Dom Severino Clasen
Arcebispo de Maringá (PR)
O ser humano é de corpo e alma. Tem a materialidade e espiritualidade. O visível, e o sensível. Nem tudo se vê, mas se sente. É como o ar, não vemos, mas necessitamos, produz vida. É nato no ser humano seguir uma religião. Mesmo os que se dizem sem religião, mas tem escondido dentro de si certa sensibilidade religiosa.
A encarnação de Jesus Cristo é a manifestação palpável da importância da religião que une a Deus, a um ser supremo, transcendente, imutável, invisível. A história milenar da cultura humana, sempre acompanhou a crença em Deus que conduz o povo, nos rumos da humanidade, imprimindo uma disciplina da humildade, do respeito, da flexibilidade na arte de viver com liberdade e segurança.
Em tempos de penúria, Deus se manifesta com gesto generoso, repleto de confiança, devolve ao necessitado os bens perdidos e o sustento retornam no lar das pessoas humildes, simples e tementes a Deus. “A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até ao dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra. A mulher foi e fez como Elias lhe tinha dito” (1Rs 17,10-16). A lição de confiança e fé de outra mulher pobre e temente a Deus foi elogiada por Jesus, a viúva dá esmola no Templo (Mc 12,38-44). A força da religião muda posturas de vidas, integra a pessoa na comunidade, testemunha uma vida simples e funcional nos momentos de escassez.
A religião praticada com sinceridade e humildade, humaniza a pessoa e distribui dons supremos que somente a fé explica e convence. A satisfação é o caminho que conduz para a superação e conquista dos bens necessários na vida presente e os dons da vida futura.
A atitude que justifica a vida espiritual, manifestada na prática da religião é a oração. Conversar com Deus na sua intimidade é um exercício de superação e de esvaziamento interior. Para celebrar o ano jubilar, o Papa Francisco ofereceu subsídios para fortalecer nossa intimidade com Deus: “A oração é o respiro da fé, sua expressão mais própria. É como um grito silencioso que sai do coração de quem crê e confia em Deus. Não é fácil encontrar palavras para expressar esse mistério” (Subsídios, número 1).
Em tempos de intimismo e desmotivação pelas organizações participativas na sociedade, as pessoas criam seus próprios mecanismos e descreem das instituições que fomentavam a unidade na partilha e na sensibilidade humana. Criam-se religiões, crenças isoladas, confrontam verdades absolutas, pois o absoluto é o que “eu penso”. O Papa exorta para intensificar em cada fiel a oração no Espírito Santo que nos une a Jesus e nos leva a aderir à vontade do Pai. O Espírito Santo é o Mestre interior que indica o caminho a seguir; graças a Ele, a oração de uma só pessoa pode se tornar oração de toda a Igreja, e vice-versa. Pertencentes a uma comunidade orante, onde o Esp írito Santo nos conduz a Jesus é a religião sincera porque não é conduzida pelas paixões humanas, mas pelo próprio Deus que envia o Espírito Santo para nos levar a Jesus que veio fazer a vontade do Pai.
A verdadeira religião é aquela que supera o egoísmo, o intimismo, o orgulho, as vaidades, a prepotência e experimenta a humidade e a simplicidade da viúva de Sarepta no Antigo Testamento e da mulher que depositou uma simples moedinha no cofre do Templo porque se sentia participante da religião que une a Deus conforme suas necessidades e capacidade de partilha. A generosidade desperta unidade e comunhão que justifica a verdadeira religião.