Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)

 

Caros amigos, iniciamos o mês de novembro, que encontra sua tônica espiritual na Solenidade de Todos os Santos e na Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. Iluminados pela fé, podemos encontrar nestas cerimônias o sentido pleno da alegria da comunhão dos santos e das lágrimas da saudade.

Ao celebrar todos os santos, a Igreja reconhece que a multidão de reconciliados (cf. Ap 7,9), ou seja, daqueles que estão no céu, é maior do que o número dos oficialmente reconhecidos nos processos de canonização. Existem pessoas que partem deste mundo com fama de santidade. Quantos mantiveram-se fiéis durante toda a vida e foram luz para nós! A Igreja nos ensina que os autênticos discípulos de Jesus estão agora unidos ao coro dos que contemplam a face de Deus, tornando-se para nós exemplos e intercessores, e esperando-nos com Cristo depois desta vida.

Mas é, sobretudo, na celebração dos fiéis defuntos que gostaria de me deter. O desejo de imortalidade e a dura realidade da morte sempre geraram no homem medo e tristeza. A realidade da finitude faz nosso coração estremecer, e ainda que a ciência médica faça crescer a longevidade biológica, ela nunca poderá apagar o anseio de eternidade inscrito no coração do homem (Cfr. GS 18). Somente na unidade plena com Cristo poderemos saciar nossa sede do eterno.

A liturgia do dia de finados aponta para uma realidade que supera a concepção intramundana que temos da morte. Cremos que a morte é um sono do qual somos despertados pelo próprio Senhor. A dor que sentimos ante esta realidade converte-se em esperança quando é posta à luz da ressurreição de Cristo. Para nós cristãos “a vida não é tirada, mas transformada e, enquanto é destruída a morada deste exílio terreno, é preparada uma habitação eterna no céu” (Prefácio dos fiéis defuntos). Assim, não é a morte que detém a última palavra, mas esta pertence à Vida!

Quando zelamos pelos sepulcros nos cemitérios ou oferecemos orações e sacrifícios pelos mortos, não comemoramos a morte, mas celebramos a vida dos nossos entes queridos que já estão em Deus. Professamos nossa fé na comunhão dos Santos, reconciliados em Cristo pelo Batismo!

A saudade é legítima! O próprio Senhor entristeceu-se quando morreu seu amigo Lázaro (Cfr. Jo 11, 30ss). Nosso pranto é motivado pela separação daqueles que amamos e pela certeza de nossa finitude. Não podemos perder a esperança, pois tudo isso que nos leva às lágrimas são as aparências deste mundo. Pela fé nossa tristeza é transfigurada pela certeza de que Jesus venceu a morte e que com Ele viveremos.

 

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