A Trindade, unidade eclesial e a vida humana

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá – PA

            Nós adoramos a Unidade em Deus e a Trindade das Pessoas. Buscamos a vida humana que esteja em unidade com Deus e ao mesmo tempo buscamos a diversidade das coisas, porque Deus é Uno e Trino. Primamos pela unidade neste mundo, com a família, com a comunidade e com a sociedade e também ressaltamos os carismas, os dons de Deus para viver esta unidade neste mundo e um dia na eternidade. Vejamos melhor estes pontos nos santos padres, que foram os primeiros escritores cristãos na vida da Igreja.

            Santo Agostinho, bispo de Hipona dos séculos IV e V, diz que o que é dito de cada um dos três em relação a si mesmo, não é dito no plural, mas no singular, pois é referente a uma única realidade: a Trindade. Por isso dizemos que o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. O Pai é bom, o Filho é bom, o Espírito Santo é bom. O Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente. Não são três deuses, três bons, três onipotentes, mas um só Deus bom e onipotente, da qual é a mesma Trindade. Todos os atributos referem-se à essência, visto que em Deus, o ser identifica-se com o seu grande, bom, sábio e outros atributos. Santo Agostinho coloca a perfeição e a igualdade no seio da Trindade que não somente o Pai não é maior que o Filho no tocante a divindade, nem o Pai e o Filho juntos são uma realidade maior que o Espírito Santo, e é claro qualquer das pessoas nem é inferior à Trindade. Para isso é sempre bom suplicar a Deus com devota piedade para que nos abra o entendimento, eliminando todo o espírito de contestação, para que a nossa mente possa discernir a essência da verdade, sem nenhuma alteração.

            O bispo de Hipona teve presentes os mistérios da Ressurreição do Senhor, a sua Ascensão, e Pentecostes na qual o Espírito deu o dom de falar nas línguas de todos os povos. As pessoas se uniram ao corpo do Senhor e na comunidade primitiva, pelo Espírito Santo ascendeu nas pessoas o amor espiritual mediante a caridade e o fervor do espírito, tornaram-se uma comunidade onde eram um só coração e uma só alma (At 4,32). O bispo convidou os seus fieis para reconhecer na vida eclesial o mistério da Trindade, isto é para afirmar que existe o Pai, o Filho e o Espírito Santo e as três pessoas divinas são um só Deus. Como aquela comunidade havia diversas pessoas, sendo um só coração e uma só alma o era nesta unidade em Deus. Ora, unindo-se a Deus, mediante a caridade, muitas almas tornam-se uma alma só, e muitos corações um coração só. Não será ali, com maior razão a Trindade um só Deus? Se, portanto a caridade de Deus, derramada nos nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5) faz de muitas almas uma alma só e de muitos corações um coração só, não serão por maior razão o Pai e o Filho e o Espírito Santo um só Deus, uma só luz, um só Principio?

            Ainda em Santo Agostinho temos a insistência de realizar a Vontade de Deus que é do Pai, do Filho e do Espírito Santo, pois, na Trindade não há que uma só vontade, um só poder, uma só majestade. Por isso o Filho diz que não veio para fazer a sua vontade, mas a vontade daquele que o enviou (Jo 5,30).

            São Jerônimo, presbítero dos séculos IV e V, falou das obras de Deus que não podem ser compreendidas pelo sentido do pensamento humano de modo que se segue a Escritura que diz que todas as obras do Senhor são conhecidas na fé (Rm 11,33). Se o nosso conhecimento das obras repousa mais sobre a fé que sobre a razão, quanto mais o conhecimento do Criador e do fundador de todas as coisas. A gente não sabe compreender o motivo pelo qual os meus pés se movem e a minha voz ressoa, porque o corpo obedece à vontade; Deus criou todas essas coisas para o nosso bem e o bem de todas as pessoas. Como é possível que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam os três juntos e também sejam um só Deus?!. Assim somos rodeados do mistério da Trindade que nem mesmo os anjos do céu possam perscrutar. Os anjos louvam a beleza de Deus, mas nada dizem sobre a sua essência. Devemos ser humildes e simples, porque quando se trata de Deus, de sua essência, nada sabemos. É a atitude de quem se coloca em adoração a Deus, por ser infinito e nós somos criaturas finitas. Jesus Cristo insistiu antes de sua volta ao Pai para que os discípulos andassem ao mundo e batizassem os povos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19). Pai, Filho e Espírito Santo são o único nome da Divindade. Por isso devemos reconhecer um só Deus na Trindade.

            Adoremos o Deus Uno e Trino para assim vivermos a paz, a alegria e a fraternidade em nossas vidas, na família, na comunidade, no mundo e um dia na eternidade.

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