

               Naquela noite, o anjo da morte não matou os primogênitos das casas marcadas. A Páscoa remonta à ideia da vida garantida para quem é marcado pelo sangue do Cordeiro.  Cristo foi imolado exatamente quando, no templo, os cordeiros estavam sendo sacrificados para os hebreus celebrarem a Páscoa. Ele, o verdadeiro Cordeiro Pascal, marcaria a vida de todos aqueles que são configurados a Si, para que não morram eternamente. Por isso, Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e vence a morte. Quem come de seu corpo e bebe de seu sangue (Eucaristia) mesmo que morra viverá, pois ele é a certeza da Ressurreição e da vida eterna.  

            Os ovos de Páscoa remontam à Antiguidade, quando os egípcios e persas costumavam tingir ovos com cores da primavera e presentear os amigos. Os cristãos primitivos do Oriente foram os primeiros a dar ovos coloridos na Páscoa simbolizando a Ressurreição, o nascimento para uma nova vida. Na Armênia, decoravam-se ovos ocos com imagens de Jesus, de Nossa Senhora e de outras figuras religiosas. Era um presente original simbolizando a Ressurreição como início de uma vida nova.  

             A tradição do coelho tem origem no antigo Egito, onde o animal simbolizava o nascimento, a vida. Como a Páscoa é comemorada no início da Primavera, e como o coelho é um dos animais que primeiro saem da toca depois do rigoroso inverno, traz o significado de que a vida continua, apesar da rigorosa desolação causada pelo frio. 

              Quando os coelhos saem de suas tocas na Primavera, trazem, consigo, uma porção de filhotes, reforçando, ainda mais, a ideia de que, apesar da tentativa do Inverno de destruir toda espécie de vida, o coelho sobrevive e traz mais vidas sobre a Terra.  

Toda essa rica simbologia remete a uma realidade muito maior que a Páscoa celebra: a morte foi vencida pelo Senhor da Vida.  

 

 

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