Bispo de Frederico Westphalen (RS)
Coroação de uma Vida de Sim Incondicional
A Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, celebrada em 15 de agosto, é uma das mais importantes festas marianas do ano litúrgico. Ela celebra a passagem de Maria, mãe de Jesus, desta vida para a glória do céu — não apenas em alma, mas também em corpo. A Igreja Católica professa que, por graça especial de Deus e em virtude da maternidade divina e da plena cooperação com a obra da redenção, Maria foi preservada da corrupção da morte e elevada, corpo e alma, à glória celeste.
O dogma da Assunção foi solenemente proclamado pelo Papa Pio XII em 1º de novembro de 1950, na constituição apostólica Munificentissimus Deus. Nele, o Papa afirma: “A Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta à glória celeste em corpo e alma.” Embora o evento não esteja explicitamente narrado nas Escrituras, a tradição da Igreja, desde os primeiros séculos, atesta a crença na Assunção de Maria. Padres da Igreja, como São João Damasceno (século VIII), já refletiam sobre o fato de que, sendo o corpo de Maria o templo do Verbo encarnado, seria inconcebível que fosse sujeito à corrupção.
Historicamente, a festa da Assunção tem raízes no Oriente cristão, onde era celebrada desde o século V com o nome de “Dormição de Maria” — uma tradição que enfatiza o sono suave de Maria antes de sua assunção. Com o tempo, a celebração se espalhou pelo Ocidente e consolidou-se como uma solenidade universal da Igreja.
A Assunção é, portanto, um sinal de esperança: antecipa a ressurreição final de todos os fiéis. Maria, como “primícia da Igreja”, já participa plenamente da glória prometida a todos os que seguem Cristo. Sua Assunção é a vitória definitiva sobre o pecado e a morte, fruto da redenção operada por seu Filho.
Na 1.a Leitura (Apocalipse 11,19a; 12,1-6a.10ab) a imagem poderosa do Apocalipse apresenta “um grande sinal no céu: uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça“. Esta mulher simboliza, ao mesmo tempo, a Igreja, o povo de Deus, e Maria, a Mãe do Salvador. A mulher está em dor de parto, representando o sofrimento do povo de Deus ao longo da história, mas também a geração de Cristo, a Luz do mundo.
O dragão, símbolo do mal e de Satanás, tenta devorar o Menino assim que nasce — uma alusão direta ao episódio de Herodes e à perseguição sofrida por Jesus e sua família. Mas o Menino é arrebatado para junto de Deus, e a mulher foge ao deserto, onde é protegida por Deus. Este texto revela o conflito cósmico entre o bem e o mal, no qual Maria, como figura da Igreja fiel, é protegida por Deus e levada à glória.
Na Assunção, vemos o cumprimento dessa proteção divina: Maria, a mulher fiel, é levada à presença de Deus, coroada como Rainha do Céu. Sua vitória é sinal da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte.
Na 2.a Leitura (1 Coríntios 15,20-26), São Paulo fala da ressurreição dos mortos como fruto da ressurreição de Cristo: “Cristo ressuscitou dos mortos, primícia dos que dormem”. Aqui, Cristo é o “primeiro fruto” da nova criação. A Assunção de Maria é o resultado direto da ressurreição de Cristo. Ela, como membro perfeito da Igreja e Mãe do Salvador, é a primeira a participar plenamente da vitória de Cristo sobre a morte.
São Paulo afirma que a morte entrou no mundo pelo pecado, mas será totalmente vencida por Cristo. A Assunção de Maria é um sinal antecipado dessa vitória. Ela, imaculada e sem pecado, escapa da corrupção do corpo — um sinal de que, na plenitude dos tempos, todos os fiéis ressuscitarão.
No Evangelho (Lucas 1,39-56) escutamos como Maria, grávida de Jesus, vai às pressas ajudar sua prima, e ao chegar, é saudada como “bendita entre as mulheres” e “mãe do meu Senhor“. O Batista, ainda no ventre, salta de alegria diante da presença de Cristo.
O Magnificat, o hino de louvor de Maria, é o coração deste evangelho. Nele, Maria proclama a grandeza de Deus, que derruba os poderosos e exalta os humildes, que sacia os famintos e envia os ricos de mãos vazias. A Assunção é o cumprimento desse louvor: Deus exaltou a humilde serva, elevando-a à glória do céu.
Este episódio mostra que a Assunção não é um privilégio isolado, mas fruto de uma vida de serviço, fé e humildade. Maria é exaltada porque se humilhou. Sua glória é o fruto de sua entrega total a Deus.
Como Viver a Devoção a Nossa Senhora
Celebrar a Assunção de Nossa Senhora não é apenas recordar um evento do passado, mas é um convite a imitar sua vida e acolher sua intercessão no caminho da santidade. Maria, assunta ao céu, não está distante de nós. Pelo contrário, como Mãe da Igreja, ela continua a interceder por seus filhos com amor materno e poderosa eficácia.
Viver a devoção a Nossa Senhora significa, antes de tudo, acolher o seu exemplo: a escuta da Palavra, a fé inabalável, a disponibilidade para a vontade de Deus (“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra“), e o serviço aos irmãos. Assim como Maria visitou Isabel com carinho e pressa, somos chamados a levar Cristo aos outros com gestos concretos de amor e solidariedade.
A devoção mariana também se expressa na oração, especialmente no Santo Terço, que nos convida a meditar os mistérios da vida de Cristo guiados por Maria. Ela é “estrela do mar”, que nos orienta na travessia da vida, especialmente nos momentos de tempestade.
Por fim, a Assunção nos enche de esperança. Se Maria, mulher como nós, foi elevada à glória celeste, também nós, por graça, podemos alcançar a vida eterna. Ela é o modelo da Igreja peregrina, que caminha na fé rumo à pátria definitiva.
